Na participação criminal, a que a agência Lusa teve hoje acesso, são visados “os autores dos cartazes com os dizeres ‘Nem Haifa, nem Boavista, fora o capital sionista’, e ‘Não queremos ser inquilinos de sionistas assassinos!’”, alegadamente empunhados na manifestação por habitação, no Porto, em 27 de janeiro.

Na queixa-crime enviada à Procuradora-Geral da República, são também visados a “Associação denominada ‘Coletivo pela Liberdade da Palestina’”, o portal de informação do Bloco de Esquerda (BE) ‘Esquerda.net’, assim como os seus responsáveis “pelo conteúdo publicado em 30 de janeiro, intitulado: ‘Capital Israelita aumenta pressão imobiliária no Porto’”.

“Quem será responsável quando acontecer um atentado terrorista contra a Comunidade Judaica do Porto, seus membros, sinagogas, museu judaico, museu do Holocausto e suas demais instituições? Num país com uma população de 10 milhões de pessoas e cerca de 5.000 judeus (0,05% do total da população), grande parte deles chegados na última década, a minoria judaica já começa a ser acusada de pôr em risco direitos fundamentais dos portugueses, como o direito à habitação”, lê-se na queixa-crime.

A CIP/CJP sustenta que, em 27 de janeiro, aproveitando uma manifestação por melhor habitação na cidade do Porto, “elementos do Coletivo pela Libertação da Palestina, com o aval desta organização exibiram cartazes com os dizeres ‘Nem Haifa, nem Boavista, fora o capital sionista’, e ‘Não queremos ser inquilinos de sionistas assassinos!’”.

“A referência à ‘Boavista’, zona onde se localiza a sinagoga Kadoorie, o coração da Comunidade Judaica do Porto, constitui um ataque direto à comunidade judaica da cidade. O mesmo já acontecera três dias depois do massacre de 07 de outubro de 2023, quando aquela sinagoga foi alvo de vandalismo, com inscrições de ‘Apartheid’ e ‘Palestina Livre’, numa tentativa concretizada de associar a maior sinagoga do país à violação de direitos humanos e não ao culto e à cultura judaica”, frisa a participação criminal.

Segundo a CIP/CJP, “a referência a senhorios ‘sionistas assassinos’ constitui um ataque direto aos membros israelitas daquela Comunidade que trabalham com imobiliário na cidade do Porto, para a qual contribuem com empreendedorismo e ideias novas”, sublinhando que “o investimento por parte de israelitas constitui uma percentagem irrisória do investimento imobiliário que se pratica na cidade” do Porto.

“Os ‘sionistas assassinos’ a que se referem os cartazes e, em socorro destes, o jornal ‘Esquerda.net’, são pessoas casadas, com filhos menores que estudam nas escolas portuguesas, e que hoje estão em perigo, na sua segurança física e no seu trabalho. Invariavelmente, como na União Soviética, foram publicados os nomes verdadeiros de pessoas a atingir, amedrontar e destruir”, acusa a Comunidade Israelita/Judaica do Porto.

A participação criminal refere que, em 30 de janeiro, “o jornal ‘Esquerda.net’ também procurou justificar aqueles cartazes com argumentos da mesma jaez e através de um exercício de identificação – nome por nome, empresa por empresa – dos investidores israelitas no imobiliário da cidade do Porto”.

“Sem nunca esclarecer que os mesmos representam uma ínfima percentagem dos investidores portuenses nessa área do mercado. Pequenos e grandes empresários, todos misturados, em grupo, num cenário de culpa coletiva, foram apresentados à população como portugueses de segunda categoria ligados à especulação, por atentarem contra o direito à habitação dos cidadãos autóctones. Até a construção de hotéis foi apresentada como imoral”, sustenta a CIP/CJP.

Numa reação enviada hoje à agência Lusa, o BE refere que “a resposta às acusações de que o artigo é alvo está contida no próprio artigo”.

“Tal como o artigo refere, a acusação de anti-semitismo tenta ‘promover a confusão entre povo judeu/religião judaica e interesses do Estado/empresas de Israel’. Sublinhamos que entre os promotores da campanha de boicote a Israel estão muitas pessoas judias, de todo o mundo”, salienta o BE.