Numa visita ao site da organização, encontram-se expostos os vários princípios da organização, não só na "Declaração de Estado de Emergência Climática", como também num plano a que chamam "Plano de desarmamento e Plano de Paz".

Para se falar sobre o coletivo Climáximo é necessário recuar ao ano da sua criação, 2015, quando um grupo de pessoas se uniu e, desde essa altura, tem realizado inúmeras manifestações, ações diretas, ações de desobediência civil, alianças, conversas com governos e empresas, tudo com o objetivo de fazer pressão para travar a crise climática.

No seu site, na "Declaração de Estado de Emergência Climática", sublinham que foi em 2019 que assumiram de forma "explícita e consciente, a mudança sistémica como a nossa missão social e política, declarando dentro do Climáximo um estado de emergência climática, e lançando um processo profundo de reestruturação interna". Desde essa altura, todos os anos atualizam as medidas que dizem ter como base a realidade, sendo que consideram o verão de 2023 como o ano da mudança.

Neste sentido, acrescentam que sabiam, em 2019, que "os governos e as empresas não iam travar a crise que criaram, e que nós éramos aquelas de quem estávamos à espera para nos salvar". Porém, acreditaram que "não chegaria a tanto", referindo-se às manifestações que, segundo os próprios, se viram obrigados a fazer.

Apesar disso, foi no verão de 2023, quando observaram "a semana mais quente de sempre", que decidiram tomar medidas mais drásticas a que chamam "guerra".

"Não estamos apenas numa emergência global, estamos em guerra", referem.

Começando pela vertente mais política deste movimento climático, ou seja, aquilo a que chamam o "Plano de desarmamento e Plano de Paz", afirmam ter "o plano para travar a crise climática e construir paz" e prometem parar a "guerra", caso todas as pessoas se comprometam a "parar de consentir com os ataques atuais".

Dividem-no depois em três áreas: o "Plano de desarmamento: Parar a proliferação", o "Plano de desarmamento: Desativar todas as armas" e o "Plano de Paz".

No primeiro, exigem, nomeadamente: "cancelar imediatamente qualquer projeto que aumente emissões em grande escala em Portugal, inclusive a expansão do terminal de GNL em Sines, o novo aeroporto e expansões portuárias e aeroportuárias, e instituir uma moratória que proíbe projetos futuros desta natureza. Não permitir a transferência das emissões de Portugal para outros países através de novos projetos de extração e exploração de combustíveis fósseis".

Isto implica, de acordo com os ativistas, cancelar a expansão do terminal de gás fóssil liquefeito em Sines, a construção e ampliação de aeroportos, a construção e ampliação de gasodutos, a expansão da agricultura intensiva, a expansão de monoculturas de eucaliptos, a construção de novas centrais de produção de energia através de biomassa, porque se baseiam na ideia de plantar e destruir florestas, segundo os ativistas. Deve-se também proibir a construção de novas autoestradas e deve ser cancelada a expansão de extração de combustíveis fósseis de empresas portuguesas em qualquer território.

Querem, além disto, o fim do investimento público em combustíveis fósseis, no qual dizem que o estado português gasta 3.3 milhões de euros por dia em subsídios. Pedem o fim dos jatos privados, carros de luxo, e iates, e que se priorize a ferrovia.

Defendem também o direito à habitação e reclamam a eliminação imediata das empresas, CEOs e acionistas que lucram a partir dos combustíveis fósseis.

Querem também "parar toda a publicidade e patrocínios que legitimizam o mercado fóssil em todos os espaços públicos, como a televisão, rádio, redes sociais, ruas e estradas, nos concertos, teatros e estádios de futebol".

"A publicidade existe exclusivamente para gastar recursos de que precisamos, mercantilizar potencial criativo e artístico e estimular consumos inúteis, aqueles que em crise climática não fazem qualquer sentido. Estes mesmos espaços podem antes ser usados para alertar para os perigos dos combustíveis fósseis ou para consciencializar para a justiça climática", referem.

No "Plano de desarmamento: Desativar todas as armas" querem neutralidade carbónica até 2030, a cessação de produção de eletricidade através de gás natural (responsável ainda por cerca de 30% a 40% da eletricidade consumida em Portugal), e aumento da capacidade de produção de eletricidade através de energias renováveis. Além disso, exigem um serviço coletivo, público e gratuito de transportes públicos e aviação zero, ou seja, acabar com as viagens de avião civil.

Afirmam-se igualmente a favor da economia circular e contra a obsolescência programada e consumo descartável, e têm em vista um sistema alimentar de zero emissões mediante redução de produtos animais, cantinas públicas e compostagem.

