A assessora de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, informou esta quinta-feira, 28 de fevereiro, que a segunda cimeira entre Donald Trump e Kim Jong-un foi encurtada e o almoço previsto entre os dois líderes não se realizou. Sanders acrescentou que "não foi concluído um acordo, mas as duas delegações vão continuar a dialogar no futuro".
Momentos mais tarde, numa conferência de imprensa que estava marcada para as 16:00 e foi remarcada para as 14:00 (07:00 em Lisboa), Trump explicou os motivos para o fim abrupto da cimeira.
Apesar de considerar que o encontro com o líder norte-coreano e a sua delegação foi "um tempo produtivo", Trump disse que ambos acordaram que "não eram um bom momento para assinar nada". Descrevendo a relação entre ambos como "muito forte", Trump assumiu, todavia, que por vezes "é preciso ir embora".
E o que levou o líder norte-americano a abandonar as negociações foi um diferendo relativamente ao levantamento das sanções impostas à Coreia do Norte. "Basicamente, eles queriam as sanções totalmente suspensas [em troca do desmantelamento da base de Yongbyon] e nós não estávamos dispostos a fazer isso". Trumo escusou comentar, pelo contrário, um aumento das sanções à Coreia do Norte.
Questionado sobre a visão de Kim Jong-un sobre a desnuclearização, Trump respondeu que este "tem uma certa visão. Não é exactamente a nossa visão, mas está mais próxima do que há um ano".
Apesar do falhanço das negociações em Hanói, Trump garantiu que o "relacionamento" entre os dois países e respectivos líderes vai manter-se. "Eu confio nele e na sua palavra", disse ainda o presidente norte-americano quando questionado sobre compromissos alcançados no primeiro encontro, em junho de 2018, altura em que Kim Jong-un se comprometeu a parar com testes balísticos. Foi uma discussão "amigável", disse Trump, assegurando que ninguém saiu chateado e que não irão ter lugar novos testes balísticos.
"Poderia ter assinado algo hoje", mas "é melhor fazer bem do que rápido", sumariou o presidente norte-americano, reiterando uma postura que já tinha assumido no início deste encontro.
Neste momento, adiantou Trump em resposta aos jornalistas, não ficou fechado qualquer compromisso sobre um novo encontro entre os dois líderes. "Pode ser em breve, ou pode demorar. Eu espero que seja em breve, mas pode demorar algum tempo". "[Um acordo] deveria ter sido alcançado por presidentes antes de mim. Não estou apenas a culpar a administração Obama, (...) estou a culpar várias administrações", acrescentou.
No início das negociações, os dois líderes admitiram a abertura de gabinetes de ligação nos dois países, enquanto Kim afirmou estar disposto à desnuclearização. Também no arranque do encontro, Trump disse desejar fazer o "acordo certo", mas indicou não ter pressa.
A cimeira Hanói arrancou ontem. O líder norte-americano foi acompanhado pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, e pelo chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney. Kim Jong-un foi acompanhado de Kim Yong Chol, negociador-chave nas negociações com os EUA, e Ri Yong Ho, ministro dos Negócios Estrangeiros.
Ao longo dos últimos meses, Trump tem seduzido o regime norte-coreano com boas perspetivas económicas caso aceite a desnuclearização e se insira na comunidade internacional.
Uma declaração de paz na Guerra da Coreia (1950-1953), que terminou com um armistício, poderia implicar uma redução das tropas norte-americanas na Coreia do Sul, enquanto o alívio das sanções poderia permitir a Pyongyang reiniciar os lucrativos projetos económicos com a Coreia do Sul.
De recordar que os dois líderes reuniram-se pela primeira vez em junho passado, em Singapura. A histórica cimeira terminou, no entanto, sem nenhum compromisso da Coreia do Norte no sentido de abandonar o seu arsenal nuclear.
A Coreia do Norte sofreu já décadas de isolamento e pobreza extrema, incluindo períodos de fome que causaram milhões de mortos, mas não abdicou de desenvolver um programa nuclear como garantia de sobrevivência do regime.
Um tratado de paz que pusesse fim à Guerra da Coreia permitiria a Trump fazer História e encaixaria na sua oposição a "guerras eternas" dispendiosas para os EUA.
A organização da cimeira está a cargo do Vietname, outrora devastado por bombas norte-americanas, mas que é agora um importante parceiro económico e aliado de Defesa dos EUA.
Antes do do encontro, Trump disse mesmo acreditar que a Coreia do Norte se pode inspirar no Vietname, encorajando Kim Jong-un a replicar o processo.
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