Trata-se de uma ópera cómica que assinala a estreia de Pedro Mexia na escrita operática e na qual participam a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos.
Com encenação de Ricardo Neves-Neves, a ópera parte do conto do macaco do rabo cortado, mas acaba por se tornar numa comédia sobre o excesso de confiança dos homens e no mau resultado que tal postura pode dar.
Numa altura em que o movimento #Metoo se tornou um fenómeno de moda, este espetáculo vem mostrar que o lado de força está no feminino assim como a exuberância, disse o encenador.
Um homem que vai seduzindo mulheres atrás de mulheres é a personagem principal desta ópera cómica onde são audíveis acordes de “Don Giovanni” e letras de canções mais populares, como uma de Paulo de Carvalho e outra de Romana.
A sedução foi uma forma de Pedro Mexia brincar com o assunto e de 'dar a volta' ao conto que esteve na base da ópera, e que é muito repetitivo, sustentou Nuno Corte-Real. Assim, este advogado, um Casanova dos tempos modernos, vai acumulando conquistas atrás de conquistas, sem se incomodar com as consequências dos seus atos.
A cerzir o enredo da ópera, Pedro Mexia agregou uma série de situações que vão do humor, ao 'nonsense' que fazem com que o espetador muitas vezes se questione se deve acreditar no libreto, nos protagonistas ou nas outras personagens que, em vez de cantarem, contestam os diálogos daqueles.
“A força está nas personagens femininas. E isso é uma coisa que se vê. Elas entram e a exuberância e o espaço que elas ocupam - assim como em termos musicais - não lhes dá fragilidade absolutamente nenhuma”, disse Ricardo Neves-Neves.
Esta é também a primeira experiência de Ricardo Neves-Neves a encenar ópera, desafio que, ao princípio, não o surpreendeu, já que está muito habituado a usar as músicas nas suas encenações, pelo que considerou tratar-se de um desafio a completar a sua dramaturgia.
Poré, embora parecesse um passo óbvio, não o foi, por se tratar de um processo de trabalho “diferente, com um objeto cénico diferente”, admitiu Ricardo Neves-Neves.
“Entrei no processo com muita cautela, algum pudor e também medo, mas, à medida que o tempo foi passando – e não foram dias foram horas –, senti que não foi um choque”, frisou. Por isso, o encenador está disposto a repetir a experiência, admitiu aos jornalistas. E não hesita em elogiar o grupo de trabalho e a “paciência” que tiveram para com ele.
Para Nuno Corte-Real, que totaliza já cinco composições para ópera, este trabalho foi “muito engraçado”, até porque lhe permitiu “integrar” citações de temas populares, conforme o libreto de Pedro Mexia, com as suas alusões a “Don Giovanni” e à sua própria linguagem musical.
O resultado final desta ópera – que terá sete récitas no Teatro da Trindade, em Lisboa, acaba por resultar num espetáculo “dinâmico e exuberante”, como referiu o encenador, cheio de apontamentos de “comédia e nonsense”.
Coproduzido pelos teatros da Trindade e Nacional S. Carlos e pela Temporada Darcos, “Canção do Bandido” tem direção musical de Nuno Côrte-Real, com cenário de Henrique Ralheta, figurinos de Rafaela Mapril e desenho de luz de Luís Duarte.
André Henriques (macaco), Bárbara Barradas (Bruna), Cátia Moreso (Severa), Inês Simões (Esmeralda), Marco Alves dos Santos (Oponente) e Sónia Alcobaça (Guadalupe) são os cantores.
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