Pântanos, charcos, lagos, rios e pauis fazem parte das designadas zonas húmidas, importantes para a conservação da biodiversidade e para a regulação do clima, ameaçadas pela pressão humana ligada à utilização do território. O Dia Mundial das Zonas Húmidas assinala-se hoje.

Em comunicado, a Zero considera que esta é "uma área da política pública de conservação da natureza que continua negligenciada" em Portugal e diz que é urgente um inventário nacional das zonas húmidas e um plano de mitigação dos efeitos das alterações climáticas nas zonas húmidas em geral.

Embora Portugal tenha 132.487 hectares onde ocorrem zonas húmidas protegidas no âmbito dos 31 Sítios que foram designados para integrar a Convenção de Ramsar, afirma a Zero que "13 dos 31 sítios designados não possuem plano de gestão e não existe uma gestão efetiva”.

A Zero considera ainda que o aumento da agricultura intensiva nas áreas contíguas ameaça seriamente os habitats específicos das zonas húmidas e o abastecimento de água e destaca ainda a proliferação de espécies exóticas invasoras e os defeitos das alterações climáticas como ameaça.

A negligência sobre as zonas húmidas tem impactos negativos em espécies nativas importantes, através da pesca ilegal mas também do turismo e da recreação. Também a agricultura industrial e a sua necessidade de mais barragens tem impactes negativos, afirma.

Para a Zero, é “particularmente incompreensível a situação da Região Autónoma Madeira”, pois, mais de 25 anos após a designação dos primeiros Sítios Ramsar portugueses, a Madeira ainda nem sequer indicou qualquer Sítio para designação no âmbito da Convenção de Ramsar.

A Zero termina o comunicado a recordar que as zonas húmidas desempenham um papel essencial na vida no planeta Terra, que são responsáveis por fornecer quase toda a água doce. A biodiversidade das zonas húmidas é fundamental, pois 40% de todas as espécies conhecidas de animais e plantas vivem e reproduzem-se nesses ecossistemas. São ainda uma defesa natural contra desastres (tempestades, inundações e secas) e desempenham um papel fundamental no armazenamento de carbono, refere a associação.

Comemorado desde 1997 e reconhecido pelas Nações Unidas em 2021, o Dia Mundial das Zonas Húmidas tem este ano como tema “Proteger as zonas húmidas para o nosso futuro comum”.

A Convenção sobre Zonas Húmidas constitui um tratado intergovernamental, aprovado a 02 de fevereiro de 1971 na cidade iraniana de Ramsar, pelo que o pacto é geralmente conhecido como “Convenção de Ramsar”, representando “o primeiro dos tratados globais sobre conservação”.

O pacto entrou em vigor em 1975 e conta atualmente com 169 países contratantes em todos os continentes, que já designaram cerca de 2.200 sítios de importância internacional.

Portugal, que o assinou e ratificou em 1980, tem 31 zonas húmidas classificadas como Sítios Ramsar, entre os quais os estuário do Tejo, Sado e Mondego, as Rias Formosa e de Alvor, as lagoas de Albufeira e de Santo André e da Sancha, os pauis da Madriz, Tornada e Boquilobo e os sapais de Castro Marim.

Nos Açores, a caldeira da Graciosa e o caldeirão do Corvo, o complexo vulcânico das Sete Cidades, as fajãs dos Cubres e da Caldeira de Santo Cristo e os planaltos centrais da Terceira e das Flores são outros dos locais classificados como Zonas Húmidas de Interesse Internacional.