"[Lembro-me de] Um homem com uma vontade de afirmação muito grande, creio que isso mesmo o levou a voluntariar-se para a Guerra da Argélia, podia não ter ido. Era um homem extremamente determinado e com uma grande capacidade de liderança que o levou a ser braço direito de Pompidou", disse o antigo chefe de Estado português, em declarações aos jornalistas, no final da cerimónia na igreja de Saint Sulpice, na capital francesa.
Ramalho Eanes deslocou-se a Paris a pedido de Marcelo Rebelo de Sousa para representar Portugal nas exéquias fúnebres de Jacques Chirac que decorreram esta segunda-feira de manhã e que juntaram vários líderes mundiais como Vladimir Putin, mas também o antigo presidente norte-americano Bill Clinton e o rei Abdallah II da Jordânia.
O antigo Presidente recordou um encontro com o líder francês quando ainda estava em funções e Chirac era presidente da Câmara de Paris.
"O que guardo mais é o seu papel como prefeito de Paris. Em 1979, visitei Paris e estive com ele num almoço que ele ofereceu. Ouvi-o falar dos portugueses de uma maneira muito elogiosa e numa reunião que tive com os portugueses tive ocasião de perguntar que tal era o autarca e todos diziam que era um indivíduo extraordinário", recordou Eanes.
As posições de Chirac como a recusa da entrada na Guerra do Iraque foram enaltecidas pelo antigo chefe de Estado português, para quem o seu homólogo francês marcou uma divisão na V República francesa, entre uma república "monárquica" e uma república mais popular.
Sobre a política em França, Ramalho Eanes considerou que a esquerda "está numa situação difícil" e que "a direita também está", relembrando o confronto entre Chirac e Le Pen na segunda volta das eleições de 2002.
"Não nos podemos esquecer que nas eleições de 2002, ele [Chirac] foi à segunda volta com Le Pen, o que é uma coisa extraordinária. Na altura, teve uma atitude que é democraticamente correta e intransigente. Não quis debates com o outro senhor, porque entendia que os debates eram estar a conferir uma situação de legitimidade entre ele, que defendia a democracia, e Le Pen, que defendia coisas muito diferentes", afirmou.
As cerimónias desta manhã aconteceram com honras de Estado, com a presença do Presidente Emmanuel Macron e todos os outros presidente da República francesa ainda vivos: Valéry Giscard d'Estaing, Nicolas Sarkozy e François Hollande.
O enterro de Jacques Chirac vai decorrer no cemitério de Montparnasse durante a tarde, numa cerimónia reservada apenas à família. Jacques Chirac foi Presidente de França entre 1995 e 2007 e morreu na semana passada aos 86 anos.
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