Em entrevista à Lusa em Nova Iorque, João Gomes Cravinho referiu que, para as duas vagas de membros não-permanentes no Conselho de Segurança em 2027-2028, Portugal e Áustria tinham uma candidatura chamada 'clean slates', em que há dois candidatos para dois lugares.
“E é isso que acontece na generalidade dos diferentes grupos regionais: apresentam um candidato para um lugar ou dois candidatos para dois lugares. No nosso caso, de forma relativamente tardia, a Alemanha apresentou uma candidatura, porque a Alemanha considera que, sendo um país grande e poderoso, deve estar com grande regularidade no Conselho de Segurança. E isso é incómodo porque obriga a países amigos a escolherem entre amigos", avaliou o ministro.
Nesse sentido, Portugal terá como adversários diretos a Alemanha e a Áustria, numa disputa pelos dois lugares de membros não-permanentes atribuídos ao grupo da Europa Ocidental e Outros Estados.
A eleição em causa para o Conselho de Segurança - órgão das Nações Unidas encarregue da manutenção da paz e da segurança internacional - acontecerá em 2026, para o biénio 2027/2028.
Gomes Cravinho salientou que a Áustria e a Alemanha são "países amigos" que Portugal “respeita profundamente" no sistema internacional e com os quais “com grande frequência”está do mesmo lado “nos debates sobre questões internacionais".
Tendo essa relação em conta, a campanha portuguesa não se baseará em qualquer abordagem crítica a esses Estados amigos, apostando, ao invés disso, em “argumentos únicos” que Áustria e Alemanha “não têm”.
“São esses argumentos que formam a base para a nossa campanha, como (…) o nosso compromisso em relação aos Oceanos. Isto não é algo que nasceu ontem, não é algo que foi produzido para efeitos de campanha (...) para angariar votos. É um compromisso profundo da política externa portuguesa, enraizado na história de Portugal ao longo dos séculos, muito enraizado também naquilo que tem sido o trabalho multilateral feito por Portugal na última década", sublinhou o ministro.
"Este é um momento de olhar também para a problemática dos Oceanos e da Segurança, nomeadamente porque a subida do nível do mar e o aumento de temperatura dos oceanos produzem impactos em termos de segurança que são profundos para alguns países (...). Para muitos países costeiros, países insulares, são questões de primeira ordem em termos de segurança", adiantou Cravinho, admitindo sentir enorme recetividade de outros países em relação a esse argumento.
Outro exemplo da singularidade da candidatura portuguesa, afirmou, é a sua capacidade se relacionar "com países e povos nos quatro cantos do mundo", algo que é referido por "interlocutores da Ásia, do Pacífico, que fazem referências históricas de Portugal" quando se encontram com Gomes Cravinho, contou.
"Nós não somos um elemento desconhecido do sistema internacional que aparece de repente para pedir um voto. Somos, pelo contrário, uma entidade cujo trabalho reconhecem", frisou.
Também as qualidades "universais e humanistas" do secretário-geral da ONU, António Guterres, como português, podem pesar a favor de Portugal no momento dos Estados-membros das Nações Unidas irem a votos.
Guterres "desempenha o papel que desempenha em parte porque tem as melhores qualidades que se encontram num português: qualidades universais, uma abordagem universalista, humanista. E, portanto, eles (países) olham para nós, de algum modo, da mesma maneira como olham para António Guterres: como alguém que fala com todos, procura escutar, ouvir e compreender e, com base nisso, construir bases para entendimento", advogou Cravinho.
A candidatura de Portugal foi formalizada em janeiro de 2013 e as eleições para o referido mandato realizar-se-ão durante a 81.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2026, ano em que António Guterres terminará o seu segundo mandato de cinco anos como secretário-geral da ONU.
Portugal já foi membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU por três vezes: em 1979-1980, 1997-1998 e 2011-2012.
Por sua vez, a Alemanha - que ambiciona um assento permanente no Conselho de Segurança - já integrou o órgão por seis vezes (mais recentemente em 2019-2020), e a Áustria conseguiu ser eleita em três ocasiões.
Comentários