Num documento apresentado à conferência, que esteve reunida na Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto, a comissão política do BE defende, sempre que possível, alianças alternativas a governações autárquicas de PS e PSD no país.
No texto, a direção alargada do Bloco faz questão, contudo, de salientar a sua abertura para uma convergência à esquerda que desafie o social-democrata Carlos Moedas em Lisboa – apelo deixado hoje pelo antigo coordenador Francisco Louçã, que frisou a importância da luta contra a especulação imobiliária num eventual entendimento pré-eleitoral com os socialistas.
Contudo, nem todos os bloquistas se manifestaram favoráveis a esta ideia, com o dirigente Manuel Afonso, que integra a Mesa Nacional, a deixar a questão: “O que é que Lisboa tem que o resto do país não tem?”.
O dirigente realçou que, na “tropa especuladora que tomou a cidade de assalto, Moedas é o chefe”, mas tem “um fiel escudeiro, que é o PS”.
“Certamente que uma eventual vitória derrotando Carlos Moedas seria uma respiração democrática. Mas, quatro anos seguintes atados ao seu lugar-tenente da especulação seriam um sufoco”, avisou.
Na mesma linha, Samuel Cardoso considerou “um erro diluir a candidatura do Bloco em Lisboa” numa coligação liderada pelo PS, argumentando que os socialistas “nunca vão aceitar uma política de rutura com os interesses imobiliários”.
“Esta opção é má porque cola o BE ao PS em toda a área metropolitana de Lisboa e no país pelo centralismo mediático que Lisboa tem, num contexto em que o PS está colado a um governo de direita que temos que combater”, sustentou.
O ex-deputado Heitor de Sousa defendeu que o BE deve apresentar candidaturas próprias e procurar alianças onde tal não for possível, lembrando que o PS é o partido que lidera mais autarquias no país.
“Ter uma perspetiva de aliança com o PS em Lisboa é a mesma coisa que entregar o ouro ao bandido”, alertou.
O dirigente Bruno Góis saiu em defesa de uma eventual coligação, afirmando que “se Lisboa deve ser uma exceção não é porque o BE inventou essa exceção”, mas sim porque “o país é macrocéfalo”.
Reconhecendo que a habitação deve ser uma prioridade programática, o dirigente da Mesa Nacional defendeu que o BE deve, em Lisboa, “empenhar-se em dar tudo para a construção de uma candidatura mais alargada possível para derrotar Carlos Moedas”.
Bruno Góis lembrou que o partido já teve acordos autárquicos em Lisboa e “mostrou que não está amarrado a nada”.
Durante a tarde, alguns bloquistas divergiram também sobre se o partido deveria priorizar a luta de classes e dos trabalhadores comparativamente a causas sociais como o feminismo, o antirracismo ou as lutas LGBTQIA+, ou se todas essas lutas convergem numa lógica interseccional.
O histórico fundador Fernando Rosas rejeitou a ideia de que “a identidade do Bloco se dissolve” em alguns destes movimentos sociais e salientou que “a centralidade do trabalho não pode ser incompatível contra tudo o que o capitalismo representa para além da extração de mais-valia: o racismo, a homofobia”.
“Precisamos de alianças com princípios, abrir e não fechar. Não devemos aceitar o regresso às cavernas quanto à natureza do partido que queremos”, avisou, lembrando o lema bloquista de que “é essencial travar a luta toda”.
A mesma tese foi defendida pelo fundador Luís Fazenda, por Francisco Louçã ou pelo ex-deputado Pedro Filipe Soares, que chegou a acusar estes críticos de estarem do lado de uma esquerda “conservadora, em dissolução e moribunda”.
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