Cleidir Dias, 30 anos, foi um dos manifestantes que esta tarde saiu às ruas da Praia para exigir justiça para Giovani, criticando duramente o que diz ter sido a pouca importância que as autoridades policiais portuguesas terão dado ao caso do cabo-verdiano, que estudava em Bragança desde outubro e que morreu em 31 de dezembro, depois de alegadas agressões, ocorridas dez dias antes.
“Demonstrarmos que somos uma nação e que prezamos os valores cimeiros da vida, a dignidade da pessoa e não podemos de modo algum admitir que um dos nossos seja barbaramente assassinado”, afirmou Cleidir Dias, visivelmente consternado com os acontecimentos de Bragança.
Entre gritos de “Não ao racismo” e “Queremos justiça para o Giovani”, Portugal esteve na mira das críticas: “Vemos uma falta de zelo das autoridades portuguesas e não só, mesmo das nossas autoridades cabo-verdianas também, na abordagem da questão”, acrescentou Cleidir.
A manifestação desta tarde, uma das maiores de sempre na cidade da Praia, cortou o trânsito em várias zonas e, durante duas horas, levou a vários momentos de tensão junto à Embaixada de Portugal e à residência oficial da embaixadora portuguesa na Praia. Aparentemente surpreendida pela dimensão, a Polícia Nacional teve de chamar reforços para conter em algumas zonas a progressão do protesto.
“O objetivo é apenas apelar ao Governo de Portugal para levar à justiça as 15 pessoas que mataram Giovani de forma brutal – é que Giovani tem família, tem país – e somos a prova disso, com o que está a acontecer agora [manifestações] em nove países e em 20 cidades”, explicou à Lusa Oraci Cruz um dos rostos da organização da marcha de hoje, apresentada como pacífica.
Sueline Nunes, 20 anos, estudante, esteve na marcha porque está farta de esperar por explicações de Portugal: “Eu não sei o que aconteceu lá, mas todos nós queremos justiça, porque todos nós somos seres humanos e todos nós merecemos respeito”, afirmou.
Para Oraci Cruz, os cabo-verdianos, com este protesto, só queriam uma coisa: “Justiça. É que se fosse um português assassinado em Cabo Verde, a história era outra. Estamos aqui para apelar por justiça e não para guerra”.
Já para Cleidir, foram as restrições da polícia que levaram ao exacerbar dos ânimos na manifestação que durante duas horas levou à tensão com a polícia a à invasão de vários perímetros de segurança. “As forças de segurança vieram aqui para meter desordem nesta manifestação, que tinha tudo para ser ordeira”, referiu.
Cansados de esperar por respostas de Portugal para o que aconteceu, garantem que novos protestos podem voltar a sair à rua em Cabo Verde: “O que é que aconteceu? Nós precisamos de saber”, reclama Cledir, para justificar novos protestos na Praia.
Oraci Cruz, 30 anos, corrobora e garante que sem explicações das autoridades portuguesas, o povo vai sair de novo à rua.
“Se o povo estiver connosco, vamos fazer mais manifestações por justiça”, afirmou.
Oraci garante que os momentos de tensão que se viveram no protesto de hoje, com os manifestantes a romperem várias barreiras policiais junto à Embaixada de Portugal, até chegarem aos portões, foram provocados pelo “cansaço” geral dos cabo-verdianos.
“O objetivo era aproximar da porta [da Embaixada de Portugal] e levar um poema, mas infelizmente não conseguimos segurar as pessoas, que estão cansadas de casos que não são resolvidos. Por isso, as pessoas estão aqui não só pelo Giovani, mas por alguns crimes que têm acontecido no país e para os quais não temos resposta. E achávamos que o nosso jovem estava seguro em Portugal, mas isso aconteceu com ele”, criticou, garantindo que o objetivo, como se chegou a recear, nunca foi invadir qualquer edifício.
“Houve uma pequena desordem porque as pessoas estão cansadas, mas estamos aqui pela justiça (…) O objetivo não era invadir a Embaixada de Portugal nem a Assembleia Nacional, mas sim demonstrar o nosso descontentamento e apelar à justiça”, afirmou Oraci.
Ainda com as dúvidas por esclarecer e enquanto segura a tarja com o rosto de Giovani que preparou em casa, Sueline pede respeito pelos cabo-verdianos: “Que onde forem merecem respeito (…) Penso que a maldade não está na cor da pele, mas sim na atitude de cada ser humano”.
O estudante cabo-verdiano do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) Luís Giovani dos Santos Rodrigues terá sido agredido por vários homens, em 21 de dezembro, à saída de uma discoteca daquela cidade.
Transportado para o Hospital de Santo António, no Porto, o estudante de 21 anos acabou por morrer em 31 de dezembro.
As circunstâncias da morte do jovem estudante não são claras, estando o caso a ser investigado pela Polícia Judiciária portuguesa.
O corpo de Giovani Rodrigues deverá ser trasladado de Portugal para Cabo Verde esta noite, processo apoiado pela Embaixada cabo-verdiana em Lisboa.
Vigílias de homenagem ao estudante cabo-verdiano decorreram hoje em várias cidades portuguesas e cabo-verdianas, em Londres, Paris e no Luxemburgo, entre outras.
O Governo de Cabo Verde e o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, classificaram o caso como um “crime bárbaro” e apelaram a uma investigação célere por parte das autoridades portuguesas, pedindo “justiça” para Luís Giovani.
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