Não é uma luta exclusiva dos socialistas, mas é aqui que estão alguns dos exemplos mais mediáticos destas autárquicas. Depois da divisão com as fações António Costa e António José Seguro, estas eleições locais são as primeiras em que os irmãos desavindos se juntam ou se enfrentam nas mesas de voto.
A federação distrital de Braga do Partido Socialista acolhe vários casos de lutas entre socialistas e ex-socialistas. Neste distrito, Barcelos, Cabeceiras de Basto, Fafe, Póvoa de Lanhoso e Vizela são palco de alguns exemplos. O SAPO24 procurou ouvi-los. Nem sempre foi fácil. Nalguns casos impossível; noutros, foram os adversários quem nos ajudaram a chegar à fala com o candidato em rutura.
Eis o retrato possível de um noroeste socialista às avessas, começando em Matosinhos e acabando em Barcelos.
Barcelos. “A verdadeira proposta do PS sou eu”
PS: Miguel Costa Gomes (presidente da autarquia desde 2009)
ex-PS: Domingos Pereira (ex-líder da concelhia socialista e ex-deputado PS)
Domingos Pereira é candidato à Câmara Municipal de Barcelos por um movimento independente. Até há pouco tempo, porém, era militante, dirigente e deputado do Partido Socialista.
Agora, concorre contra o candidato oficial do PS. Perdão, "contra os outros não, por outros movimentos, naturalmente", conta-nos em entrevista por telefone. Mas não está a trair o PS? “Nem pouco mais ou menos. Na política acho que devemos agir de acordo com a nossa consciência”, explica.
“A comissão política concelhia de Barcelos aprovou o meu nome para me candidatar à Câmara com 92%, por voto secreto e também a federação de Braga do Partido Socialista ratificou por unanimidade o meu nome, portanto, eu estou mais do que legitimado pelos militantes e simpatizantes do Partido Socialista para ser o representante desse partido”, diz.
Todavia, se é Domingos Pereira quem “representa a verdadeira proposta do Partido Socialista e aquela que foi plasmada” nas reuniões locais, porque não é ele a encabeçar a candidatura do PS a Barcelos? “É um problema que a direção nacional tem de colocar. Eles agarraram-se a uma moção aprovada em congresso, uma moção é um documento de orientação política, nunca se pode sobrepor aos estatutos”, explica o candidato ao SAPO24.
“Entendo que o que deve prevalecer é o bom senso e os estatutos. Não foi isso que aconteceu, mas estou de consciência tranquila, o passado é passado”. Apesar de ser passado, há críticas a Miguel Costa Gomes, candidato escolhido pelo PS nacional. “O atual candidato do Partido Socialista e presidente da Câmara também era independente, não era militante e desvirtuou por completo os compromissos assumidos: retirou-me os pelouros, sem dizer nada a ninguém, por e-mail”, diz.
O SAPO24 falou com a campanha de Miguel Costa Gomes, que se escusou a comentar o passado. Para além disso, por motivos de agenda do candidato socialista a Barcelos, não foi possível ouvi-lo.
Nas Autárquicas de 1 de outubro, o atual presidente, Miguel Costa Gomes, volta, então, a ser o cabeça de lista do PS. Domingos Pereira, que chegou a ser o número dois de Costa Gomes, encabeça uma lista independente.
Mário Constantino Lopes (PSD-CDS), Ilídio Torres (Bloco de Esquerda), Mário Figueiredo (CDU) e Vasco Santos (Movimento de Alternativa Socialista) são os restantes candidatos.
Cabeceiras de Basto. “Saí do partido porque me empurraram pela porta fora”
PS: Francisco Alves (atual presidente)
ex-PS: Jorge Machado (ex-vice-presidente socialista no mandato de Joaquim Barreto, atual líder da Federação Distrital de Braga do PS)
Chegou a número dois da autarquia socialista de Cabeceiras. Agora, viu a candidatura denunciada pela concelhia do PS, o que levou à impugnação em tribunal, das listas do movimento ‘Independentes Por Cabeceiras’ (IPC), que hoje lidera. Dias depois, o tribunal aceitou a candidatura e Jorge Machado conseguiu manter o objetivo que não concretizou há quatro anos, também como independente: ser presidente da câmara.
As candidaturas do IPC tinham sido impugnadas pelo PS, por considerar que enfermavam de "um conjunto de irregularidades e ilegalidades".
