“A vontade que sinto no quartel, e nestes homens, é que o socorro nunca será negado, nem que seja a pé. Isto é muito real, e cada vez mais real: podemos, no limite, ter que socorrer as pessoas a pé, mas nunca vamos negar socorro. Isso não”, assumiu Carlos Costa.
Em conferência de imprensa, com a presença da direção, do comando e de elementos do corpo operacional, dos delegados sindicais e do diretor de serviços, o presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Viseu disse que “estão todos solidários e unidos nesta causa, que tem sido discutida internamente antes de qualquer tomada de posição” pública.
“Se este alerta, que será um último alerta, não resultar e se nós tivermos que entrar em algum tipo de incumprimento por força externa, ou seja, por motivos que não são da nossa responsabilidade, vamos ter que fazer algum tipo de luta, não sei se não vamos partir para algum tipo de paralisação”, ameaçou Carlos Costa.
Em causa, lembrou, estão as dívidas do Estado para com a corporação, que são amenizadas quando fazem “soar um alerta” através de cerimónias públicas ou convocando os jornalistas.
“Gostava que fosse algo feito a nível nacional, porque é um problema a nível nacional, não é um problema de Viseu. Se calhar, temos tido a coragem para revelar o problema, se calhar estaremos a sofrer mais que os outros, não sei, não quero acreditar que estaremos a ser alvos de algum tipo de discriminação negativa, espero que não, que não seja esse o cenário”, disse o dirigente.
Para já, em causa, estão 54 mil euros e “se esses 54 mil euros não entrarem nos Bombeiros Voluntários até ao final do mês”, a associação vai “pensar em formas de luta que exponham de uma forma mais veemente e mais pública o problema e tudo está em aberto”.
Ao longo deste ano, pormenorizou o presidente, a dívida foi oscilando mediante os alertas dados e, em janeiro, a dívida do Estado era de 120 mil euros e, atualmente, é de 108 mil euros por “serviços prestados no transporte de doentes”, tendo passado, por 81 e 75 mil euros nos meses que sucederam ao alerta dado no aniversário, em março.
“Estamos a chegar a um ponto em que os riscos de incumprimento salarial são reais e cada vez mais reais. Estamos a chegar ao fim do mês e não temos recursos, no fim deste mês, para pagar aquilo que é devido aos nossos funcionários que são os salários e o subsídio de Natal, (…), porque o Estado decidiu não nos pagar”, acusou.
Segundo Carlos Costa, “para agravar esta situação, as próprias contribuições da Proteção Civil, a lei do financiamento tem transferências previstas para o dia 20 a 22 de cada mês” e, segundo denunciou, esses prazos “tinham vindo, até há dois meses, a ser cumpridos e desde lá, em vez de pagarem a 22, pagaram no dia 03 e recentemente passaram a pagar no dia 08”.
“Os salários são pagos no fim do mês, não é no dia 08. O financiamento é preciso antes, para podermos disponibilizar esse dinheiro aos nossos funcionários, não é no dia 08”, lembrou o dirigente associativo, que classificou este atraso de “igualmente grave”, se comparado com o atraso no pagamento de transporte de doentes.
“Não, não são tão graves mas são igualmente graves, porque era a receita fixa que contávamos para satisfazer parte da fatia salarial que devemos todos os meses e que é justo pagar aos nossos funcionários”, apontou o presidente, que exige que “sejam regularizados estes pagamentos, não este mês, mas recorrentemente”.
Carlos Costa acusou ainda a Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro de ter uma postura diferente da ARS do Norte, que “além de ter interpretações mais consentâneas com a lei, no que diz respeito aos pagamentos, também paga mais cedo”.
“Portanto, as corporações do norte do distrito não terão o mesmo tipo de atraso que as do sul”.
“Há aqui uma discrepância, uma diferença até de postura, das duas ARS, que são dois dos grandes ‘clientes’ que temos. Não há uniformidade em todo o distrito, haverá atrasos, sim mas não tão grandes no norte como no sul, também temos essa noção”, adiantou o presidente, que assumiu que a corporação de voluntários de Viseu “representa 70% do serviço de proteção civil neste concelho”.
O que, no seu entender, “é isso que está em risco, nenhum homem quer negar o socorro a ninguém, agora uma coisa é ir apagar um fogo ou ir socorrer um acidente com uma viatura devidamente equipada com todos os meios, consumíveis e combustível no depósito, outra coisa é pegar na maca e ir a pé mas, se tiver que ser assim, vai ser assim”.
“Esperemos que não haja nenhuma catástrofe”, rematou Carlos Costa.
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