Greenwald, cofundador do portal The Intercept Brasil, foi denunciado juntamente com outras seis pessoas por crimes vinculados à "invasão de telemóveis de autoridades brasileiras", num caso que veio à tona em meados de 2019, informou o MPF num comunicado.
O jornalista, que mora no Brasil com o marido, o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), e os dois filhos adotivos do casal, "foi denunciado, embora não tenha sido indiciado pela Polícia Federal".
Para o MPF, "as provas coletadas na investigação demonstram que ele auxiliou, incentivou e orientou o grupo durante o período das invasões" dos telemóveis, acrescentou a nota.
De acordo com uma conversa entre Greenwald e um dos hackers, o jornalista não se contentou em receber denúncias, mas pediu para "excluir as conversas" trocadas com ele para não ficar "ligado a material ilegal", alega a denúncia.
A promotoria diz que foram "ações para impedir investigações e reduzir a possibilidade de responsabilidade criminal", algo que Greenwald nega.
Num vídeo publicado em sua conta no Twitter, Greenwald denunciou aquilo que considera ser "um ataque à liberdade de imprensa". "É obviamente uma retaliação do governo Bolsonaro. Nós nunca vamos ser intimidados por ninguém que está a abusar do aparato do Estado", acrescentou.
De acordo com a denúncia, segundo os diálogos entre Greenwald e um dos hackers, o jornalista não apenas recebeu informações, mas foi além "ao indicar ações para dificultar as investigações e reduzir a possibilidade de responsabilização penal". A justiça deve determinar agora se dá seguimento às denúncias do MPF para abrir um processo formal.
O hacker Walter Delgatti Neto confessou ter entregue a Greenwald milhares de mensagens trocadas entre o ministro Moro e os procuradores da Lava Jato, divulgadas pelo The Intercept Brasil a partir de junho de 2019.
As mensagens mostraram uma suposta conivência entre Moro com os procuradores da operação Lava Jato, que levou à prisão de dezenas de empresários e políticos, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os reportagens abalaram ainda mais a opinião pública já polarizada do Brasil e levaram Greenwald a pedir proteção ao Supremo Tribunal Federal (STF). O STF concedeu ao jornalista uma medida cautelar no ano passado para impedir que fosse investigado e proteger o seu direito constitucional de manter em segredo as suas fontes.
Jair Bolsonaro, que no ano passado declarou que Greenwald poderia "ir para a cadeia" pelo seu papel na divulgação das mensagens, reagiu com ironia sobre a denúncia contra o jornalista.
"Quem denunciou foi a Justiça. Você não acredita na Justiça?", respondeu o presidente ao ser questionado por um jornalista se a denúncia contra Greenwald não seria vista como perseguição à imprensa, com a qual Bolsonaro tem um relação conturbada.
O relator especial da ONU para a liberdade de expressão, David Kaye, escreveu no Twitter que iria solicitar mais informações ao governo brasileiro, mas alertou que a denúncia "parece um esforço para intimidar Glenn Greenwald e The Intercept a parar com as denúncias".
Organizações como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e o Comité de Proteção de Jornalistas (CPJ) também criticaram a denúncia.
Em 2013, Greenwald entrevistou Edward Snowden sobre os programas de vigilância em massa implementados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA).
Comentários