A reunião entre Donald Trump e A.G. Sulzberger, que assumiu as funções de publisher do jornal 'The New York Times' (NYT) no início do ano, aconteceu a 20 de julho, após um pedido da Casa Branca.
A sessão, em que participou o editor da página editorial do NYT, James Bennet, foi mantida em segredo até Trump a tornar pública numa mensagem publicada na rede social Twitter na manhã deste domingo.
"Tive uma reunião muito boa e interessante na Casa Branca com A.G. Sulzberger, editor do New York Times", escreveu naquela rede social o presidente norte americano.
"Passamos muito tempo a falar sobre a grande quantidade de notícias falsas publicadas pela imprensa & como as 'Fake News' se tornaram 'Inimigas do Povo'. Triste!", acrescentou.
Num comunicado divulgado pelo NYT, Sulzberger disse que a mensagem do presidente torna pública a reunião e descreveu o que pareceu ser um encontro incomumente duro e contundente com o presidente.
"Disse diretamente ao presidente que acredito que a sua linguagem não apenas é divisiva, mas que é cada vez mais perigosa", relatou Sulzberger no comunicado.
A conversa acontece num momento de alta tensão entre Trump e a imprensa norte-americana, com o presidente a denunciar regularmente notícias críticas como "notícias falsas" ("fake news").
"Disse-lhe que, embora a frase 'fake news' não seja correta e seja prejudicial, preocupa-me muito mais que se rotule os jornalistas como 'o inimigo do povo'. Adverti que essa linguagem incendiária está a contribuir para um aumento das ameaças contra os jornalistas e levará à violência", acrescentou o editor do NYT.
Sulzberger afirmou ainda que, com alguns líderes estrangeiros a usar a linguagem de Trump para justificar repressões a jornalistas, isso estava "a pôr vidas em risco".
"Eu implorei-lhe que reconsiderasse os amplos ataques ao jornalismo, que considero perigosos e nocivos para o nosso país", disse o editor.
Trump já reagiu. Numa série de mensagens neste domingo à tarde, lançou novos ataques à imprensa. Segundo ele, os jornais é que "põem vidas em risco, não apenas a dos jornalistas... ao revelar as deliberações internas do governo".
"O falido New York Times e o Washington Post da Amazon não fazem mais do que escrever matérias ruins, mesmo em histórias de sucesso muito positivas, nunca mudarão!", escreveu Trump.
'Última oportunidade'
Sulzberger, de 37 anos, é o último de uma longa lista de Sulzbergers a liderar o jornal norte-americano. Quando ele assumiu o Times após vários anos como repórter, ou editor, Trump escreveu na rede social Twitter que a ascensão do jovem deu ao jornal uma "última oportunidade" de demonstrar imparcialidade e de informar as notícias "sem temor ou FAVOR".
Desde então, porém, tanto o jornal quanto outras fontes de notícias têm ecoado os problemas pessoais e políticos de Trump, e publicado os seus frequentes erros.
O presidente respondeu com ataques no Twitter contra o NYT, catalogando-o como um jornal "muito desonesto", "falido e corrupto" e assegurando que usa "fontes falsas e inexistentes".
Não está claro se o encontro entre Trump e Sulzberger levará a uma melhor relação entre a Casa Branca e a imprensa. A esse respeito, um ex-editor do NYT recomendou nas redes sociais: "Não tenham grandes expectativas".
Seja como for, as relações de Trump com a imprensa pioraram recentemente.
Na última quarta-feira, a Casa Branca proibiu Kaitlan Collins, da emissora CNN, de participar numa conferência de imprensa, alegando que a jornalista fez perguntas consideradas "inapropriadas" num evento.
Olivier Knox, titular da Associação de Correspondentes da Casa Branca, condenou a decisão como uma resposta "mal orientada e frágil" para lidar com uma jornalista que estava apenas a fazer o seu trabalho.
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