"O Presidente suspendeu as suas viagens ao exterior", confirmaram fontes oficiais, reproduzidas pela imprensa argentina.

O Presidente argentino, Alberto Fernández, planeava viajar no começo da tarde de hoje ao México, onde passaria o fim de semana e, de lá, rumaria a Nova Iorque para participar, na terça-feira, de forma presencial, na Assembleia das Nações Unidas.

As duas viagens foram canceladas devido à crise institucional que está a pôr o Presidente em xeque.

A viagem ao México destinava-se a participar na Cimeira dos Estados da América Latina e das Caraíbas (CELAC). A Argentina aspira a presidir esse foro. Já o discurso durante a Assembleia da ONU será virtual.

Alberto Fernández não quer deixar o Governo sob o controlo da sua vice. Durante a sua ausência do país, a presidência seria exercida por Cristina Kirchner, com quem o Presidente trava um duelo político.

Cristina Kirchner exige uma reforma ministerial que altere o rumo do Governo e quer também que o ministro da Economia tenha uma política económica expansionista para aumentar o gasto público até as eleições legislativas de 14 de novembro, fundamentais para os planos políticos do Governo de controlar o Parlamento.

Alberto Fernández preferia adiar mudanças nos ministérios para depois das eleições, mas, diante da crise, vê-se obrigado agora a reformular a sua equipa.

Parceira maioritária na coligação de Governo e detentora do verdadeiro poder, Cristina Kirchner ordenou a demissão de vários ministros, secretários e presidentes de organismos públicos. As 11 renúncias provocaram um vazio de poder.

"As renúncias provocam um grave dano no Governo e a carta que Cristina Kirchner publicou revela uma vice-Presidente que ordena ao Presidente que se submeta a ela. O Presidente está em xeque. A situação política é dramática", aponta à Lusa o analista político Nelson Castro.

"Não sou eu quem põe o Presidente em xeque, mas o resultado eleitoral", alegou Cristina Kirchner numa carta aberta, publicada nas últimas horas.

A vice-Presidente refere-se à contundente derrota nas eleições primárias de domingo passado. A magnitude da derrota enterra o objetivo de controlar o Parlamento e traduz-se numa reprovação da gestão do Presidente Alberto Fernández, quando este vai a meio do mandato.

As eleições primárias tendem antecipar o resultado das eleições legislativas, que se realizam daqui a menos de dois meses.

Na extensa carta, Cristina Kirchner culpa Alberto Fernández pela "derrota eleitoral sem precedentes para o peronismo" e ordena-lhe o que deve ser feito.

"Sempre expus ao Presidente o que, para mim, constituía uma delicada situação social. Avisei-o que conduzia uma política de ajuste fiscal errada que teria, invariavelmente, consequências eleitorais", acusa.

"Cansei-me de dizer o mesmo e a resposta foi sempre que eu estava errada", critica.

Para pressionar, Cristina Kirchner resolveu fazer uma reforma ministerial.

"Realmente acreditam que não é necessário, depois de tamanha derrota, apresentar publicamente renúncias?", questiona. "O Presidente deve relançar o seu Governo e sentar-se com o seu ministro da Economia para rever números", alegou.

Antes da divulgação da carta de Kirchner, Alberto Fernández publicou nas redes sociais uma declaração na qual referia considerar "não ser tempo para expor disputas".

"A gestão do Governo continuará do modo que eu considerar conveniente. Para isso, fui eleito", avisou com um destinatário implícito: a sua vice-Presidente.

Porém, perante as renúncias dos ministros, Alberto Fernández prepara-se para uma reforma ministerial e para anunciar um pacote de medidas destinadas a aumentar o poder de compra da classe baixa e média-baixa numa tentativa de reverter o resultado das urnas, exatamente como a sua vice quer.

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