“Nós não precisamos de passos ou de caminhadas, precisamos de corridas. Estamos numa fase em que já não basta caminhar na direção certa, é preciso correr”, disse Jorge Moreira da Silva, em entrevista à agência Lusa, na 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28).
A meio da primeira semana da cimeira, que está a decorrer no Dubai, Emirados Árabes Unidos, há já alguns passos dados, como o acordo sobre a entrada em funcionamento do fundo para financiamento de 'perdas e danos' resultantes das alterações climática ou o compromisso de 50 empresas de petróleo e gás para a redução das emissões.
Apesar de os reconhecer como positivos, Jorge Moreira da Silva considera que a fase de reconhecimento de pequenos passos ou da convergência de pontos de pontos de vista já passou e que o mundo precisa de uma ação urgente para combater as alterações climáticas.
“E sabemos o que é necessário fazer”, sublinhou, referindo a necessidade de travar novas centrais a carvão, de “avançar de forma determinada” para o fim dos combustíveis fósseis e a urgência da transição energética.
A propósito da descarbonização, Jorge Moreira da Silva comparou os subsídios públicos atribuídos à industria dos combustíveis fósseis (cerca de sete biliões de dólares, por ano) às necessidades de financiamento da ação climática (cerca de seis biliões de dólares), para argumentar que as prioridades parecem continuar invertidas.
Por outro lado, e referindo metas concretas, afirmou que, até 2030, os países deveriam ser capazes de, pelo menos, triplicar a penetração de energias renováveis, duplicar os esforços na eficiência energética e multiplicar por 18 a penetração de veículos elétricos, para cumprir os objetivos do Acordo de Paris.
“Tudo o que seja menos do que isto não é suficiente”, defendeu o responsável das Nações Unidas, que considera que nenhum país no mundo tem feito tudo o que está ao seu alcance para liderar na descarbonização.
Portugal não é exceção, acrescentou, apesar de reconhecer que, ao longo das últimas duas décadas e com vários governos, o país assumiu, de forma sistemática, o tema das alterações climáticas como prioridade.
“No essencial, a trajetória não mudou. O objetivo era posicionar Portugal na linha da frente da descarbonização, do combate às alterações climáticas e da promoção da energia verde e julgo (…) que isso é uma vantagem comparativa”, afirmou Jorge Moreira da Silva, que foi responsável pela pasta do ambiente entre 2013 e 2015, no governo de Passos Coelho.
“Mas é essencial que não exista qualquer tipo de complacência”, ressalvou, argumentando que, apesar de haver um avanço em relação a outros, possível por uma convergência entre sucessivos executivos sobre o tema, isso não é suficiente.
“É muito importante que aqueles países que foram avançando possam avançar ainda mais, porque a caminhada de combate às alterações climáticas é muito mais exigente do que o caminho que foi feito até agora”, insistiu.
Mariana Caeiro, enviada da agência Lusa à COP28.
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