Exigem também um aumento do nível de combate aos incêndios, habitação pública, autonomia e eficiência energética nos edifícios, criação de empregos para o clima e eliminar "trabalhos desnecessários para travar a crise climática". Tencionam igualmente que todos os trabalhos tenham apenas 32 horas semanais.

Propõe de forma semelhante taxar os rendimentos mais elevados e as grandes empresas para financiar a transição energética, sair dos tratados de comércio, como o CETA e o acordo UE-Mercosur, deixar de investir em forças de segurança e na indústria militar, alocando estes montantes para o sector dos cuidados, serviços sociais e um serviço nacional do clima, e desmantelar o "colonialismo fóssil".

Como último plano apresentam o "Plano de Paz", onde pretendem garantir saúde, educação, habitação, alimentação, energia renovável e transportes de forma gratuita e no setor público, para todas as pessoas.

"Tudo o que toca no público, deve ser público e a serviço do público, e deve ser retirado do mundo da maximização do lucro", referem.

Exigem ainda o cuidado no centro da economia, ao contrário do lucro que observam. Isto inclui melhor planeamento urbano, entre outros temas de justiça social. Querem também uma transição justa para quem trabalha em indústrias emissoras, para a qual têm um programa.

"Quem trabalha atualmente nos setores que precisam ser desmantelados, reconfigurados ou reduzidos não ficará para trás. A transição justa é baseada na equidade e na justiça, reparando os danos do passado e garantindo a subsistência dos/as trabalhadores/as e das comunidades no futuro, com a necessária transição de uma economia extractivista para uma sociedade climaticamente segura, construindo poder económico e político para criar uma economia regenerativa", referem.

Apresentam, do mesmo modo, o conceito de "democracia energética", definido em três pilares, nomeadamente, garantir um setor energético baseado em fontes de energia limpas e sustentáveis, de propriedade pública, e gerido democraticamente.

Querem também cobrar a empresas e CEOs "culpados pela crise climática" uma transição que dizem necessária e os danos causados.

Além disto, exigem justiça racial e de género em todos os processos políticos de transição tal como nas comissões criadas, e querem que Portugal pague a "dívida histórica", devido à colonização, e a "dívida ecológica", devido às suas emissões.

Neste sentido, exigem também a proteção, liberdade de movimento e os direitos sociais, políticos e cívicos de todas as pessoas migrantes, a conversão de áreas de eucaliptal e pinhal abandonado em florestas e bosques com espécies autóctones e diversas em regime de policultura, a recuperação de espaços públicos, para garantir cultura, desporto e lazer acessíveis para todas as pessoas, e ainda acabar com patentes.

Por fim, exigem a instituição de uma "cidadania ativa", na qual pedem a participação de todas as pessoas nos processos de decisão, reabilitação da sociedade e construção da paz. Neste ponto em particular, propõem a participação ativa das crianças a partir dos 6 anos nas decisões sobre educação, autonomia corporal e vida familiar, tal como de outras áreas onde já têm direitos e deveres.

Terminando este retrato do Climáximo e voltando à "Declaração de Estado de Emergência Climática", o movimento declara que: "Anualmente, governos, empresas e instituições criadas para manter a aparência de paz, matam em todo o mundo, em busca de lucro, pelo menos milhares de pessoas. No momento em que vivemos, cada tentativa de aumento de emissões corresponde à tentativa, não negociável, de construir um novo campo de concentração. Cada ano que passa sem o corte de 10% das emissões globais é um ano em que milhões de pessoas morrem em campos de concentração. Cada dia em que não os travamos e destruímos as suas armas de aniquilação, é mais um dia sem paz. Há muito que eles – governos, empresas e instituições – declararam guerra às pessoas. Há muito que eles nos estão a matar. Há muito que eles demonstram não ter intenções de parar. Foram os crimes deles que nos trouxeram agora à beira de um ponto de não retorno. É o pé deles no acelerador para o inferno climático".

E garantem que "a crise climática" não é o tópico principal da agenda pública e que pretendem que passe a ser porque não querem ser "cúmplices com o genocídio e o ecocídio e a deixar os seus crimes passar em branco".

Sublinham igualmente que se vive num "estado de falsa paz social", em que as pessoas se mantêm ao serviço de responsáveis dissonantes da "realidade catastrófica" da crise climática.

Como solução pedem "rutura completa" e comprometem-se a três objetivos: aceitar que o governo e as empresas estão em guerra com a sociedade e o planeta, construir a resistência e ripostar, apesar dos riscos pessoais e organizativos que podem vir a correr, e criar a coordenação internacional que implementa a justiça climática, dentro dos prazos ditados pela ciência.