No dia em que a presidente do executivo comunitário, Ursula von der Leyen, anunciou a abertura de uma investigação contra subvenções no setor dos automóveis elétricos provenientes da China, funcionários da instituição revelaram, num encontro com a imprensa europeia incluindo a Lusa, que, atualmente, as marcas chinesas detêm 8% da quota de mercado da União Europeia (UE), “após terem começado do nada há cerca de três anos”.
“Por uma série de razões, estimamos que, num período de tempo muito curto, esta quota de mercado possa facilmente duplicar”, fixando-se em 15% em 2025, precisaram.
Além disso, “vemos as marcas chinesas a subcotar os preços na UE, em comparação com a indústria produtora europeia, em cerca de 20%”, referiram as mesmas fontes.
“A vantagem desleal gerada pelo regime de subvenções [chinesas] e a limitação das medidas de compensação não significam o encerramento do mercado para os veículos elétricos chineses, mas abordariam o nível significativo de diferença de preços a que assistimos atualmente no mercado da UE, que acreditamos ser em grande parte devido a estas subvenções prejudiciais”, argumentaram os funcionários do executivo comunitário.
Estes responsáveis frisaram ainda a que “a rapidez da aquisição da quota de mercado é um sinal muito claro da possível ameaça de prejuízo para a indústria produtora europeia, numa situação em que, através da importação subsidiada, a sua quota de mercado no mercado interno cairia a um ritmo tal que simplesmente não seria capaz de sustentar os investimentos necessários para manter a sua atividade no mercado interno” comunitário.
Hoje, no seu discurso sobre o Estado da União em 2023, na sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo, Ursula von der Leyen vincou que “a concorrência só é verdadeira se for justa”, observando que “os mercados mundiais estão agora inundados de carros elétricos chineses mais baratos”.
“Isto está a distorcer o nosso mercado e como não aceitamos isto a partir de dentro, também não o aceitamos a partir de fora, por isso, posso anunciar hoje que a Comissão vai lançar uma investigação contra as subvenções aos veículos elétricos provenientes da China”, revelou a responsável.
E garantiu: “A Europa está aberta à concorrência, [mas] não para uma corrida ao fundo do poço. Temos de nos defender contra práticas desleais”.
No caso dos apoios chineses, o preço dos veículos elétricos “é mantido artificialmente baixo graças a enormes subsídios estatais”, criticou a líder do executivo comunitário.
A China, que tem emergido como potência económica, tem avançado com uma robusta estratégia de investimento estatal, à qual a UE tem vindo a responder com avisos de que a sua cooperação entre Bruxelas e Pequim deveria reger-se pelo princípio da equidade.
Em causa estão subvenções a empresas chinesas a investir no estrangeiro, principalmente em setores estratégicos, através de companhias detidas pelo Estado que beneficiam de financiamento público chinês, o que no caso da UE coloca as entidades europeias em desvantagem.
De acordo com os funcionários da Comissão Europeia, a investigação agora iniciada surge após vários meses de observação do mercado e de recolha de provas. Agora, será definido um período de inquérito ao executivo chinês para determinar os regimes estatais existentes e, de seguida, determinar as medidas a aplicar para salvaguardar a concorrência na UE (como a devolução das verbas de apoio).
A UE é um importante para estes fabricantes chineses já que outros mercados — como Estados Unidos, Índia e Turquia — impõem elevados direitos aduaneiros.
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