“Esse é o cuidado que pedimos a todos os partidos, sobretudo para que não se precipitem numa leitura rápida de um relatório que chegou à meia-noite, que tem 200 páginas e que certamente merecerá mais detalhe do que uma ideia geral e abstrata que sobre ele se possa ter”, sustentou o deputado socialista Bruno Aragão.

O coordenador do PS na Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP falava aos jornalistas no parlamento após a conferência de imprensa de apresentação da versão preliminar do relatório, da autoria da deputada do PS Ana Paula Bernardo.

Até ao final do prazo para a entrega de propostas de alteração ao relatório preliminar, que terá ainda que ser votado pelos deputados, o PS vai analisar o texto e decidir se irá ou não apresentar propostas de alteração.

O socialista defendeu que se está a entrar numa “fase de interpretação política que muitas vezes tolda a forma como a factualidade deve ser analisada”, considerando que “se está a tentar impor” a ideia de que “contra argumentos não há factos”.

“E portanto, independentemente da factualidade que se apura, das respostas que forem trazidas a esta comissão de inquérito, da base documental que corrobora ou não essas respostas, se cada um de nós mantiver o argumentário da fase inicial da comissão de inquérito, de pouco valerá o esforço que tivemos ao longo destas semanas”, argumentou.

Bruno Aragão foi questionado sobre as críticas de alguns partidos sobre o facto de certas audições e acontecimentos não constarem do relatório preliminar e respondeu que "definir o objeto desta comissão é central porque é central para discutir a tutela política da TAP e isso não quer dizer, em nenhum momento, que os outros acontecimentos, que foram relevantes e escrutinados também muito pela opinião pública, não tenham que ser esclarecidos nas instâncias próprias".

Sobre os acontecimentos na noite de 26 de abril no Ministério das Infraestruturas, Bruno Aragão disse que "decorre no Ministério Público um inquérito que terá que apurar o que aconteceu, inquérito que decorrerá independentemente dos trabalhos desta comissão parlamentar".

Sobre a atuação das 'secretas' na recuperação de um computador levado do ministério pelo ex-adjunto de João Galamba, Frederico Pinheiro, o socialista lembrou que existiram audições na comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, acrescentando que sobre a reunião preparatória de uma audição da antiga CEO da TAP com o grupo parlamentar do PS e membros de gabinetes ministeriais, a comissão da Transparência e Estatuto dos Deputados também "emitiu parecer".

"E, portanto, não há aqui nenhuma tentativa de não discutir cada uma destas matérias, há é uma instância própria", insistiu.

Bruno Aragão argumentou que "às vezes há interesse" de outros partidos para que estas matérias sejam discutidas "porque isso diminui o espaço" para o debate sobre "o que realmente importa, que é a TAP".

"E essa sim, é uma discussão bastante mais complexa", disse.