No ar, o apetitoso cheiro de pimento assado nas brasas denunciava os preparativos dos muitos restaurantes do centro histórico da terra do "Barrete Verde" para a clientela e Jerónimo de Sousa foi distribuindo beijos, apertos de mão e abraços à população - a verdadeira "sondagem positiva", devido ao apoio sentido num município em que comunistas, ecologistas e independentes gozam de maioria absoluta.
"Fizemos caminho, mas estamos a meio-caminho. Algumas das medidas mais urgentes, que resultaram da brutalidade da política do Governo anterior foram arredadas, ultrapassadas. Houve avanços na reposição de rendimentos e direitos. Ainda falta muito caminho", disse, questionado sobre se a posição conjunta que viabilizou o Governo do PS poderá desmobilizar a militância na CDU e beneficiar os socialistas até em face aos bons resultados económicos.
Quase no final da "arruada", a comprovar a sã "convergência" nacional, dezenas de apoiantes da candidatura local do PS, munidos de bandeiras, camisolas e acompanhados de bombos e instrumentos de sopro, avançaram pelo largo de São João, onde estava instalado o palanque para o discurso final do secretário-geral do PCP, e cruzaram-se com as dezenas de militantes e ativistas da CDU na estreita rua Comendador Estevão de Oliveira.
O que noutros tempos poderia ter resultado, no mínimo, em troca de palavras menos agradáveis, reduziu-se a cumprimentos simpáticos entre os conhecidos de diferentes cores partidárias da zona, Jerónimo de Sousa incluído: "há que encará-lo democraticamente".
"Ele [António Costa] tem de dizer alguma coisa na campanha eleitoral. É o responsável e secretário-geral do PS. Não seria de esperar, no quadro de uma disputa eleitoral que viesse a fazer apelos ao voto na CDU", ironizou o líder comunista quando confrontado com o pedido da véspera do chefe do executivo de maioria absoluta em território da CDU, na margem sul do Tejo.
E a caravana CDU lá foi seguindo, na zona ribeirinha, com vista panorâmica para o estuário do rio e a capital portuguesa, com as suas palavras de ordem, ao som da Charanga Huga do Rosário (Moita do Ribatejo) para ouvir Jerónimo de Sousa justificar os votos com o trabalho desenvolvido na autarquia.
"Nós temos, por princípio, sempre uma dúvida razoável em relação às sondagens. Se verificarmos aquelas que vão sendo publicadas, elas contradizem-se a si próprias, com valores totalmente alteradas, que mudam em conformidade com a sondagem", respondeu o líder do PCP sobre os estudos de opinião entretanto conhecidos.
A autarquia de Alcochete, localizada no distrito de Setúbal, é liderada pela CDU, num executivo que tem também representação do PS e do CDS-PP. Após Luís Franco atingir o limite de mandatos, candidata-se agora pela CDU José Alfélua, contra Vasco Pinto (CDS/PSD), Fernando Pinto (PS) e Paulo Machado (independente) e Luís Gonçalves (PCTP/MRPP).
"Nas eleições anteriores, não temos verificado esse conforto e essa desistência. As eleições autárquicas são sempre portadoras de uma grande abstenção. Sempre há processos de abstenção que não vão ser resolvidos nestas eleições. A melhor arma é este nosso estilo de campanha, estes contactos diretos com as pessoas, procurando esclarecê-las. Estamos confiantes de que o eleitorado CDU não vai sentir-se confortável e ficar em casa. Vai votar CDU", concluiu Jerónimo de Sousa, inquirido sobre a possibilidade de menor participação.
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