“É prematuro fazer uma avaliação [do que se passa no terreno], mas há efetivamente, e estranhamos muito, que o uso do fogo como ferramenta para o controlo deste incêndio não esteja a ser utilizado, ainda não ouvimos, é possível que tenha acontecido num ou outro ponto”, disse Rui Silva, em declarações à Agência Lusa.
Para este responsável, a criação de “faixas negras de proteção às zonas habitadas” e até mesmo utilizando nas melhores zonas de combate, como são as estradas e pontos de água “poderia resolver”.
Rui Silva salienta que há bombeiros formados no uso deste fogo, técnica que recorda foi “empregue no ano passado de forma bastante generalizada pelas forças espanholas”, estranhando o facto de não estar a ser usada no terreno.
“Em locais onde é difícil o combate com veículos e com água poderia ser a solução. Achamos estranho que não se verifique, pelo menos que tenhamos conhecimento desse uso. Poderia, em muitos locais, ser a diferença entre o fogo passar ou não passar a menos, a menos que esta informação nos chegue, até ao momento, ainda não a tivemos”, frisou.
O responsável defendeu ainda os bombeiros voluntários das críticas que têm vindo a ser alvo por parte das populações residentes nos locais afetados pelo fogo, considerando que estes têm feito “um esforço significativo” e que se não fazem mais é porque “apenas cumprem aquilo que determinam”.
“Se junto das populações não há essa presença, não é por decisão dos próprios bombeiros, é por decisão de quem está no comando e que são elementos da Autoridade Nacional da Proteção Civil”, apontou Rui Silva.
Segundo Rui Silva, dos 1.155 bombeiros que combatem o incêndio, mais de 900 são voluntários e na sua esmagadora maioria, só têm um equipamento de proteção individual para combate, “mas nem por isso nos colocamos em ‘bicos de pés’, questionando quem são afinal as ‘tropas de elite’ e os ‘amadores’ ou os investimentos efetuados e o retorno obtido”.
O responsável lamentou ainda que os bombeiros voluntários não tenham “o verdadeiro reconhecimento por parte do Estado”, alertando para o desinvestimento nas associações humanitárias de bombeiros voluntários há vários anos.
“No terreno são os únicos que dizem sempre presente e são sempre o maior e mais representado agente da proteção civil apesar do desinvestimento não só em viaturas, equipamentos de proteção individual, quarteis, mas também quanto ao estatuto social criado em 1995 que hoje praticamente não existe”, acusou.
O fogo que deflagrou em Monchique na sexta-feira já obrigou à retirada de pessoas de casas também no concelho de Silves, tendo a situação mais preocupante sido registada na zona de Falacho, segundo a Câmara.
Silves é um dos três concelhos do distrito de Faro afetados pelo fogo rural que lavra pelo quinto dia, desde sexta-feira, além de Monchique e Portimão.
No fim de semana as chamas chegaram a Odemira, no distrito de Beja, mas já foram apagadas no concelho alentejano.
Este fogo já fez 29 feridos ligeiros e um grave, queimou, segundo dados da União Europeia, 17.400 hectares em cinco dias.
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