Questionada pela agência Lusa sobre se, com tanta publicidade, as forças policiais não estarão de sobreaviso para impedir a medida, a porta-voz da plataforma respondeu que tal não a preocupa.
“Iremos travar o funcionamento do terminal de gás. É o que temos dito e é o que vamos fazer”, disse Catarina Viegas em entrevista à Lusa, acrescentando que o medo das forças policiais é muito menor do que o medo do futuro, que disse estar em causa devido ao aquecimento global, provocado pelo uso dos combustíveis fósseis.
Há vários meses que o movimento anunciou a ação para sábado em Sines e nas últimas semanas jovens ativistas da “Greve Climática Estudantil” têm ocupado estabelecimentos de ensino em vários locais do país, afirmando que só param quando tiverem 1.500 pessoas dispostas a participar na iniciativa de sábado.
No entanto até agora os jovens apenas conseguiram pouco mais de 200 assinaturas, algo que não preocupa Catarina Viegas, afirmando que a decisão do apoio partiu “Greve Climática Estudantil”, numa mobilização que considerou extraordinária, mas acrescentando que as pessoas que vão estar em Sines, de todas as idades e experiências, “são mais do que suficientes”.
Catarina Viegas não adianta muito sobre como vai decorrer a ação, explicando que vão sair autocarros de Lisboa, do Porto ou de Coimbra, e que o ponto de encontro será em Sines, para uma ação para a qual pede que as pessoas levem água e comida. E coragem.
“O que está sempre presente é a nossa coragem. Cada pessoa vem com essa consciência, com motivação. Os números não nos tiram a força”, afirmou a porta-voz, sublinhando que estão preparados para serem parados.
A responsável salientou que as ações serão sempre pacíficas, negando que esta seja uma luta de jovens, ou muito menos que a maior parte dos jovens não esteja solidária com a causa.
“Esta luta não é dos jovens, dos estudantes, só porque são a faixa etária que vai sofrer as maiores consequências das alterações climáticas, embora tenham sido os que menos contribuíram para elas. É uma luta da sociedade. Porque as consequências da crise climática estão aqui e não vemos planos para cortar as emissões necessárias de gases com efeito de estufa”, afirmou.
E a luta, “de coragem e audácia”, passa no sábado por Sines, “a principal porta de entrada do gás fóssil em Portugal”, uma infraestrutura que alimenta “o sistema de exploração e opressão no qual o lucro está no centro e não a vida das pessoas”.
Catarina Viegas chama mesmo ao terminal de GNL um “local de crime”, lamentando que se vão investir mais 900 milhões de euros em infraestruturas para gás natural, que na verdade é fóssil, e os “lucros absolutamente extraordinários” da Galp.
Nas palavras da jovem nem as empresas como a Galp têm planos para travar “as atividades criminosas” nem o Governo, porque o gás “continua a ser a aposta principal dos governos europeus e também do de Portugal”.
Na entrevista à Lusa a porta-voz disse que há décadas que há informações sobre os malefícios das emissões de gases com efeito de estufa (GEE).
“Já não estamos em tempo de negociação. A crise climática não é negociável. E não há forma de as mudanças acontecerem com negociações simpáticas, porque a crise climática não é simpática”, considerou Catarina Viegas quando questionada se não seriam possíveis outras formas de protesto e sensibilização em vez da ação de bloqueio de sábado.
É que, justificou, na atual situação do planeta é preciso parar as fontes de emissões de GEE com as mãos e o corpo. “Só uma mobilização coletiva pode parar este caos climático”, visível nas vagas de calor no mês passado em Portugal, nas inundações na República Democrática do Congo.
“Quando se ultrapassarem todos os limites vai ser muito difícil reverter esse caos, porque “não há uma adaptação ao caos”, avisou, referindo que o tempo é escasso e que “por isso são precisas mudanças rápidas e eficazes”.
O movimento “Parar o gás” tem como principal reivindicação eletricidade 100% renovável e acessível até 2025 e quer ver o fim da exploração do gás natural, que não é nem pode ser uma energia de transição. E promete mais ações como a que está programada para sábado em Sines.
Para já o terminal de GNL, que é “um ataque à vida das pessoas”, assente “num sistema capitalista devorador do bem-estar e dignidade das pessoas”, um dos pilares da crise do custo de vida, com a eletricidade a ser produzida por esse gás e a dar lucros aos acionistas.
E vale a pena tanto esforço? Catarina Viegas não tem dúvida nenhuma. “A crise climática não é abstrata, há países a sofrer as consequências. E vale a pena? Não há outra coisa que valha tanto a pena, não há uma luta mais importante do que esta”.
O movimento já pintou no passado recente as fachadas das empresas Galp e EDP como forma de protesto contra os combustíveis fósseis.
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