Numa digressão da pré-campanha eleitoral ao sudeste da França, a candidata do Republicanos (conservadores) defendeu que pretende “restabelecer a ordem” no país, utilizando o nome de uma popular marca de aspiradores em França (“Kärcher”), para proceder a essa “limpeza”, tal como prometera Sarkozy em junho de 2005.
Para centrar os debates no tema da segurança, Pécresse escolheu dois departamentos — Bouches-du-Rhêne e Vaucluse — onde a União Nacional (RN, extrema-direita), de Marine Le Pen, alcançou uma votação expressiva.
A intenção, refere a agência noticiosa France-Presse (AFP), é contrariar a tendência dos debates, que têm passado pela questão da pandemia de covid-19, que obrigou a grande desgaste no Parlamento, e a “guerra” declarada pelo atual Presidente francês, Emmanuel Macron, aos “não vacinados”.
“Temos de trazer o ‘Kärcher’ porque foi deixado na cave por [o ex-Presidente] François Hollande e por Emmanuel Macron durante dez anos”, afirmou Pécresse em declarações aos jornalistas defronte de uma esquadra da polícia em Salon-de-Provence, também no sudeste do país, onde se inteirou das 151 câmaras e ‘drones’ (aparelhos voadores não tripulados) utilizados para vigiar a cidade.
Com estas palavras, a candidata da direita francesa assumiu uma fórmula ofensiva usada por Sarkozy quando o antigo Presidente ainda era ministro do Interior, o que causou polémica na altura.
Sarkozy usou pela primeira vez a expressão “limpar a cidade com um Kärcher” em junho de 2005, durante uma visita à região de Paris, um dia após a morte de uma criança de 11 anos, atingida por balas perdidas diante da sua casa.
“Hoje é hora de limpar os bairros, temos de caçar os bandidos, os líderes dos bandidos, os traficantes. São eles que devem ser perseguidos e punidos, que devem ser privados da cidadania”, afirmou Pécresse, que presidiu o conselho regional da maior região do país, a Ilha de França.
A construção de mais 20.000 celas prisionais, a abertura de “centros de detenção provisória em edifícios abandonados” e o apoio “parcial” do Exército foram algumas das propostas avançadas pela candidata dos Republicanos para ajudar nas “operações de limpeza” dos bairros.
“O que os franceses querem é resultados imediatos, pois estamos numa crise de autoridade”, frisou Pécresse, lançando, no entender da AFP, uma “farpa” a Macron, que tem prevista para a próxima segunda-feira uma deslocação a Nice (também no sudeste de França) para falar sobre o mesmo tema.
Pécresse subiu abruptamente nas sondagens após, no início de dezembro de 2021, ter sido nomeada candidata pelos Republicanos, dando a ideia de que poderá ameaçar Macron, mesmo que permaneça muito atrás do atual Presidente na primeira volta das presidenciais de abril.
Paralelamente, ao dirigir-se a um eleitorado sensível às questões de segurança, refere a AFP, Pécresse pretende aumentar a pressão contra os dois candidatos da extrema-direita francesa, Marine Le Pen e Eric Zemmour.
Zemmour disputa o eleitorado da extrema-direita com Le Pen e criou o partido Reconquista, numa alusão ao processo histórico que pôs fim ao domínio muçulmano da Península Ibérica.
Os três estão tecnicamente empatados nas últimas sondagens eleitorais (entre os 14% e os 16%), atrás de Macron.
O atual Presidente francês é dado como favorito nas sondagens, mantendo-se estável ao longo dos últimos meses, com uma intenção de voto que varia entre os 23% e os 25% na primeira volta.
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