Os biólogos autores do estudo que serviu de base à decisão do Ministério do Ambiente de limitar o número de visitantes nas Berlengas afirmam que o excesso de pessoas tem como danos a “perturbação da avifauna nidificante”, bem como o “pisoteamento da flora”, de acordo com uma nota da Universidade de Aveiro, hoje divulgada.
Um número excessivo de visitantes provoca também “risco de disseminação da flora exótica por transporte de sementes, pólen e fragmentos vegetativos agarrados ao calçado e roupa, lixo atirado sem cuidado, poluição orgânica na praia e águas circundantes, destruição e vandalização dos equipamentos de acolhimento aos visitantes e pressão sobre os sistemas de abastecimento de água doce e de recolha do lixo”.
A decisão do Ministério, cuja portaria foi publicada em Diário da República a 22 de maio, foi baseada num estudo encomendado em 2010 pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e desenvolvido por Henrique Queiroga e João Serôdio, biólogos do Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro.
O estudo recomendou um número máximo de 500 visitantes diários, condicionado à requalificação do sistema de tratamento de águas residuais para uma capacidade de 500 equivalentes populacionais.
“Considerando a rotatividade média dos diferentes perfis de visitantes, o valor de 550 visitantes em simultâneo pode provavelmente corresponder a mais de 700 pessoas a visitar a Ilha da Berlenga diariamente, número a que se deve adicionar o pessoal de apoio ao turismo, residentes temporários e representantes das autoridades”, explica Henrique Queiroga.
Para aquele investigador, isso pode elevar o número máximo de pessoas na ilha a mais de 900 e o número está claramente acima da capacidade do atual sistema de tratamento de águas residuais, que nunca foi requalificado.
Ainda assim, Henrique Queiroga considera que o valor definido “representa um progresso moderado relativamente à visitação descontrolada verificada nas últimas duas décadas”.
Segundo fonte académica, os programas de monitorização da visitação do ICNF atualmente em curso registaram 19 dias com mais de 1.000 visitantes/dia durante a estação alta de 2018, e um total de 82 mil visitantes durante todo o ano.
A ilha das Berlenga, ao largo de Peniche, tem desde o dia 23 de maio um limite diário de 550 visitantes em simultâneo.
“A capacidade de carga humana na área terrestre da ilha da Berlenga é fixada até ao limite máximo de 550 pessoas em simultâneo”, excluindo residentes sazonais habituais, prestadores de serviços e representantes das entidades oficiais com jurisdição na Reserva Natural das Berlengas, determina a portaria assinada pela secretária de Estado do Ordenamento do Território e Conservação da Natureza, Célia Ramos.
O limite máximo de visitantes imposto justifica-se pela existência de espécies e ‘habitats’ naturais “sensíveis” e a pequena dimensão terrestre do arquipélago, que obriga a haver condicionantes de segurança das pessoas e serviços de apoio em funcionamento, explica a portaria.
O arquipélago foi classificado em 2011 como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), tem estatuto de reserva natural desde 1981 e foi classificado como Zona de Proteção Especial para as Aves Selvagens em 1999.
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