Com o tempo ameno, sem chuva, o desfile iniciou-se pouco antes das 15:00 no Largo D. Dinis, na Alta da cidade, junto ao polo I da Universidade de Coimbra, com a bandeira da mais antiga associação estudantil do país a abrir, logo seguido do Grupo de Gaiteiros da Rainha Santa e de muitos antigos estudantes.

“Venho aqui encontrar amigos e relembrar o passado, os bons tempos da Queima da Fitas e as festas estudantis”, disse à agência Lusa o médico intensivista Ricardo Freitas, um dos antigos estudantes que incorporou o desfile e que assinalou 26 anos do curso de Medicina.

O primeiro carro alegórico a desfilar pertencia ao curso de Medicina Dentária, que denunciou a falta de cadeiras para a formação dos estudantes, com uma réplica daquele instrumento de trabalho com o título “Fora de serviço”.

No meio da multidão, o presidente da Câmara, José Manuel Silva, tenta passar despercebido, mas "apanhado" pelos jornalistas salienta que “já não era sem tempo” a cidade viver uma festa como a Queima das Fitas com as pessoas sem máscara, como no cenário pré-pandemia.

“O vírus deixou se ser pandémico e tornou-se endémico, pelo temos de fazer essa transição e não vale apena andar com restrições”, disse o autarca, médico formado na Universidade de Coimbra.

Para José Manuel Silva, o “maior erro” do país foi manter a máscara a partir de setembro, quando a população tinha adquirido imunidade de grupo em resultado da alta taxa de vacinação.

O autarca apelou ao Governo para que não entregue “a medicina a matemáticos, nem a burocratas, mas sim a quem percebe de imunologia, para que a população possa voltar a ter uma vida normal”.

“Após a covid-19, esta festa é a loucura, que está a ser vivida com muita intensidade”, disse à agência Lusa a finalista de medicina Maria Rodrigues, de São Miguel, nos Açores, uma das raras pessoas que usou máscara no desfile.

Segundo a estudante açoriana, “há que ter algum sentido de responsabilidade, enquanto futura médica”.

Maria Maio e Mariana Neto terminaram o ano passado o curso de Relações Internacionais, na Faculdade de Economia, mas como não houve cortejo incorporaram-se este ano para sentir as emoções do desfile dos finalistas.

“Perdi dois anos de cortejo e como este ano voltou tudo ao normal quis viver esta experiência e posso dizer que não há nada como isto”, disse Maria Maio, de 21 anos, da Póvoa do Varzim.

A amiga Mariana Neto, de Pombal, que terminou a licenciatura em 2021, mas que antes esteve um ano a estudar em Bordéus, salientou que “é difícil explicar a Queima das Fitas aos estrangeiros”.

“Não dá para explicar por palavras”, sublinhou.

O cortejo serviu também para o curso de Farmácia lembrar o ex-presidente da Associação Académica de Coimbra, Cesário Silva, falecido a 13 de março num acidente de viação, e denunciar o consideram ser “as cunhas no setor”.

Com o desenho de uma balança desequilibrada, em que o prato da cunha era mais pesado do que o mérito, o carro de Ciências Farmacêuticas alertou para o compadrio na hora de os licenciados entrarem no mercado de trabalho.

“Há muitas cunhas na nossa área, sobretudo na indústria farmacêutica”, denunciou Mariana Fonseca, finalista de Ciências Farmacêuticas, de 23 anos, de Lamego, que considerou “muito bom” o regresso dos festejos depois de “dois anos absolutamente sem nada”.

Mesmo sem carro alegórico para se juntar, Kristie Pereira, de 24 anos, finalista do mestrado em Educação Pré-escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico, incorporou o desfile que disse “estar muito melhor”, do que noutros anos.

“Não há tanto álcool, nem tantas latas de cerveja espalhadas pelas ruas, o que diminui a poluição, e dá para nos divertirmos na mesma”, enfatizou a jovem de Miranda do Corvo.

À medida que o cortejo foi avançando, os banhos de cerveja também foram aumentando, bem como a embriaguez de alguns estudantes, numa festa que costuma ser marcada pelo exagerado consumo de cerveja, que este ano foi limitada a 1.000 latas por carro alegórico, para evitar os banhos de cevada fermentada, embora com um sucesso relativo.

O cortejo da Queima das Fitas deste ano não passou pelo coração da Baixa da cidade de Coimbra, com os carros a seguirem pela Rua da Sofia e avenida Fernão Magalhães, deixando de cumprir o percurso desde a praça 8 de maio até ao largo da Portagem, numa decisão relacionada com questões de segurança.