Aníbal Cavaco Silva, antigo primeiro-ministro do PSD e ex-Presidente da República, encerrou o encontro nacional dos Autarcas Social-Democratas (ASD), em Lisboa, a acusar "o PS e o seu governo" de "colocaram o país na trajetória de empobrecimento e de profunda degradação política nacional".

Elogiando Luís Montenegro, considerou que o PSD tem identificado bem o seu adversário político - o governo socialista - e que "não deve dispersar energias com outros partidos nem responder às provocações que deles possam vir, assim como de alguns analistas políticos".

"Situação de salários baixos, pensões de reforma que não permitem uma vida digna, o empobrecimento da classe média, a má qualidade dos serviços públicos, como a educação, a saúde e a justiça, são o resultado das políticas erradas do governo, da sua desarticulação e desnorte, da falta de rumo e da falta de visão estratégica", acrescentou Cavaco Silva.

Acusou também o Governo de ser especialista em "mentira e propaganda" e questionou se "seria possível um Governo descer tão baixo em matéria de ética política", referindo-se à TAP.

“Há que resgatar o debate político porque ele é importante em democracia. Segundo o que vemos, ouvimos e lemos, existem duas áreas em que o Governo socialista é especialista: na mentira, e na propaganda e truques”, acusou Aníbal Cavaco Silva.

"Durante um mês não houve um dia em que na imprensa ou na televisão não fosse feita a demonstração de que o Governo mente. Perguntem aos vossos munícipes se ainda se pode acreditar em quem passa os dias a mentir", acusou.

Na opinião de Cavaco Silva, “não tendo obra para apresentar”, o Governo “considera que o importante é ter uma boa central de propaganda” com o objetivo de “desinformar, condicionar, iludir, anestesiar e enganar os cidadãos, procurando esconder a situação a que conduziu o país”.

“Vemos, ouvimos e lemos sobre a desastrosa intervenção do Estado na TAP. Digo apenas, senhores autarcas, que perguntem aos portugueses se alguma vez imaginaram que seria possível um Governo descer tão baixo em matéria de ética política e desprezo pelos interesses nacionais”, acusou.

Cavaco Silva afirmou que “da TAP tem-se falado em abuso de poder e dos milhões de desperdício dos governos públicos”, acrescentando que “há, no entanto, por aí, muitos mais milhões desperdiçados”.

O antigo líder do PSD afirmou que o governo socialista liderado por António Guterres “deixou o país num pântano”, o governo do PS liderado por José Sócrates “deixou o país na bancarrota” e o governo de António Costa, apesar dos apoios europeus, “vai deixar ao próximo Governo uma herança extremamente pesada”.

“Não exercendo o primeiro-ministro as competências que a Constituição explicitamente lhe atribui, e sendo o Governo um somatório desarticulado e sem rumo de ministros e secretários de Estado, incapaz de lidar com a crispação social e os grupos de interesse, a sua tendência será para distribuir benesses e comprar votos e para despejar dinheiro para cima dos problemas e não para preparar um futuro melhor para Portugal”, acusou.

Para o antigo primeiro-ministro, “a ideologia que orienta a ação do Governo resume-se a permanecer no poder e controlar o aparelho do Estado, sem olhar a meios”.

“Em matéria de ideologia o Governo é um vazio, a palavra socialista é apenas um 'slogan'. Na palavra pública e nas atitudes dos membros do Governo escasseia a competência, mas abunda o populismo e a hipocrisia”, criticou.

"O escrutínio das pessoas escolhidas pelo primeiro-ministro para exercer as funções de ministro é da sua exclusiva responsabilidade, não pode ser feito na praça pública e não deve tentar escamotear essa responsabilidade", alertou.

Para Cavaco Silva, António Costa perdeu a autoridade e não desempenha "as competências que a constituição lhe atribuem", acrescentando que, por vezes, os primeiro-ministros "decidem apresentar a sua demissão" devido a "um rebate de consciência".

“Em princípio, a atual legislatura termina em 2026. Mas às vezes os primeiros-ministros, em resultado de uma reflexão sobre a situação do país ou de um rebate de consciência, decidem apresentar a sua demissão e têm lugar eleições antecipadas – foi isso que aconteceu em março de 2011”, afirmou o também antigo primeiro-ministro do PSD.

Defendeu ainda que "o PSD não deve ir a reboque de moções de censura apresentados por outros partidos mais preocupados em ser notícia na comunicação social". Notou que o atual governo "goza de apoio maioritário na assembleia da república. Essas moções de censura servem os interesses do Governo socialista, desviam as atenções e dos erros da sua governação".

Quanto a Montenegro, o ex-Presidente da República considerou que o líder do PSD está "tão ou mais bem preparado” do que ele próprio quando foi chefe de Governo, defendendo que os sociais-democratas são “a única alternativa" ao PS.

“O doutor Luís Montenegro tem mais experiência política do que eu tinha quando eu subi a primeiro-ministro em 1985, e está tão ou mais bem preparado do que eu estava”, defendeu.

Na opinião de Cavaco Silva, “o PSD é inequivocamente a única, verdadeira alternativa credível ao poder socialista” que assenta numa "oligarquia que se considera dona do Estado", disse num discurso perante uma plateia cheia e que foi o mais aplaudido do dia.

Segundo Cavaco, “é totalmente falsa a afirmação de que o PSD não tem apresentado políticas alternativas ao poder socialista”, insistindo que “o PSD é a única opção credível para todos os que queiram libertar Portugal de uma oligarquia que se considera dona do Estado”.

Num discurso duro para a governação socialista, Cavaco Silva elogiou os “programas bem estruturados” já apresentados pela atual liderança do PSD, deixando algumas sugestões ao líder do PSD, que o ouvia na primeira fila, ao lado do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas.

“Na minha opinião, o PSD não deve cometer o erro de pré anunciar qualquer política de coligações tendo em vista as próximas eleições legislativas. Se o PS, que está em queda, não o faz, porque é que o PSD, que está a subir, deve fazê-lo?”, questionou.

Para Cavaco, o programa eleitoral do PSD “só deve ser apresentado na proximidade do ato eleitoral, como é normal, de modo a ter em devida conta os desenvolvimentos recentes na cena nacional e internacional”.

Cavaco Silva falava no encerramento do 3.º Encontro Nacional dos Autarcas Social-Democratas (ASD), em Lisboa.

*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pela jornalista Ana Maria Pimentel

*Com Lusa

(Artigo atualizado às 23h06)