"Infelizmente, este ano não vamos poder ter arraiais, não vamos poder ter as comemorações do Santo António com arraiais, dada a situação que vivemos", disse Fernando Medina (PS), acrescentando: "É a decisão sensata, é a decisão avisada nesta fase da pandemia em que são precisos ainda cuidados, são precisos alertas".

Em declarações à agência Lusa, o autarca de Lisboa indicou que, tal como no ano passado, os arraiais "não vão ser licenciados nem pela Câmara nem por Juntas de Freguesia e, por isso, a fiscalização cabe às autoridades, quer à Polícia Municipal, quer à Polícia de Segurança Pública (PSP)".

"Infelizmente, já antecipávamos este cenário, por isso já tínhamos anunciado que não iríamos ter as marchas este ano e que os festejos não se iriam realizar, isso é óbvio. Isto agora estende-se a toda a noite de Santo António, na noite do dia 12 [de junho], os arraiais tão típicos desta altura não vão acontecer e, por isso, teremos que, infelizmente, aguardar mais um ano para podermos de novo celebrar o Santo António com a alegria com que a cidade gosta de o fazer", declarou.

Em 06 de maio, a Câmara de Lisboa anunciou que não seria realizado o concurso das marchas populares que ocorre anualmente em junho, devido à pandemia, e decidiu atribuir metade do subsídio habitual, 15.000 euros, a cada entidade organizadora.

Neste âmbito, o município tem mantido o contacto regular com as autoridades de saúde e com as Juntas De Freguesia, existindo “uma convergência grande de opiniões” relativamente à não realização de arraiais.

“O apelo que o município faz é que as pessoas no fundo compreendam a situação que estamos a viver e que haja obviamente comportamentos de civismo adequados a esta fase”, afirmou Fernando Medina, referindo que a pandemia “não está estabilizada”.

Ainda que a expectativa seja de “avanço rápido e conclusão do processo de vacinação até à imunidade de grupo”, o autarca sublinhou que, “infelizmente, tal não aconteceu até esta altura”.

Questionado sobre a realização das festas de São João na cidade do Porto, em que vão ser criadas três zonas de diversões, o socialista reiterou que a não realização de arraiais populares na capital “é a única decisão adequada” face ao contexto da pandemia, indicando que as autoridades de saúde têm apelado a que se evitem as aglomerações, pelo que “é da responsabilidade de todos cumprirem para esse objetivo”.

A deliberação do município da capital passa por “dar um sinal claro de que não deve haver essas aglomerações, nem esses ajuntamentos, de que não [se está], infelizmente, ainda em fase de que isso seja possível na cidade de Lisboa e também pelo país”, frisou Fernando Medina, acrescentando que está a decorrer uma sensibilização sobre a não realização de arraiais, inclusive nos bairros típicos.

Relativamente à possibilidade de aglomerações espontâneas de pessoas na rua, o autarca explicou que “essa é uma matéria da PSP, com quem serão mantidos os contactos adequados para que possa desenvolver de forma eficaz o seu trabalho na cidade de Lisboa”, estando o município disponível a colaborar no que for necessário.

“A primeira mensagem é de apelo aos cidadãos, apelo a todos para que evitem as aglomerações, que evitem ajuntamentos, que evitem as situações de risco, para que no fundo possamos ajudar todos”, insistiu.

Sobre o não licenciamento de arraiais e de eventos relativos às festas populares, o município vai exercer um dever especial de fiscalização.

“Se houver eventos autorizados pela Direção-Geral da Saúde, no âmbito daquilo que são eventos que têm vindo a ser autorizados, e há vários que se organizam na cidade, eles poderão ocorrer. […] no formato dos arraiais licenciados pela Câmara de Lisboa ou pelas freguesias de Lisboa, isso não irá acontecer”, afirmou o autarca, sem dispor ainda de informação sobre as orientações que vão ser emitidas pelas autoridades de saúde.