Segundo o PS, quem assinava as declarações não sabia quem eram os candidatos.
O PS alegava ainda que o IPC tinha estabelecido uma “coligação material” com o PSD e o CDS, o que não é permitido pela lei eleitoral autárquica.
Numa primeira decisão, o Tribunal de Cabeceiras de Basto acolheu os argumentos do PS e rejeitou as candidaturas do IPC, mas este movimento independente recorreu para o mesmo tribunal, que acabou por validar as suas listas.
O PS recorreu para o Tribunal Constitucional, que posteriormente encerrou o assunto, viabilizando a ida a votos do IPC.
O Tribunal Constitucional refere que as declarações de propositura do IPC cumprem a lei e que “não há qualquer coligação” entre o movimento e o PSD e o CDS-PP, sublinhando que “nada obsta” a que um grupo de cidadãos seja apoiado por partidos.
Jorge Machado conta com o apoio do PSD e do CDS-PP, mas esclarece que não é “candidato contra ninguém. Muito menos contra os candidatos do PS”. Está na corrida por si mesmo e pelos cidadãos, que se juntaram numa plataforma multipartidária de entendimento permitida pela lei, explica por telefone ao SAPO24.
“Eu não saí do Partido Socialista, até porque não deixei de ser socialista. Eu saí do partido porque me empurraram pela porta fora. Como não me querem lá, sinto-me muito bem também fora do partido. Mantenho as minhas ideias, os meus princípios, mas fora do Partido Socialista”, diz Jorge Machado.
“Aceitei pacificamente essa decisão do PS de Cabeceiras e do engenheiro Barreto, que é o Todo-Poderoso do PS de Cabeceiras. E segui a minha vida. O PS fez parte da minha vida durante um tempo e agora não faz.”
Será um problema da Federação de Braga? “Não sei se isso tem alguma coisa a ver com a personalidade do Presidente da Comissão Política distrital do PS, com o seu jeito ou com a sua falta de jeito para estabelecer listas ou estabelecer consensos. Se tem ou não tem eu não me atrevo a julgar. Constato, sim, que o distrito de Braga se calhar é um dos distritos do país onde mais situações como esta se verificaram, portanto, cada um que tire as suas conclusões”, diz.
Ainda assim, ressalva, por detrás da decisão socialista não vê interesses obscuros. “Não, o que eu acho é que o PS... e se calhar não é só o PS, os partidos tradicionais não têm sabido lidar com as indicações e com as formas de escolha dos melhores candidatos para disputar eleições. Não sabendo lidar muito bem com essa situação, tem havido vários episódios do género de Cabeceiras e que levaram ao aparecimento de muitas candidaturas fora dos partidos.”
“Não vejo nisso nenhum drama, vejo até uma nova forma de vitalidade da vida política a nível local com a qual os partidos políticos vão ter de aprender a lidar”, conclui o candidato.
O SAPO24 tentou ouvir o socialista Francisco Alves, porém, até à hora da publicação deste texto, tal não foi possível.
A 1 de outubro, a Câmara de Cabeceiras de Basto será disputada pelo PS (Francisco Alves, atual presidente), IPC (Jorge Machado) e CDU (Manuel Nogueira).
Póvoa de Lanhoso. “Não temos nada a perder, estamos exatamente ao contrário, na defesa da nossa terra”
PS: Frederico Castro
Ex-PS: Lúcio Pinto (ex-vice-presidente e ex-presidente da autarquia de Vizela)
Lúcio Pinto foi o vereador socialista da Câmara Municipal de Póvoa de Lanhoso, entre 1992 e 2003, responsável por pelouros como Cultura, Educação, Atividades Económicas, Desporto, Fundos Comunitários, Obras Particulares, Património e Planeamento.
Em 2003, substituiu João Tinoco de Faria e tornou-se presidente da autarquia de Póvoa de Lanhoso, cargo que ocupou até ao final do mandato, em 2005. A saída do PS ocorreu já em abril deste ano, num processo que Lúcio Pinto distingue dos outros casos verificados em Braga. "Aqui a questão foi mais local e resulta de um processo de cisão mais antigo, que já é anterior às eleições de 2013, em que o próprio PS ficou dividido".
Lúcio Pinto explica que o movimento que hoje lidera, o 'Movimento Alternativa Independente' (MAI), "não resulta dessa cisão com o PS, pelo que acaba por ser um movimento um bocadinho diferente dos outros, acabando por abranger gente de todos os partidos", do CDS-PP à CDU.
