Com a legalização da prostituição, “as máfias deixam de ser punidas e deixam de ser consideradas organizações criminosas e passam a ser industriais do sexo”, disse Inês Fontinha aos jornalistas à margem Seminário de comemoração do 50.º aniversário de O Ninho

No seminário, onde foi homenageada pelo trabalho realizado na instituição de apoio a mulheres vítimas de prostituição, Inês Fontinha apelou ao cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, e aos partidos políticos para se comprometerem com “a dignidade humana” das “mulheres que são prostituídas” em Portugal e “no mundo inteiro”.

“O papa fez um apelo e denunciou o tráfico de mulheres para a exploração sexual, mas deixou de lado a prostituição”, disse à margem do seminário.

“É uma contradição muito grande” e “não faz sentido nenhum” porque vai legalizar “as máfias organizadas que traficam as mulheres e as meninas”.

Questionada se a Assembleia da República pode compactuar com essa legalização, Inês Fontinha disse ter muito receio de que possa vir a acontecer.

“A Juventude do Partido Socialista acha que é uma forma de dar dignidade às mulheres e defender os direitos humanos, legalizando a prostituição e transformando-a em trabalho, mas para mim é muito chocante”, disse Inês Fontinha que ajudou mais de 8.000 mulheres a deixarem as ruas.

Na sua opinião, há neste pensamento “uma grande dose de ignorância”. Como vem sobretudo de jovens “penso que terá a ver com o desconhecimento e não com reflexão”.

“A democracia não se compadece com incorreções tão graves à dignidade humana, nem com uma injustiça profunda em relação às mulheres, porque a prostituição é a maior violência exercida sobre seres humanos” e é “tornar as mulheres em instrumentos de prazer do homem”, defendeu.

Presente no seminário, o cardeal patriarca de Lisboa afirmou que “a prostituição é um problema que exige uma resposta”.

“Não precisamos nem devemos olhar para o lado e muito menos pôr a cabeça debaixo da areia”, porque “é uma questão que afeta muitíssima gente deste mundo e entre nós e que precisa de ser tomada como um problema”, disse Manuel Clemente.

Para o cardeal patriarca, a intervenção da associação O Ninho “é uma boa pista, é uma pista segura, e comprovada para a resolução de um problema que afeta diretamente a todos” e que merece uma resposta integral.

Também presente no encontro, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, deixou um agradecimento a todos os profissionais e voluntários que dedicaram a sua vida à “causa tão nobre de proteger os mais desfavorecidos e as vítimas deste flagelo social”.

Dirigindo-se a Inês Fontinha, Fernando Medina disse que “é um enorme privilégio para a cidade de Lisboa ter contado e continuar a contar” com o seu “empenhamento cívico” que deve servir de exemplo para os que hoje têm responsabilidade nas associações.

O Ninho foi fundado em Portugal em 1967, seguindo o modelo de O Ninho francês criado em Paris pelo Padre André Marie Talvas, em 1936.

Ao longo dos anos, tem tido “uma intervenção séria e coerente na denúncia da prostituição, das suas causas e consequências”.