Participantes nas marchas de Lisboa concordam com a não realização de arraiais

Várias associações participantes nas marchas populares de Lisboa defenderam hoje a não realização de arraiais durante os Santos Populares, lembrando que a “pandemia não chegou ao fim” e que as coletividades não podem seguir “os maus exemplos”.

“Independentemente do que aconteceu no Porto, que nós […] achamos que a situação saiu fora do controlo, aqui em Lisboa ainda não existem condições para fazermos arraiais populares na forma como nós conhecemos”, salientou o presidente do Ginásio Alto do Pina, Pedro Jesus.

Em declarações hoje à agência Lusa, Pedro Jesus explicou que não existem quaisquer condições para se celebrar os Santos Populares na rua, mas adiantou que poderão ser realizados “pequenos retiros populares” nas coletividades, com controlo das regras sanitárias.

“Nós entendemos que a pandemia ainda não chegou ao fim e que temos de tomar as medidas necessárias com o que tem sido feito. […] O Alto do Pina não fará nada, porque não existem condições para o fazer”, indicou.

Também o coordenador da Marcha da Bica, Pedro Duarte, disse que, neste momento, não é possível festejar os Santos Populares, como em anos anteriores, reforçando que o “essencial é o bem-estar das pessoas”.

“Seria muito complicado conseguir controlar as pessoas. As pessoas estão sedentas de festa, estão sedentas de se divertir e, como se costuma dizer – não querendo ferir suscetibilidades –, dói-nos mais a nós, organizadores e pessoas que vivem isto o ano inteiro, do que aos outros”, referiu.

Em consonância com a Junta de Freguesia da Misericórdia, Pedro Duarte reiterou que a realização de festas, durante o mês de junho, “está fora de hipótese”.

“Em 2019 tínhamos 20 arraiais oficiais da Câmara Municipal de Lisboa em parceria com a EGEAC [Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural]. Todas essas entidades, todas essas coletividades e associações estão a passar um muito mau bocado - muito mau mesmo - a nível financeiro. Muitas delas já fecharam, outras praticantes não têm dinheiro para as despesas correntes, […] organizar um arraial é muito difícil”, explanou.

Demonstrando alguma revolta com assunto, o coordenador da Marcha de Alfama contou que, com as restrições impostas pelo Governo no combate à covid-19, não é possível “dizer” às pessoas para irem para rua.

“Temos a noção do que estamos a falar ou será que os maus exemplos servem agora para nós também podermos seguir a mesma senda? Eu acho que é ao contrário. Tudo aquilo que tem acontecido de mal deve ser para nós momentos de ponderação e de podermos fazer rigorosamente o contrário, demonstrar que o caminho não é aquele”, defendeu João Ramos.

De acordo com o responsável, os Santos Populares têm “uma ideia de partilha e de convívio” que não é possível pôr em prática em contexto pandémico.

“[…] Porque os ingleses fizeram e então nós também fazemos? Mas, os ingleses [aglomerações de adeptos de futebol no Porto] fizeram aquilo que não devia ser feito, portanto, esse exemplo não deve ser o mote para ser seguido, bem pelo contrário”, alertou.

A mesma opinião tem o diretor-geral da Sociedade Voz do Operário, Vítor Agostinho, que adiantou que se coaduna com a posição hoje revelada pela Câmara Municipal de Lisboa, de não permitir a realização de arraiais.

“Compagina-se com a não realização de arraiais […], essa é a nossa opinião”, disse dirigente da sociedade de instrução e beneficência.

Mesmo sem arraiais, Vítor Agostinho adiantou que a Voz do Operário irá realizar, como ocorreu em 2020, jantares organizados através de marcação nas suas instalações, podendo aceitar cerca de 100 pessoas.

“Concordamos que os arraiais, que normalmente aqui promovemos, não vão acontecer, então chamamos a isso ‘Retiro do Cantinho de Lisboa’”, observou, alertando que “as pessoas vão entrar com marcações prévias e, quando o número do espaço estiver preenchido, não entrará” mais ninguém.

(Notícia atualizada às 14:36)