“A White Collar Advice disponibiliza um menu de produtos e serviços que apoiam os outros a preparem-se também para tirar o máximo proveito” da passagem pela prisão. É assim que a empresa co-fundada por Justin Paperny se apresenta no seu site oficial.
O pormenor do “também” não está lá à toa. É que os consultores que trabalham nesta empresa já estiveram presos e “voltaram à sociedade fortes, com a sua dignidade intacta e com carreiras de sucesso”, explica, com orgulho, a White Collar Advice.
Justin Paperny, ex-corretor de bolsa norte-americano que esteve preso durante 18 meses por conspiração para cometer fraude, é uma dessas pessoas. E a quantidade de telefonemas que Paperny tem recebido nas últimas semanas é prova do sucesso do seu negócio.
Desde o dia 12 de março que Paperny tem sido contactado por potenciais clientes envolvidos no escândalo dos subornos para admissão em universidades de prestígio nos Estados Unidos. O caso envolve pelo menos 50 acusados, entre os quais duas atrizes de Hollywood, presidentes de empresas privadas e públicas e treinadores desportivos.
O esquema, de âmbito nacional, implicava fraudes nos exames de admissão às universidades e na admissão de estudantes a universidades de elite como supostos atletas.
Paperny disse ao Washington Post que já foi contratado por uma pessoa ligada a este caso e que vários outros acusados já o abordaram a pedir conselhos.
Quando lhe perguntam se está disponível, a resposta do consultor é “sim”, mas avisa desde logo que os custos vão ser elevados.
Ao jornal norte-americano, Paperny mostrou, a título de exemplo, uma fatura no valor de vários milhares de dólares.
A White Collar Advice - “white collar” significa “colarinho branco” e remete para os profissionais que desempenham funções de gestão e de administração, havendo hoje em dia o termo “crime de colarinho branco” para os crimes não-violentos e de motivação financeira - compromete-se a ajudar os clientes a cumprirem penas o mais curtas possível, a restabelecerem a confiança, a viverem “uma vida com significado durante o tempo na prisão”, e a voltarem “à sociedade com um caminho limpo para uma nova carreira”.
Entre os famosos que já recorreram aos serviços da consultora estão Bernie Madoff (investidor de Wall Street acusado em 2008 de fraude financeira envolvendo vários milhões de dólares), Martha Stewart (apresentadora de televisão e empresária condenada a pena de prisão por fraude) e Tim Donaghy (ex-árbitro da NBA condenado por apostar em jogos da competição em que arbitrava).
Paperny diz que as perguntas que os clientes mais fazem vão de questões tão simples como “Como é que é a utilização da casa de banho numa prisão federal?” até a temas mais complexos como a da gestão de negócios durante o tempo na prisão.
Agindo como uma espécie de consultor e terapeuta, o ex-corretor de bolsa diz que o seu sucesso com os clientes advém do facto de não lhes fazer promessas pouco realistas nem tentar minimizar os problemas que enfrentam. Pelo contrário, Paperny avança que, tendo passado pela sua situação, tem o tato para falar numa linguagem que compreendem e tenta que eles próprios enfretem o estigma da condenação e admitam os crimes que cometeram para que assim suavizem as suas penas.
Questionado sobre o que é que diria às figuras envolvidas no escândalo das universidades, Paperny respondeu ao Washington Post: “Diria que as percebo, que não tenho dúvidas de que provavelmente tinham boas intenções e que fica claro que não pensaram nas consequências dos seus comportamentos“. “Em vez de tornarem tudo pior, podem tomar as rédeas da situação", acrescentou.
A indústria da consultoria sobre a vida nas prisões não está regulada e levanta alguns dilemas éticos.
Ao Washington Post, Robert M. Franklin, professor de liderança moral na Emory University, afirma que este é ao mesmo tempo "um fenómeno fascinante e perturbador". O sistema "parece preservar e transferir as desigualdades de oportunidade do mundo cá fora para dentro da prisão, um espaço destinado a nivelar o estatuto". "As perspetivas de futuro deviam ser definidas pelo remorso, pelo trabalho e pelo mérito, e não pelo dinheiro", diz o professor universitário.
Mas Paperny contraria esta visão. O consultor diz que o objetivo da empresa não é dar uma vantagem injusta a pessoas privilegiadas, mas sim apresentar às instâncias governamentais uma "história diferente" daquela que os procuradores ouvem habitualmente.
"O meu objetivo é que o juiz e as outras pessoas vejam que uma má decisão não deve definir a vida inteira de alguém e que o resto dessa vida deve ser tida em consideração quando é atribuída a pena", disse.
Paperny tem um canal de YouTube com mais de dois mil subscritores onde dá alguns dos conselhos que partilha com os seus clientes.
Comentários