“Foi um processo, foi uma decisão de vida. Refletida e pensada, mas também, confesso, querida e desejada. E que por isso mesmo tem tanto de emocional como de racional”, afirmou o candidato, que tem já o apoio formal do PSD.

Carlos Moedas começou a sua declaração dizendo encarar este desafio “com alegria, humildade e grande sentido de responsabilidade”.

“Estou aqui para Lisboa. Estou aqui para os lisboetas, para com elas e com eles mudar Lisboa”, disse.

Carlos Moedas falava no átrio do Pavilhão Central do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, tendo por trás um fundo azul com o ‘slogan’ Novos Tempos.

“Decisão emocional, porque Lisboa é, de certa forma, a minha terra. Aquela que me adotou quando tinha 18 anos, no mês de setembro de 1988, entrei aqui no Instituto Superior Técnico”, afirmou, dizendo que nunca esquecerá o dia em que chegou à capital.

Natural de Beja, Moedas admitiu que essa viagem, primeiro de comboio até ao Barreiro e, depois, de barco para Lisboa, o marcou para sempre.

“Não tinha dúvidas, aquela seria a minha cidade. Foi, passou a ser e é a minha cidade. Viajei pelo mundo, mas voltei sempre para Lisboa, por que nada, mas nada, se compara com Lisboa”, afirmou.

Moedas, que era atualmente administrador da Gulbenkian, admitiu que seria mais fácil ficar no “conforto” da sua vida, sobretudo em “momentos tão incertos, instáveis e difíceis”.

“Mas este momento não era o momento de dizer não. Era o momento de dizer sim. Sim à minha cidade”, afirmou.

Do lado da racionalidade da sua decisão, Moedas colocou o futuro da sua área política e o da cidade.

“É importante para a nossa democracia unir o centro-direita em Portugal”, defendeu, por um lado.

Por outro, o candidato disse que nestes 32 anos desde que chegou a Lisboa viu a cidade crescer e desenvolver-se.

“Mas nem sempre no bom sentido. Nem sempre no sentido certo. Nos últimos anos, a cidade foi perdendo muito daquilo que tinha e de certa forma daquilo que é essencial numa capital europeia”, afirmou, considerando que Lisboa perdeu “a ligação com as pessoas”.

Justificando o ‘slogan’ hoje apresentado, o candidato afirmou que “os novos tempos já chegaram”, considerando que quem “está no poder há 14 anos” não se deu conta.

“Os novos tempos vão exigir uma das maiores reconstruções que Lisboa já viveu - económica, social, cultural e ambiental, mas sobretudo humana. Uma das maiores reconstruções de que há memoria. E para estes novos tempos para reconstruir Lisboa, os lisboetas podem contar comigo”, afirmou.

“Este é o meu sonho, não tenho outro”

“Eu estou aqui para ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa, deixei a minha vida toda para me concentrar neste projeto, neste objetivo, e os que me conhecem sabem que, em todos os mandatos políticos em que me concentrei foi para levá-los até ao fim”, disse.

Carlos Moedas assegurou que o seu “projeto de vida é ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa”, considerando que existe “uma oportunidade” de construir uma alternativa na capital.

“Este é o meu sonho, não tenho outro”, assegurou.

Questionado se, em caso de derrota, assumirá o cargo de vereador respondeu afirmativamente, embora não querendo colocar esse cenário.

“Estou aqui para ganhar e a convicção que tenho é que vamos conseguir ganhar, porque vamos aglomerar muita gente (…) Sim, assumirei se esse for o caso, que não será”, disse.

Carlos Moedas agradeceu o “apoio incondicional” do presidente do PSD, Rui Rio, que considerou exercer o seu mandato “numa situação muito difícil” do país, no meio de uma pandemia.

“É uma pessoa que me deu todo o apoio e vamos continuar a trabalhar. Eu em Lisboa, com uma coligação largada, mas eu sou membro do PSD e estarei sempre aqui para ajudar o meu partido e o líder do meu partido”, afirmou.

Moedas escusou-se a responder à pergunta se falou ou não com o antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho - de quem foi secretário de Estado - neste processo, dizendo que as “conversas entre amigos são privadas”.

Também sem resposta ficou a pergunta se falou com o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, antes ou depois de aceitar o convite.

“Qualquer conversa que possa ter tido ou não, não confirmo nem desminto”, disse.

