“A Casa da Arquitetura quer, eu diria que num prazo de três anos, conseguir fazer essa grande exposição do Metro”, disse o diretor-executivo da instituição, Nuno Sampaio, à Lusa, a propósito dos 20 anos da operação comercial da Metro do Porto, que se celebram na quarta-feira, num ano em que a instituição sediada em Matosinhos também comemora cinco anos de existência.
Em 2017, quando foi inaugurada, a Metro do Porto doou o seu espólio à Casa da Arquitetura mas, apesar das intenções anunciadas à data, ainda não se realizou a exposição temática sobre o tema.
À Lusa, a Casa da Arquitetura mostrou parte do acervo doado pela empresa, entre os quais um abrigo tipo, modelos de veículos, estudos para várias travessias de pontes, maquetas da não concretizada linha de Valbom (Gondomar), entre outros.
“O acervo é constituído por 82 projetos de 12 arquitetos, num total de 29 maquetes, mais de 25 mil fotografias digitais e mais de 5.000 documentos digitais (entre desenhos e textual)”, adiantou fonte oficial da Casa da Arquitetura à Lusa.
Além do doado pela Metro, a Casa conta também com o material do arquiteto Eduardo Souto de Moura, coordenador arquitetónico do projeto e autor de várias estações, como Faria Guimarães, Casa da Música ou Campo 24 de Agosto, também expostas à Lusa.
Nuno Sampaio considera que a implementação do Metro no Porto nos concelhos da área metropolitana onde circula consistiu num processo de “disseminação positiva” de uma mesma linguagem arquitetónica.
Segundo o arquiteto, o Metro dá “a imagem de um projeto que tem uma unicidade, uma mesma linguagem, que tem uma mesma identidade”, algo feito “a partir do desenho e a partir da conceção de uma pessoa como o arquiteto Eduardo Souto de Moura, que é um pragmático”.
“A vantagem do Metro do Porto em si só é que criou uma linguagem arquitetónica de tal maneira qualificada que foi contaminar, primeiro, as áreas envolventes às estações, e depois as próprias cidades utilizaram essa linguagem”, apontou.
Como exemplo, Nuno Sampaio usou o momento da chegada a uma estação, em que se percebe “que o espaço público muda de qualidade, e muda positivamente”.
“Na cidade à superfície nós temos uma dimensão tempo e uma sobreposição de uma construção informal de vários arquitetos, de pessoas que não são arquitetas que durante muitos anos fizeram a cidade”, referiu.
Os municípios foram tentando “coser todas estas intervenções do edificado, às vezes melhor ou pior, tentando a melhor resposta, mas é uma resposta muito múltipla”.
“Na questão do Metro do Porto o problema era de tal maneira gigantesco, de introduzir uma infraestrutura destas, que se fosse mal introduzida poderia rebentar com a cidade”, considerou.
O Metro “não só resolveu o seu problema, que era a infraestrutura em si, como qualificou, ele próprio, a cidade”, alastrando a outros municípios.
O responsável relevou “as estações [subterrâneas] em si, que são peças de arquitetura que em vez de serem em altura são em profundidade”, não esquecendo “todo o tratamento da superfície envolvente”.
“Quando se unem pontos, são pontos que fazem sentido para a cidade que está à superfície”, adotando “uma metodologia que constrói não só o canal subterrâneo”.
Nuno Sampaio lembrou ainda as palavras de uma “colega paisagista, em 2007”, dizendo que “a necessidade do uso de carro numa cidade é sinal de suburbanidade”, reconhecendo, na altura, o choque.
“Utilizava muito o carro e chamar à minha cidade suburbana era algo que quase me ofendia. Mas a verdade é que em Manhattan (Nova Iorque, Estados Unidos) ninguém se lembra de levar o carro para o centro”, concluiu.
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