“O robot não dispensa pessoas, não dispensa bons médicos, bons anestesistas, bons enfermeiros, mas acrescenta muitas mais-valias”, disse o diretor do serviço de urologia e responsável pelo programa de cirurgia robótica do Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUdSA).
Para hoje estavam agendadas duas cirurgias assistidas por robot: duas remoções totais da próstata devido a cancro em pacientes com 62 e 64 anos.
Diretor do serviço há 12 anos, Avelino Fraga, que falava à agência Lusa à entrada para a primeira cirurgia robótica do dia, descreveu as mais-valias para o profissional, resumindo-as numa palavra: “precisão”.
Com este robot, que ao contrário dos humanos consegue rodar o pulso em 360 graus, o tremor da mão do cirurgião diminui, enquanto aumenta o nível de segurança e de concentração, uma vez que o profissional usa uns óculos e de cada vez que desvia o olhar do campo cirúrgico os braços do robot param.
“Também ajuda porque alguns sítios anatómicos são de difícil acesso. A cirurgia robótica facilita o desempenho cirúrgico e o acesso a áreas anatómicas de difícil controlo”, descreveu Avelino Fraga.
Já as mais-valias para o doente passam pela redução do tempo de internamento, bem como de complicações.
Em termos práticos, e olhando para as duas cirurgias assistidas por robot agendadas para hoje, “esta inovação permite maior desempenho cirúrgico com menores complicações do foro sexual e relacionadas com a continência urinária”.
À Lusa, Avelino Fraga destacou que “o retorno do doente, com mais qualidade de vida, à vida normal é mais rápido”, uma vez que a expectativa é que o paciente passe no hospital não mais de 24 a 48 horas após a cirurgia robótica, enquanto com a laparoscópica normal “demora mais um dia ou dois”.
O uso desta máquina — que custa cerca de dois milhões de euros e chegou em dezembro — tem sido acompanhado de formação realizada na Bélgica.
Além do serviço de urologia, beneficiarão desta máquina, de forma gradual e nas próximas semanas, os serviços de cirurgia geral e de ginecologia.
Paralelamente, e associado ao programa de cirurgia assistida por robot, o CHUdSA está a desenvolver uma solução digital para envolvimento dos utentes.
A ‘Get Ready’ é uma aplicação que permitirá ao doente comunicar com a equipa clínica fora do hospital, antes e depois da cirurgia, assim como consultar conteúdos sobre o procedimento a que irá ser submetido.
As equipas clínicas podem também acompanhar a condição clínica de cada doente durante todo o percurso e recolher dados.
“Não fazia sentido termos robots nos blocos operatórios e continuarmos arcaicos no relacionamento com o doente”, disse o responsável pelo programa de cirurgia robótica do Santo António.
Além desta ‘app’, Avelino Fraga destacou outra característica que distingue o robot adquirido pelo CHUdSA face a outros, que se prende com os consumíveis utilizados.
“Se esta inovação fizesse inflacionar os preços, o hospital não queria cirurgia robótica. Comprometemo-nos que o procedimento cirúrgico não vai ficar mais caro do que a cirurgia laparoscópica e vamos poupar em tempo de internamento e em complicações”, concluiu.
A cirurgia robótica existe há 20 anos e calcula-se que existam cerca de 6.000 robots cirúrgicos no mundo inteiro.
Durante muitos anos, em Portugal e no Serviço Nacional de Saúde (SNS), só o Hospital Curry Cabral, em Lisboa, dispunha de um robot cirúrgico oferecido por uma fundação.
Recentemente quer o Hospital de São João quer o de Santo António, ambos no Norte, anunciaram a compra de robots cirúrgicos ao abrigo de um programa criado pela atual tutela.
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