“Eu nunca tentei me esconder, Barbarin antes da primeira audiência do julgamento do caso, no qual estão também acusadas outras cinco pessoas.
A 23 de maio de 2017, o cardeal e cinco outras pessoas foram convocadas para comparecer nas autoridades sob a acusação de não terem denunciado agressões sexuais de um padre a um grupo de jovens escuteiros, num processo de citação direta iniciado pelas vítimas do padre Bernard Preynat.
Desde que o caso eclodiu há três anos, o arcebispo de Lyon já negou as acusações contra si, reconhecendo erros de apreciação e pedindo desculpas às vítimas de padres pedófilos.
Mas em 2016, em Lourdes, durante uma assembleia de bispos, proferiu algumas palavras que geraram controvérsia, ao afirmar: “Graças a Deus, a maioria dos factos” de abuso sexual foram “prescritos”.
Hoje, em comunicado divulgado antes de responder às perguntas do tribunal disse que ” nem sempre soube usar as melhores e mais hábeis palavras no passado”.
Inicialmente marcado para abril de 2018, o julgamento acabou por ser remarcado para decorrer de 07 a 08 de janeiro de 2019.
Apenas Philippe Barbarin e cinco outras pessoas – incluindo o atual arcebispo de Auch (sudoeste), Maurice Gardes, e o bispo de Nevers (centro), Thierry Brac de la Perrière -, deverão ser julgadas.
O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé no Vaticano, Luís Francisco Ladaria Ferrer, foi também mencionado no processo, tendo o Vaticano invocado a imunidade do prelado espanhol, numa nota enviada a 17 de setembro de 2018 às autoridades francesas, para justificar a sua falta de comparência em tribunal.
Este caso surgiu a público a 23 de outubro de 2015, dia em que a diocese de Lyon revelou que tinha recebido queixas contra o padre Bernard Preynat por “agressão sexual a menores” cometida 25 anos antes.
A 12 de janeiro de 2016, várias vítimas criaram uma associação chamada “La parole libéreé” e a 27 de janeiro o padre Bernard Preynat, que reconhece os factos, foi acusado de agressão sexual a quatro jovens escuteiros entre 1986 e o final de 1991.
Numa entrevista ao jornal católico La Croix, a 10 de fevereiro de 2016, o cardeal Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon desde 2002, disse que estava ciente dos comportamentos desse padre “por volta de 2007-2008″, através de terceiros, e que conheceu uma das vítimas em 2014.
Na altura recebeu o apoio do Vaticano que considerou ter gerido o caso “com muita responsabilidade”, apesar de o cardeal não ter informado a justiça e de ter mantido o padre dentro da diocese de Lyon até 2015.
A 4 de marco de 2016, o Ministério Público de Lyon abriu uma investigação preliminar a vários líderes da diocese, incluindo o cardeal Barbarin, por “não denúncia do crime” considerando que “colocou em risco a vida de outros”.
Em declarações à imprensa, na altura, o cardeal garantiu que nunca tinha encoberto qualquer caso de pedofilia.
Em agosto de 2016, a investigação por não denúncia dos casos de pedofilia cometidos pelo padre Bernard Preynat foi rejeitada pela procuradoria de Lyon.
O processo foi retomado posteriormente por citação direta iniciada pelas vítimas, sendo agora o caso julgado pelo que é chamada “a justiça dos homens” embora o cardeal tenha recentemente dito: “Só tenho um juiz que é o Senhor”.
Até o momento, dois bispos foram condenados na França em casos semelhantes, o bispo de Bayeux-Lisieux em 2001 e o ex-bispo de Orleans em 2018.
O cardeal Barbarin, 68 anos, personifica em França a crise que a Igreja enfrenta em todo o mundo com diversos casos de abusos silenciados, um silêncio que o papa Francisco já disse que tem de ser quebrado, tendo convocado para fevereiro os presidentes de todas as conferências episcopais para uma cimeira no Vaticano sobre o assunto.
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