Consultores de gestão, tecnologia de informação e outsourcing em greve? Sim, aconteceu no final do ano de 2024 em Portugal, mais concretamente na Accenture, uma das maiores consultoras mundiais. Aconteceu no final do ano, mas também já tinha acontecido em janeiro de 2024. E quais as razões para estas greves?
"A principal reivindicação é o aumento dos salários para todos os trabalhadores em 15%, com um aumento mínimo de 150 euros e o aumento do subsídio de refeição para 12 euros. Atualmente, o teto salarial dos trabalhadores da Accenture está abaixo da média salarial em Portugal e com o sucessivo aumento do custo de vida não há maneira de ter uma vida digna", começa por revelar ao SAPO24 o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), lançando críticas à empresa.
"Todos os anos tem lucros milionários, mas quando se trata de valorizar os trabalhadores não paga da forma justa que merecem. Pedimos também um suplemento de penosidade, pois este tipo de trabalho tem um grande peso no psicológico no trabalhador e que, efetivamente, causa danos irreversíveis na saúde mental", salientam.
"O teto salarial dos trabalhadores da Accenture está abaixo da média salarial em Portugal e com o sucessivo aumento do custo de vida não há maneira de ter uma vida digna"CESP
Esta não foi a primeira manifestação de insatisfação por parte dos funcionários, mas o sindicato refere que apesar deste tipo de greves a "mensagem não é suficiente".
"Tem havido grande adesão dos trabalhadores da Accenture em várias formas de luta para mostrar o descontentamento e reivindicações à empresa; sabemos que estas formas de luta têm um impacto negativo no funcionamento diário da Accenture, mas ainda assim parece que a mensagem não é suficiente. Em Junho de 2024, por exemplo, estivemos no Hotel Cascais Miragem, na conferência 'Accenture's International Utilities and Energy Conference (IUEC)', e onde estava presente a CEO da Accenture Julie Sweet, e não houve qualquer vontade, por parte da CEO ou da empresa, de reconhecer o problema. Um silêncio e um ignorar completo da denúncia pública que ali estava a acontecer", referem.
Plenários sim, mas na...rua
Críticas atrás de críticas. O sindicato não poupa nas palavras quando tem de revelar a postura da Accenture para com os trabalhadores e o próprio CESP. Há direito a estrutura sindical na empresa, mas, por exemplo, os plenários têm de ser feitos fora das instalações.
"A empresa lida muito mal com direitos consagrados na Constituição da República Portuguesa, um deles é o Direito à Atividade Sindical. Apesar de existir estrutura sindical na Accenture, os dirigentes e delegados sindicais reúnem-se em plenário, por exemplo, à porta da empresa uma vez que 'não há autorização' para estar dentro das instalações da empresa. Ou seja, enquanto trabalhadores podem entrar, mas como sindicato já não podem", dizem, salientando que até ao momento a empresa nunca se sentou à mesa com o sindicato.
"Quando foram enviadas as reivindicações à empresa, a mesma sempre se recusou em reunir connosco e negociar as exigências dos trabalhadores. A intenção da Accenture nunca foi ouvir os seus trabalhadores e reconhecer a realidade dos seus problemas, porque simplesmente o que lhes interessa é a produtividade, os lucros e os seus clientes satisfeitos".
"Os dirigentes e delegados sindicais reúnem-se em plenário, por exemplo, à porta da empresa uma vez que 'não há autorização' para estar dentro das instalações da empresa"
Quanto ao futuro, os consultores admitem voltar às ruas em manifestações.
"O CESP juntamente com a estrutura sindical da Accenture terá de voltar a reunir em plenário com os trabalhadores para planificar novas formas de luta. Se a empresa continuar a ignorar o pedido de reunião para negociações das nossas reivindicações, não haverá outra solução se não avançar para outra greve e ou outras acções de denúncia ainda este ano", concluem.
O SAPO24 entrou em contacto com a Accenture, mas a empresa não quis fazer comentários.
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