Os militantes escolheram, o partido acatou. "Quem não se reviu nas escolhas, e foi claramente uma minoria, decidiu seguir outro caminho, mas não há nada de transcendente nisso", diz ao SAPO24 Pedro Silva, membro da direção de campanha do candidato socialista, Frederico Castro.
"Faz-me a pergunta em relação ao Partido Socialista, mas podemos dizer o mesmo em relação a outros partidos, nomeadamente ao PSD, em que há aí sim uma cisão interna em que vários dirigentes do PSD não apoiam candidaturas, e neste caso em específico que estamos a falar da Póvoa de Lanhoso, isso aqui é bem evidente", aponta Pedro Silva.
E se dúvidas houvesse de que o caso da Póvoa de Lanhoso é diferente dos restantes, eis que o nome de Joaquim Barreto surge também na conversa, porém, do lado do "dissidente". "Sou amigo e dou-me bem com ele e fiz parte da sua comissão política da Federação até 2012, depois fui-me afastando porque não me revia no PS a nível local - mas não houve guerra", explica Lúcio Pinto em entrevista.
Do lado do PS, Pedro Silva é igualmente peremptório: "Joaquim Barreto foi eleito de forma democrática e essa eleição tem de ser respeitada pelas concelhias e pelos militantes. Se os militantes não respeitarem esses resultados, têm de seguir outro caminho que não está dentro da família socialista." E reforça: "são situações que acontecem também nos outros partidos".
Assim, as divergências surgem não por desavenças a nível distrital, mas fruto de um confronto interno no preâmbulo das autárquicas de 2013, que levou à saída de vários militantes socialistas das fileiras do partido. Divergência talvez reforçada pelas primárias que levaram António Costa ao lugar de secretário-geral do PS, em 2015? Nem por isso.
"Posso-lhe dizer que fui apoiante do António José Seguro e o atual candidato do PS na Póvoa do Lanhoso também foi apoiante do António José Seguro, ainda que tenha estado antes com António Costa", explica Lúcio Pinto. "Na questão nacional até somos aparentemente do mesmo lado", acrescenta.
Nos prognósticos para este domingo, Lúcio Pinto traça o retrato: "O PSD está desesperado, o PS também está desesperado porque acha que esta é que é a grande oportunidade e nós estamos muito bem, não temos nada a perder, estamos exatamente ao contrário, na defesa da nossa terra.”
O atual presidente da Câmara de Póvoa de Lanhoso é Manuel Batista (PSD), que não se pode recandidatar, por força da lei de limitação de mandatos, pelo que o candidato social-democrata será, desta vez, Avelino Silva, presidente da Junta de Freguesia de Póvoa de Lanhoso.
Pelo PS, vai correr, então, Frederico Castro, um empresário de 40 anos e pela CDU concorre António Carneiro, para além do independente, Lúcio Pinto, pelo MAI.
Vizela. “A política é assim, o que é que a gente vai fazer”
PS: João Ilídio Costa (independente)
Ex-PS: Victor Hugo Salgado (ex-vice-presidente e dirigente nacional socialista)
João Ilídio Costa é um independente. Presidente da associação humanitária dos bombeiros locais, Ilídio Costa goza de algum prestígio em Vizela. “Sou um cidadão de Vizela sobejamente conhecido”, conta-nos ao telefone. “Desde sempre me convidaram para integrar projetos políticos, mas eu não quis”.
Ilídio Costa é o nome escolhido pela concelhia socialista depois de o atual presidente, Dinis Costa, se retirar da corrida. Envolvido num processo judicial em que está acusado de irregularidades nas obras dos atuais Paços do Concelho, Dinis Costa retirou a sua candidatura há poucos meses, passando a lista a ser encabeçada pelo presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros de Vizela.
“Já toda a gente estava no terreno, incluindo o Partido Socialista, com o atual presidente [Dinis Costa], por isso é que surgiu essa divergência entre ele e o vice-presidente [Victor Hugo Salgado], ou vice-versa.”, diz Ilídio Costa. “Acabei nessa altura por ser muito pressionado, decidi à última hora, exatamente uns minutos antes de eles terem de passar a informação para Lisboa, para a convenção que iria decorrer do Partido Socialista. Aceitei num espírito de missão.”
