Em “The Divider: Trump in the White House, 2017-2021”, livro assinado pelos jornalistas Peter Baker e Susan Glasser, surge a informação que John Kelly recorreu a uma obra escrita por 27 especialistas em saúde mental em que estes alertavam para incapacidade psicológica de Donald Trump para desempenhar as suas funções como Presidente dos EUA.

A informação é adiantada pelo jornal britânico The Guardian, que obteve uma cópia adiantada do livro de Baker e Glasser, a ser lançado na próxima semana nos EUA.

John Kelly, que foi Chefe de Gabinete da Casa Branca entre julho de 2017 e janeiro de 2019, comprou e consultou secretamente o livro “The Dangerous Case of Donald Trump”, onde especialistas em saúde mental fizeram uma avaliação psicológica do ex-presidente a partir das suas intervenções públicas. De acordo com Baker e Glasser, o general aposentado fê-lo para tentar impôr ordem numa administração cada vez mais caótica.

“Ele tentou perceber quais as psicoses particulares do presidente e consultou-o enquanto geria a Casa Branca, que passou a ser comumente tratada por ele como ‘Crazytown’ [‘Cidade de Loucos’]”, escrevem os dois jornalistas, que entrevistaram Kelly.

O antigo funcionário sénior da Casa Branca chegou mesmo a dizer aos colegas “que o livro era um guia útil quanto a um presidente que acabou por considerar um mentiroso patológico, cujo ego inflacionado é, na verdade, o sinal de uma pessoa profundamente insegura”, adiantam Baker e Glasser.

As dúvidas quanto às capacidades mentais de Trump foram partilhadas entre funcionários superiores, que comentaram entre si que o ex-presidente “não ouve ninguém, e sente que não precisa. Não quer saber do que as outras pessoas dizem ou pensam”.

A gravidade chegou a tal ponto que, segundo o mesmo livro, os membros do gabinete de Trump chegaram mesmo a discutir a decisão de invocar a 25ª. Emenda — que serve para substituir um presidente que esteja incapaz de cumprir as funções do cargo — “meros meses depois de ele tomar posse”.

No entanto, o risco de Trump recusar-se a invocar tal artigo da Constituição dos EUA foi demasiado grande, já que tal significaria que seria ainda mais difícil influenciar as suas decisões depois de ser posto em causa de tal maneira.

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De resto, Trump refutou várias vezes quaisquer afirmações quanto à sua saúde mental ou às preocupações do seu staff quanto à mesma. Foi, aliás, na discussão desse tema com o jornalista Michael Wolff que proferiu a já célebre frase “I’m a very stable genius [sou um génio muito estável]”.

Kelly, que já fazia parte da administração de Trump desde janeiro de 2017 enquanto secretário de Segurança Nacional, foi escolhido para substituir Reince Priebus, demitido pelo ex-presidente através de um tweet. O ex-general aguentou-se no cargo até ao final de 2018: para o seu lugar foi escolhido Mick Mulvaney, que tomou posse a 2 de janeiro de 2019.

Apesar de Kelly e Trump terem escondido a acrimónia que tinham um pelo outro — Trump descreveu-o como “um grande homem” e disse ter apreciado os “seus serviços” quanto anunciou a sua saída —, os dois têm-se atacado mutuamente.

Em plena campanha para as presidenciais de novembro de 2020 — que Trump viria a perder — CNN reportou que Kelly disse a amigos que a desonestidade do ex-presidente é “notável e mais patética do que qualquer outra”, e que Trump é “a pessoa mais falível” que já conheceu. Por seu lado, Trump contradisse as suas declarações prévias, dizendo que Kelly “não fez um bom trabalho, não tinha temperamento para aquilo e esgotou-se”. “Foi comido vivo”, atacou o ex-presidente.