Os preços das casas em Portugal duplicaram desde 2015, segundo alertou o FMI. Embora este não seja um problema específico da cidade de Lisboa, como explica Marta Sequeira, curadora da exposição Habitar Lisboa, ao SAPO24, este é o "município mais afetado do país, contagiando os concelhos em redor e empurrando os habitantes para fora do centro".
Mais do que discutir as medidas da habitação anunciadas pelo governo, Marta Sequeira diz que é importante perceber "depois como é que as coisas serão realmente feitas". Esse é o foco da exposição Habitar Lisboa, que será apresentada entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024, e que procura ser "uma plataforma de discussão sobre como é que essas casas vão ser construídas, e de que maneira vão contribuir para o futuro da cidade de Lisboa".
Enquanto a exposição "não está montada", explica a curadora, preparam-se "alguns debates prévios de aquecimento", um dos quais ocorreu no mês passado, e o segundo que ocorre hoje, no CCB, "sobre o presente e o futuro do Programa Especial de Realojamento (PER)". Este programa foi desenhado com o objetivo de erradicar as barracas nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e de realojar os seus moradores em habitações municipais - tendo vindo a realojar, desde 1993, cerca de 45000 famílias.
O problema "tem vindo a ser abordado sob vários pontos de vista: político, económico, de execução... mas esta exposição tem como objetivo recentrar o problema a partir da disciplina da arquitetura", explica Marta Sequeira.
"Aquilo que pretendemos é não centrar tanto a discussão na forma como este dinheiro vai ser executado, do ponto de vista da sua distribuição e da sua aplicação política, mas que edifícios vamos construir", diz a curadora, referindo-se ao "dinheiro do PRR que aí vem" e que "serve justamente, não apenas para construção nova, mas também poderá servir para a reabilitação, ou para a melhoria da construção existente".
Olhando para os bairros, "não tanto do ponto de vista histórico, ou seja, de uma espécie de reconstituição daquilo que foi a concessão", mas "sobretudo a pensar no seu futuro", Marta Sequeira refere algumas construções onde "já se percebeu algumas falências, alguns problemas", que agora seria a altura de colmatar.
Por outro lado, porque "há que construir habitação para um número bastante elevado de pessoas num espaço de tempo muito curto", Marta Sequeira sublinha que é importante perceber como são construídos.
"A construção de uma quantidade tal de edifícios permite não só colmatar esse problema, mas também construir cidade, melhorar a cidade onde vivemos, melhorar o espaço público e as relações de vizinhança entre os edifícios que já existem neste momento", explica. "É uma oportunidade não só para as pessoas que vão passar a viver nessas casas que irão ser construídas, mas para todas as outras, para todos os lisboetas, em particular, se estivermos a falar da cidade de Lisboa".
Se vai resolver o problema da habitação? Não, "resolver é difícil", dado o "atraso em que estamos neste momento, do ponto de vista do parque habitacional público, que é uma percentagem muito pequena, demasiado pequena até por comparação com outras capitais europeias" - já Carlos Moedas dizia que, por muito que os autarcas façam, a carência habitacional "irá sempre existir", tendo em conta a movimentação das pessoas. Mas, diz Marta Sequeira, poderá pelo menos minorar o problema.
O passado, o presente e o futuro da habitação, são os três ângulos da exposição que irá, por um lado, fazer um estado da arte "da maneira como as políticas públicas da habitação têm vindo a contribuir, do ponto de vista arquitetónico, para a criação de uma série de modelos nos últimos 50 anos de democracia", e, por outro lado, revelando "a situação atual e concreta da habitação da cidade" e "um somatório de desígnios para o futuro".
Embora com foco na arquitetura, contam com a contribuição de "profissionais de diversas áreas". Formada na área, Marta Sequeira explica que "os arquitetos estão muito habituados", visto que tradicionalmente, coordenam equipas, "e essas equipas devem ser tão mais diversas quanto possível". Num problema desta ordem, acredita que é "fundamental a confluência de várias áreas disciplinares", nomeadamente economia, sociologia, geografia e paisagem, "para perceber do ponto de vista da arquitetura quais são as soluções efetivamente mais interessantes".
*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pela jornalista Ana Maria Pimentel
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