O vice-presidente era Victor Hugo Salgado. Convocou eleições na concelhia do PS Vizela para que os militantes escolhessem o candidato à Câmara. Perdeu. Dinis Costa teve 18 votos e Victor Hugo Salgado conseguiu apenas 14. Dinis Costa retirou, então, a confiança política a Victor Hugo Salgado e, consequentemente, os pelouros com a vice-presidência da Câmara. Depois do congresso do partido, no verão do ano passado, Dinis Costa foi o nome selecionado.
Porém, não é ele o candidato. A decisão foi revertida a cinco meses do ato eleitoral, para cumprir uma promessa feita em 2013, explicou o ainda presidente da autarquia vizelense quando indigitou João Ilídio Costa como cabeça de lista ao concelho.
A rutura estava consumada. De um lado um militante socialista, ex-adjunto de Vieira da Silva e deputado no Assembleia da República, que se candidata por um movimento independente. Do outro, um independente, com uma lista onde figuram alguns antigos autarcas do PSD, a encabeçar a proposta oficial do Partido Socialista a Vizela.
O problema, porém, não é de agora. Para evitar a rutura nas eleições de 2013, explica Victor Hugo Salgado, “aceitamos que ele fosse candidato, com o compromisso de que ele não seria mais candidato. Entretanto, [Dinis Costa] não só assume a candidatura, como ao longo dos últimos quatro anos tomou um conjunto de decisões por que nós, enquanto socialistas, fomos obrigados a dar a cara e com as quais não concordamos.”
E o “nós” aqui envolve vários ex-quadros do PS vizelense. “Posso dizer que o anterior presidente da Câmara apoia a minha candidatura, o atual presidente da assembleia municipal é candidato à assembleia municipal pelo meu movimento, grande parte dos deputados municipais do Partido Socialista integra a minha lista e todos os antigos deputados me apoiam”, assegura Victor Hugo Salgado. Já para não falar dos “presidentes da Junta do PS que exerceram funções nos últimos mandatos”, que também apoiam o candidato independente.
A culpa é das tais decisões com que os apoiantes de Victor Hugo Salgado não concordavam. Entre elas, o facto de Dinis Costa ter levado o filho para o gabinete. “O presidente da Câmara decidiu colocar o filho como assessor sem ter perguntado a ninguém, todos nós andámos a dar a cara pelo senhor presidente da Câmara, a elegê-lo e a apoiá-lo, e ele mal chega à Câmara coloca o filho e um conjunto de assessores dentro da Câmara e não nos perguntou sequer a opinião”, acusa Victor Hugo Salgado.
Ao SAPO24, a campanha de João Ilídio Costa reconhece o facto. Porém, esclarece que isso foi no início do anterior mandato e que “ambos [Dinis Costa e o filho] estão fora da política ativa neste momento”.
“Outra nota muito relevante”, acrescenta Victor Hugo Salgado, “é o facto de o senhor presidente da Câmara ter definido que o filho era candidato na lista de deputados pelo distrito de Braga sem nós termos conhecimento, enganando-nos a todos, tendo os socialistas de Vizela conhecimento desta decisão pela comunicação social.”
A rutura aproximava-se. “Para além da rutura que o senhor presidente da Câmara estava a levar a cabo na autarquia, Dinis Costa trata a Câmara e o PS como se fossem dele”. Assim, “os verdadeiros socialistas, vêem-se obrigados e forçados a apresentar uma candidatura na comissão política concelhia e, depois de perder, a apresentar uma candidatura independente.”
“Nós perdemos por cerca de quatro votos porque a comissão política da concelhia de Vizela é onde estão integrados o filho do presidente da Câmara, o chefe de gabinete, o sogro e a sogra do chefe de gabinete, a vereadora que está com eles neste momento, vários funcionários da Câmara, os dois adjuntos, a mulher e o filho de um dos adjuntos – o que quer dizer que em quarenta pessoas, grande parte está relacionada direta ou indiretamente, por laços profissionais ou familiares, com o senhor presidente da Câmara e por isso é que ele ganha estas eleições.”, acusa Victor Hugo Salgado.
Ganhas as eleições, e espoletada a rutura, Dinis Costa convidou uma equipa para concorrer. “Mas ao criar a equipa surgiu um nome melhor posicionado e que por unanimidade foi aprovado”, explica fonte socialista. É a tal equipa formada por João Ilídio Costa, o independente, que foi aprovado por unanimidade pela concelhia, adianta a mesma fonte, ligada a João Ilídio Costa.
