"250 gramas de magia e perfeição", foi assim que Emmanuel Macron descreveu um dos símbolos da nação, que recebeu esta manhã, o estatuto de Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
O pão, crocante por fora e macio por dentro, tem feito parte do dia a dia dos franceses. Mais de seis mil milhões vão ao forno todos os anos na França, de acordo com a Federação Nacional de Padarias Francesas, e o "estatuto de património cultural imaterial da UNESCO honra a tradição".
A baguete "marca toda uma cultura: o ritual diário, um elemento estrutural de uma refeição, sinónimo de partilha e convívio", disse a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay.
O estatuto chega num momento desafiador para a indústria panificadora do país. A França tem vindo a perder cerca de 400 padarias artesanais por ano. Passou das 55 mil (uma por 790 residentes), em 1970, para 35.000 (uma por 2.000 residentes), em 2022.
Este declínio deve-se à disseminação de padarias industriais e supermercados fora das cidades, fazendo com que os residentes urbanos optem cada vez mais pela massa sourdough (azeda) trocando as baguetes de presunto pelos hambúrgueres.
Os padeiros não ficaram impressionados com o novo estatuto da baguete. "Num momento em que a cozedura de pão atravessa uma crise sem precedentes, isto parece uma piada'', disse François Pozzoli, um padeiro premiado de Lyon.
“A farinha subiu 10-15 por cento, a manteiga à volta de 40 por cento e os ovos 50-60 por cento... os padeiros precisam de apoio", apelou Pozzoli.
Apesar do aumento dos custos de produção, continua a ser típico ver os franceses com um par de “paus”, ainda quentinhos, debaixo do braço à saída das “boulangerie” (padarias).
Os franceses fazem competições nacionais, onde a baguete é cortada ao meio para permitir que os juízes avaliem a textura cujo aspecto deverá ser aproximado ao favo de mel, e a cor do interior deve ser creme.
Apesar de ser uma peça aparentemente imortal na vida dos franceses, a baguete só recebeu oficialmente o nome em 1920, quando uma nova lei especificou o peso mínimo (80 gramas) e comprimento máximo (40 centímetros).
"Inicialmente, a baguete era considerada um produto de luxo. As classes trabalhadoras comiam pães rústicos que duravam muito mais tempo", disse Loic Bienassis, do Instituto Europeu de História e Culturas Alimentares, que ajudou a preparar o dossier da UNESCO.
"Mais tarde, o seu consumo tornou-se generalizado, tendo ganho bastante popularidade a partir dos anos 1960 e 70", disse Bienassis.
A história da baguete é bastante incerta, sobretudo quanto ao seu comprimento. Alguns dizem que os pães longos já eram comuns no século XVIII. Outros acreditam que se deve à introdução de fornos a vapor pelo padeiro austríaco August Zang na década de 1830.
Uma história popular diz que Napoleão ordenou que o pão fosse feito em palitos finos para que fosse mais fácil para os soldados transportarem.
Outra história, liga as baguetes à construção do metro de Paris no final do século XIX e à ideia de que as baguetes eram mais fáceis de partir e partilhar, evitando discussões entre os trabalhadores e a necessidade de facas para cortar o pão.
A França submeteu o pedido de avaliação à UNESCO no início de 2021.
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