“Como eu disse na altura, o governo agora tem uma música para cantar. O problema é que eu pratiquei a letra no fim de semana e descobri que as palavras ficam-me na garganta. Nós devemos ter responsabilidade coletiva. Como não posso, em consciência, defender essas propostas, concluí com tristeza que devo sair”, escreve na missiva tornada pública esta tarde.
Johnson referia-se à proposta que foi anunciada na sexta-feira de criação de uma zona de comércio livre de bens entre o Reino Unido e a UE ao comprometer-se a manter as mesmas regras que para bens e produtos agrícolas, a qual criticou por trair o espírito do ‘Brexit’.
“Estamos agora na posição ridícula de afirmar que devemos aceitar imensas leis europeias da UE, sem alterar uma vírgula, porque é essencial para a saúde da nossa economia – e quando já não temos qualquer capacidade de influenciar a forma como estas leis são feitas. Nesse aspeto, estamos a encaminhar-nos para o estatuto de colónia – e muitos vão ter dificuldade em ver as vantagens económicas ou políticas deste acordo especial”, considera.
Na sua opinião, ao “renunciar ao controlo” do que designa como “nosso ‘livro de regras’ para bens e produtos agroalimentares”, Boris Johnson diz que “será muito mais difícil fazer acordos de comércio livre”.
“E depois há o problema adicional de ter que defender um acordo alfandegário impraticável e não concretizável, diferente de qualquer outro existente”, acrescenta.
Johnson anunciou a demissão horas depois de o ministro para a Saída da UE David Davis e do respetivo secretário de Estado Steve Baker também terem abandonado o governo em discórdia com a primeira-ministra, Theresa May.
Esta alegou que o plano aprovado na sexta-feira após uma reunião de 12 horas é uma solução para conseguir respeitar os acordos de paz de 1998 para a Irlanda do Norte.
“A circulação de bens sem fricções é a única maneira de evitar que uma fronteira entre a Irlanda do Norte e a [República da] Irlanda e entre a Irlanda do Norte e Reino Unido e a única forma de proteger as cadeias de valor integradas e os processos rápidos dos quais milhões de empregos e meios de subsistência dependem”, vincou hoje à tarde no parlamento.
Vários deputados que apoiam o ‘Brexit’ também se manifestaram insatisfeitos com o plano, mas por enquanto ainda não foi iniciado nenhum processo para forçar a demissão de Theresa May.
Faltam menos de nove meses até que o Reino Unido efetue a saída da UE em 29 de março de 2019, cujas negociações sobre os termos do divórcio e do relacionamento posterior estão num impasse.
As duas partes tinham indicado outubro como um prazo para chegar a um entendimento para que o acordo possa ser ratificado pelos diferentes parlamentos nacionais dos 27.
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