"Conclusão", atira Victor Hugo Salgado, "como o senhor presidente da Câmara verifica que nós estamos com uma enorme mobilização, manda fazer uma sondagem, de que nós tivemos conhecimento, onde tem pouco mais de 10% do eleitorado. O que é que se verifica? Ele desiste e arranja outro candidato."
"Vai buscar um candidato de fora, que é totalmente independente e que já apoiou e fez discursos de apoio públicos à candidatura do então candidato Miguel Lopes”, acusa Salgado. “Esse candidato [João Ilídio Costa] vai preparar uma candidatura à Câmara Municipal de Vizela pela lista do PS, mas os candidatos não são do Partido Socialista e grande parte deles exerceu funções e foi candidato pelo PSD".
"Vou-lhe dar um exemplo", diz Victor Hugo Salgado. "O candidato do PS à assembleia municipal, Carlos Alberto, para além de ter sido candidato à Câmara, em 2001, foi candidato pelo PSD a uma das juntas de freguesia, era o presidente da comissão política do PSD local até há bem poucos anos e fez parte da estrutura distrital e nacional do PSD."
Na campanha socialista esclarecem-nos que Carlos Alberto não está na política ativa há 12 anos, mas confirmam que chegou a ser vereador pelos sociais-democratas na câmara de Lousada, ainda antes de Vizela se ter tornado concelho, em 1998. “Teve no passado ligações ao PSD e liderou o PSD local”, admite a mesma fonte, sublinhando o interregno de 12 anos.
O número três da lista à Câmara do PS é Horácio Vale, que, diz Salgado, “foi candidato pelo PSD a vereador em 2009.” Ao SAPO24, os socialistas explicam que foi candidato independente pela coligação PSD/CDS-PP em 2003, mas que não é militante social-democrata.
Já António Costa, “candidato a presidente da Junta de Freguesia de Santo Adrião foi candidato e presidente da junta quase duas décadas pelo PSD”, acusa Victor Hugo Salgado. Mais uma vez, fonte dos socialistas confirma, mas acrescenta que o candidato passou os últimos quatro anos afastado da vida política.
“O que se verifica é que há um conjunto de pessoas que foram do PSD e que são agora a sustentabilidade da lista do PS, porque os verdadeiros socialistas estão a apoiar-me”, diz Salgado. “Não há uma cisão, uma rutura com o Partido Socialista, há uma saída quase total dos socialistas e uma entrada de PSD's para tomar conta do partido e efetivamente apresentar uma candidatura que não passa de uma farsa porque de socialista não tem nada”, acusa o candidato do movimento ‘Vizela Sempre’.
“A mensagem que o Salgado tenta passar é a de que no PS é tudo do PSD; contudo, no meio de mais de 130 candidatos, apontar o dedo para duas pessoas que já não eram políticos ativos, acho um pouco demais”, diz um dos responsáveis pela comunicação da candidatura socialista.
“Aqui a questão de fundo é só uma”, continua Victor Hugo Salgado, “para além de termos o Dinis Costa, que foi a pessoa que destruiu o Partido Socialista do ponto de vista local em Vizela, temos uma pessoa que é o denominador comum à derrota do Partido Socialista nas próximas autárquicas em todo o distrito de Braga: o Joaquim Barreto”, o líder da federação distrital socialista.
“O Joaquim Barreto, durante o processo de preparação destas eleições teve uma reunião informal comigo e com o senhor Joaquim Meireles, que é o meu braço direito nesta campanha eleitoral e será o meu vice-presidente, e disse que eu poderia ser candidato ao PS se colocasse na minha lista a atual vice-presidente da Câmara, Dora Gaspar, com quem estou em rutura absoluta. Como não aceitei essa imposição, não fui candidato pelo Partido Socialista.”
Para além de João Ilídio Costa, pelo PS, e Victor Hugo Salgado, pelo movimento ‘Vizela Sempre”, a coligação PSD/CDS escolheu Jorge Pedrosa; a CDU indicou António Veiga e o Bloco de Esquerda escolheu Marco Almeida para a corrida à autarquia vizelense.
Matosinhos. “Não sou casado com o PS”
PS: Luísa Salgueiro (deputada, ex-vereadora de Narciso Miranda)
Ex-PS: Narciso Miranda (presidente da autarquia durante 27 anos); António Parada (ex-adjunto do Secretário de Estado das Pescas do PS)
Na terra do Senhor, vão três a votos. Narciso Miranda vê-se enfrentado pelos seus discípulos, Luísa Salgueiro e António Parada. Ela, deputada, é a escolha oficial do Partido Socialista. Ele, até abril adjunto do secretário de Estado das Pescas, é apoiado pelo CDS-PP.