Questionado sobre a dificuldade da tarefa de vencer Lisboa - o PSD teve pouco mais de 11% nas últimas autárquicas na capital -, Moedas reiterou a ambição de vencer.

“Os números do passado são o que são, o que farei é dar tudo o que tenho, falar com as pessoas daqui até às eleições e tenho a ambição de vencer, as pessoas querem uma alternativa”, considerou.

Moedas chegou mesmo a dizer que o desafio de concorrer a Lisboa foi “um chamamento” ao qual “não podia dizer que não”.

“Quero que outros se juntem"

“Estamos perante novos tempos e muitos, incluindo aqueles que estão no poder, na câmara, no município de Lisboa há quase 14 anos, acho que não se deram conta que esses tempos já chegaram”, defendeu.

Carlos Moedas agradeceu ao seu partido, o PSD, assim como ao CDS, pelo apoio e também à Iniciativa Liberal pelo diálogo já encetado.

Referiu que o PPM, MPT e Aliança já lhe transmitiram apoio e salientou que pretende que outras forças se juntem

“Quero que outros se juntem. Sobretudo independentes vindos da sociedade civil, desencantados ou desinteressados da política ou simplesmente cansados desta governação socialista”, disse.

Questionado pelos jornalistas sobre a criação da mega-coligação e o facto de o cartaz que presente na iniciativa de hoje não ter nenhum símbolo partidário, Moedas disse que o seu “critério na vida tem sido sempre o mérito”, que “pode vir de pessoas que estão ligadas a partidos ou pode vir de pessoas que estão fora dos partidos”.

“E é realmente nisso que eu quero apostar. Em ter uma equipa que seja diferente, que tenha a capacidade de mudar Lisboa, porque aquilo que eu faço como pessoa não chega, aquilo que fazemos como indivíduos não chega. São as equipas”, defendeu.

“Espero voltar a ter oportunidade de estar aqui com aqueles que se juntarem, dentro de não muito tempo, para conseguirmos então apresentar essa coligação que terá logótipos de partidos, mas que também terá essas pessoas, esses independentes e essa visão para Lisboa”, acrescentou.

Relativamente às suas prioridades para a cidade, o ex-comissário europeu vincou que haverá “muito tempo” para as discutir, realçando, porém, que “é claro para os lisboetas que muitas das promessas que foram feitas por este presidente da câmara não foram cumpridas”.

“Estamos a falar da habitação, estamos a falar de seis mil casas que foram prometidas em habitação a renda acessível, estamos a falar em 14 centros de saúde que também foram prometidos e que não estão lá. Estamos a falar na mobilidade, estamos a falar de tantos aspetos”, sustentou.

Carlos Moedas sublinhou, igualmente, que Lisboa não pode concentrar-se apenas no turismo e nas feiras internacionais. “Lisboa tem que ser também para os lisboetas”, considerou.

Segundo o candidato à Câmara Municipal de Lisboa, a cidade dos “novos tempos” tem de centrar-se na resolução dos problemas concretos das pessoas, na Ciência, na Inovação e na Tecnologia, assim como na Cultura “como base inspiradora da cidade”.

Ao fim de cinco anos como comissário europeu, Moedas diz ter encontrado uma cidade “em que a pobreza e os sem-abrigo são cada vez mais uma realidade, em que o trânsito se tornou impossível” e “em que a sujidade das ruas salta aos olhos”.

Por isso, o “que está em jogo”, reforçou, “é derrotar esta governação” da autarquia.

O ex-comissário europeu foi apresentado na semana passada como candidato do PSD, tendo já recebido o apoio do presidente do CDS-PP, e mantido reuniões com a Iniciativa Liberal e outros partidos sem representação parlamentar como o PPM, MPT ou Aliança.

Nas últimas autárquicas, em 2017, PSD e CDS-PP concorreram separados à Câmara Municipal de Lisboa, numas eleições ganhas pelo socialista Fernando Medina, que obteve 42% dos votos e perdeu a maioria absoluta na capital.

A então líder do CDS-PP Assunção Cristas ficou em segundo lugar, com 20,6% (perto de 52 mil votos), numa candidatura apoiada também por MPT e PPM e que elegeu quatro vereadores.

Nessa eleição, o PSD teve como candidata a então deputada Teresa Leal Coelho, que ficou em terceiro lugar, com 11,2% (correspondentes a pouco mais de 28 mil votos), elegendo dois vereadores.