Biden tem recebido críticas nos Estados Unidos quando viajou à Arábia Saudita, em julho, e cumprimentou com uma "palmadinha nas costas" o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, apesar de ter prometido anteriormente que iria classificar o reino num "Estado pária" por causa do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.
Mas Riade renegou a visita, motivada pelo petróleo, apesar de Washington justificar a mesma pela "multiplicidade de interesses comuns".
Na semana passada, a Opep+, que reúne os 13 integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), liderados pela Arábia Saudita, e outros 10 parceiros liderados pela Rússia, decidiu reduzir as suas cotas de produção, aumentando as receitas para Moscovo, no momento em que realiza a ofensiva na Ucrânia, e elevando os preços dos combustíveis nos Estados Unidos antes das eleições de meio de mandato em novembro e que são cruciais para Biden.
A medida dos sauditas foi como um murro no estômago para Washington. A administração Biden ficou exposta a represálias no Congresso por legisladores democratas, que reivindicam o congelamento das vendas maciças de armas para Riade, um dos principais beneficiários da ajuda militar americana no mundo.
Além disso, há vozes dentro da oposição republicana que estariam dispostas a apoiar possíveis medidas contra a Opep+.
No domingo (16/10), o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse que Biden não agirá "precipitadamente" ao reavaliar a relação com a Arábia Saudita. Também assinalou que o presidente americano "não tem planos de se reunir com o príncipe herdeiro" Mohamed bin Salman, na cimeira do G20, que acontece na Indonésia, em novembro.
Russell Lucas, especialista em Médio Oriente na Universidade Estadual de Michigan, afirma que os Estados Unidos poderiam pelo menos reduzir as vendas de armas aos sauditas, "que terão dificuldade para conseguir fornecimento bélico de outra parte".
Em contrapartida, todas as tentativas anteriores dos Estados Unidos de se distanciar da Arábia Saudita - inclusive depois dos atentados de 11 de setembro de 2011, nos quais a maioria dos terroristas eram cidadãos sauditas - depararam-se com um obstáculo importante: o petróleo.
Apesar das ações recentes com o objetivo de travar a mudança climática, os Estados Unidos ainda estão a décadas de serem imunes aos aumentos dos preços do petróleo.
"A noção de que aumentar a capacidade americana deixaria-nos blindados deste tipo de decisões tomadas pelos produtores de petróleo no exterior é, evidentemente, falsa", opinou Annelle Sheline, investigadora do Instituto Quincy, que defende um posicionamento mais firme com os sauditas.
"Vamos sempre depender desses países enquanto continuarmos dependentes do petróleo", disse. Contudo, a investigadora realçou que a própria Arábia Saudita sai prejudicada ao deixar de ser a fonte "previsível" de petróleo dos Estados Unidos.
A Arábia Saudita insiste em que a decisão da Opep+ foi unicamente económica e declarou que as vendas de armas dos Estados Unidos servem os interesses dos dois países.
O reino votou com os Estados Unidos na quarta-feira (12/10), durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, para condenar as anexações de partes do território ucraniano pela Rússia.
No entanto, para Bruce Riedel, do Instituto Brookings, a redução da produção de petróleo foi uma ação clara de intervenção eleitoral do príncipe herdeiro saudita em nome do Partido Republicano do ex-presidente Donald Trump.
O antecessor de Biden, acérrimo partidário dos sauditas, gabava-se de ter salvado Bin Salman depois da inteligência americana ter descoberto que foi ele quem autorizou o assassinato de Khashoggi, o jornalista saudita com cidadania americana e colunista do Washington Post, que criticava o príncipe.
"Uma coisa que sabemos pelo padrão de comportamento de MBS [Mohamed bin Salman] é que ele adora o drama", disse Riedel, ao acrescentar que o príncipe também estava a "enervar" Donald Trump.
A associação entre Washington e Riade, selada após o fim da Segunda Guerra Mundial basicamente como uma troca de petróleo por segurança, nunca foi uma aliança de coração e está muito mais relacionada a uma questão de conveniência.
"Os Estados Unidos continuam a precisar dos sauditas, por mais odioso que isso possa parecer", disse Stephen Cook, especialista do Council on Foreign Relations, ao defender uma "aproximação realista" com Riade.
"Além disso, os Estados Unidos precisam de levar a sério a política energética. Se tivéssemos tido [uma política energética] nos últimos 40 anos, não estaríamos nesta situação", frisou Cook.
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