Talvez seja preciso um pouco de contexto. Recuemos, então, a 2013. Depois de algumas convulsões internas, António Parada é o nome escolhido pelas estruturas locais do PS para a autarquia. Perdeu. A Câmara fica nas mãos de Guilherme Pinto, independente (com origem no PS), acabando com o feudo socialista de mais de três décadas. Guilherme Pinto, recorde-se, morreu no início deste ano.
António Parada, diretor técnico da Docapesca, candidatou-se nas autárquicas de 2013 pelo PS e, após 35 anos de militância no partido, decidiu desfiliar-se a 21 de abril em rotura com a Federação Distrital, nomeadamente com o seu presidente, pela forma como conduziu o processo de escolha do candidato do partido às eleições deste ano, a deputada Luísa Salgueiro.
Luísa Salgueiro é, então, a escolha do PS para Matosinhos e assume-se como “herdeira do legado do atual executivo, do trabalho que o Guilherme Pinto fez no executivo”.
Resumindo: Narciso Miranda e António Parada, ex-socialistas, candidatam-se contra Luísa Salgueiro, candidata oficial do PS, que se assume com sucessora legítima de Guilherme Pinto, ex-socialista que iria integrar a comissão de honra da candidatura socialista em 2017, apesar de em 2013 ter concorrido contra António Parada, então apoiado pelo PS. A liga-los está Narciso Miranda. Confuso? É porque é.
Não há casamentos para a vida, por isso, António Parada diz que não está a trair o PS. “Saí do PS, ponderei e só depois de estar bem fora do PS é que tomei a decisão. Sou leal, nunca traí ninguém”, explica-nos. Nem há sequer “nenhum tipo de clivagem com PS”, até porque, diz o candidato por telefone, é “amigo pessoal do secretário-geral [António Costa], por quem [tem] muita estima e consideração.”
“Traição é quem está dentro a fazer jogo duplo”, atira. “Eu não o faço”.
Luísa Salgueiro, porém, acha “incongruente que uma pessoa que até abril esteve a trabalhar pelas causas do PS, agora seja o porta-bandeira das causas do CDS”. Mais que incongruente, acha “incompreensível”, esta “traição aos valores”. “Ora, se António Parada foi até abril membro de um gabinete do PS, seguramente que até esse dia defendia os princípios do PS”, diz por telefone ao SAPO24, durante uma ação de campanha numa fábrica matosinhense.
“O CDS-PP entendeu só confiar em dois independentes no distrito do Porto, foi em mim e no Rui Moreira. Como deve calcular, para mim é um prestígio enorme colocar-me aqui no patamar do Rui Moreira e perceberem que ele é o melhor para o Porto e que eu sou o melhor para Matosinhos”, diz Parada.
Todavia, este não é um jogo de interpretações mútuas. Até porque Parada não conhece bem Luísa Salgueiro. “Ela é da Maia, conheço mal. Não tenho grande ligação com a senhora. Fez parte de uma lista minha na última candidatura, era a quinta da lista, aliás, pediu muito para ser, mas eu não lhe reconhecia qualidade e arranjei-lhe o quinto lugar e como tal não tive grande ligação com ela”, diz António Parada, que confunde o nome da adversária: “Nem sabia que ela se chamava Luísa Salgueiro, até confundo com Teresa Salgueiro”.
“Não me conhecia?”, pergunta Luísa. “Está bem. Fui candidata pela lista dele há quatro anos. Pronto, o senhor tomará as suas conclusões”, responde-nos a deputada socialista.
As quezílias, porém, são apenas um “confronto de opiniões”, diz Luísa Salgueiro. “Já nos encontrámos várias vezes e não há problemas, somos pessoas civilizadas e educadas”, conclui a deputada.
Ainda assim, há críticas a fazer. “A doutora Teresa Salgueiro – ou Luísa, não foi o que me disse? – esteve com o Narciso na vereação também durante oito anos, creio eu, e esteve com o ex-presidente da Câmara Guilherme Pinto oito anos.” – Guilherme Pinto foi eleito para três mandatos na autarquia.
O SAPO24 procurou também ouvir Narciso Miranda, todavia, até à hora de publicação deste texto não foi possível obter resposta.
Comentários