A mostra, intitulada “O Sentido do Encontro”, vai ser apresentada pela Fundação Cupertino de Miranda, juntamente com o Ministério da Cultura, em parceria com a SNBA, reunindo sete entidades que pretendem manter viva a obra e memória do artista.
A iniciativa envolve ainda a Biblioteca Nacional de Portugal, o Centro Português de Serigrafia, o Centro de Arte Moderna — Museu Calouste Gulbenkian, e o Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, de onde provêm as peças de Cruzeiro Seixas.
Artur Manuel do Cruzeiro Seixas morreu em 2020, apenas a 25 dias de completar o centenário do seu nascimento.
Esta exposição irá reunir algumas das mais importantes obras de Cruzeiro Seixas, acedendo às diferentes técnicas desenvolvidas pelos surrealistas, especialmente o ‘cadavre-exquis’, inventado pelos surrealistas franceses em 1925, à qual os surrealistas portugueses deram continuidade, quer na expressão plástica, quer na literária.
O ‘cadrave-exquis’ foi uma técnica artística coletiva, que habitualmente usava o papel dobrado em tantas partes quantos os participantes que, sem verem o que o anterior artista desenhava, apenas pegando nalgumas linhas e formas que chegavam ao limite da dobra, tinham de lhe dar continuidade, sem qualquer limitação da imaginação.
Esta técnica afirmava-se como um “ato de liberdade” para os surrealistas, e baseava-se também no automatismo e no subconsciente, cujo resultado seria fruto do acaso para a construção de uma imagem ou de um poema visual sem o controlo da razão.
Os objetos expostos são também um marco na obra de Cruzeiro Seixas, falecido aos 99 anos, assim como os desenhos à pena e a técnica da colagem.
A mostra que encerra o centenário irá ainda destacar o seu percurso por África, com pequenas esculturas etnográficas, e obras realizadas no período em que esteve naquele continente.
Inclui também os seus “Diários Não Diários”, um registo de memórias, projetos e ideias, recorrendo essencialmente à colagem com fragmentos de vivências, criando um espaço de pensamento com simples alusões diárias do que se passava no seu universo pessoal e profissional.
Será também exibido o filme de Cláudia Rita Oliveira — “As Cartas do Rei Artur” – dedicado ao artista, a quem muitos chamavam mestre, e que tem sido alvo de homenagens por várias entidades, nomeadamente na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em Paris, em maio deste ano, com a mostra “Cruzeiro Seixas — Teima em ser poesia”, organizada pela Fundação Cupertino de Miranda.
O artista doou, em 1999, o seu acervo artístico à Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, que tem vindo a salvaguardar, exibir e publicar a obra deste nome fundamental do Surrealismo em Portugal, autor de um vasto trabalho no campo do desenho e pintura, assim como na escultura e em objetos/escultura, além da literatura, com uma extensa obra poética.
Cruzeiro Seixas teve um longo percurso artístico, começando por uma fase expressionista, outra neorrealista e outra, com início no final dos anos 1940, mais prolongada, no movimento surrealista português, ao lado de Mário Cesariny, Carlos Calvet, António Maria Lisboa, Pedro Oom e Mário-Henrique Leiria.
Foi esse movimento artístico surgido no início do século XX, que viria a revolucionar a arte, que provocou nele uma acesa paixão criadora que manteria até ao fim da vida. Em 2011, numa entrevista à agência Lusa, declarou, convicto, sobre o Movimento Surrealista: “Até hoje, nada apareceu de melhor”.
Artur Cruzeiro Seixas deixou um vasto trabalho nas artes plásticas e visuais, e foi também um poeta prolífico.
Em 2020 foi lançado o segundo volume da sua “Obra Poética”, com chancela da Porto Editora, organizada por Isabel Meyrelles, outro nome essencial do surrealismo português, bem como a obra “Eu Falo em Chamas”, pela Fundação Cupertino de Miranda.
Em outubro desse ano, ainda em vida, Cruzeiro Seixas – nascido a 03 de dezembro de 1920, na Amadora – foi distinguido com a Medalha de Mérito Cultural, pelo contributo para a cultura portuguesa.
A exposição “O Sentido do Encontro” é inaugurada a 03 de dezembro, às 18:00, na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, e ficará patente até 26 de fevereiro de 2022.
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