“Na semana 44 [entre 1 a 7 de novembro], 10 países da União Europeia e Espaço Económico Europeu – Bélgica, Bulgária, Croácia, República Checa, Estónia, Grécia, Hungria, Países Baixos, Polónia e Eslovénia – foram classificados como altamente preocupantes, 13 países – Áustria, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Islândia, Irlanda, Letónia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Noruega, Roménia e Eslováquia – como muito preocupantes e três países – Chipre, França e Portugal – como moderadamente preocupantes”, diz em entrevista por escrito à agência Lusa, em Bruxelas, Ole Heuer, do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças.
A estes acrescem “quatro países – Itália, Malta, Espanha e Suécia – como pouco preocupantes”, acrescenta o responsável pelo departamento de doenças contagiosas e epidemias do ECDC.
Segundo Ole Heuer, nesta primeira semana do mês (sobre a qual o centro europeu tem os dados mais recentes), o “nível de preocupação para a UE/EEE em geral é muito elevado, de 8,3 em 10”, numa avaliação que tem em conta as taxas de positividade dos testes realizados e de notificação de casos, bem como indicadores de gravidade (casos entre pessoas com 65 anos de idade ou mais e admissões ou taxas de ocupação ou de morte em hospitais ou unidades de cuidados intensivos).
“No final da semana 44, a situação epidemiológica global na UE/EEE caracterizou-se por uma elevada taxa global de notificação de casos e em rápido aumento e uma taxa de mortalidade baixa, mas em lenta subida”, assinala o especialista do ECDC à Lusa.
“Prevê-se que as taxas de notificação de casos, as taxas de mortalidade e de internamento em hospitais e unidades de cuidados intensivos aumentem durante as próximas duas semanas”, antecipa.
Ole Heuer precisa que “as taxas de notificação de casos são atualmente mais elevadas entre os grupos etários com menos de 50 anos, mas as taxas de notificação entre os grupos etários mais velhos também estão a aumentar rapidamente”.
E apesar de ressalvar que “o quadro varia consideravelmente de país para país”, o responsável adianta que “o aumento das taxas de notificação de casos e uma situação epidemiológica global de grande ou muito preocupante são agora observados na maioria dos Estados-membros da UE/EEE”.
Em média, na primeira semana deste mês, a taxa global de notificação de casos de covid-19 para a UE/EEE foi de 383,9 por 100 mil habitantes (o que compara com 316,4 na semana anterior), sendo que estes números têm vindo a aumentar há cinco semanas.
Por seu lado, a taxa de mortalidade a 14 dias por infeção SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, estava nesta semana em 35,5 mortes por milhão de habitantes, em comparação com 32,3 mortes na semana anterior, também a aumentar há cinco semanas.
Numa altura em que 76,5% dos adultos na UE estão totalmente vacinados, Ole Heuer explica à Lusa que este ressurgimento se deve ao “relaxamento de intervenções não-farmacêuticas”, isto é, ao levantamento de medidas restritivas como distanciamento físico, uso de máscaras, redução da lotação em eventos/encontros de interior e de aposta no teletrabalho.
“Embora as vacinas sejam muito eficazes na prevenção de doenças e mortes graves, as pessoas vacinadas podem ser infetadas e transmitir a covid-19, embora em menor grau do que os indivíduos não vacinados”, lembra o especialista.
Ole Heuer salvaguarda que as vacinas têm sim “desempenhado um papel importante” ao “protegerem as pessoas de ficarem gravemente doentes e de morrerem de covid-19”, dada a eficácia superior a 80% contra doença grave.
Portugal e países com elevada vacinação com “pressão gerível” nos hospitais
“Os países ou regiões com níveis de cobertura vacinal na população total acima do nível médio atual da UE, e particularmente aqueles com os níveis mais elevados de cobertura, podem ter uma pressão gerível de internamentos e mortes” por covid-19, afirma o responsável pelo departamento de doenças contagiosas e epidemias do ECDC.
Isto “a menos que haja uma forte diminuição da imunidade seis meses após a vacinação e/ou a sua população tenha uma imunidade natural baixa”, salvaguarda o responsável.
A UE enfrenta atualmente um elevado ressurgimento das infeções por SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, com os internamentos, as entradas nos cuidados intensivos e o número de mortes também a aumentar, situação causada pela dominância da variante Delta (mais contagiosa) e pela descida das temperaturas, mais propícia a doenças respiratórias.
Por essa razão, Ole Heuer argumenta que mesmo estes países com elevada vacinação deviam “manter ou reintroduzir medidas como a limitação da dimensão dos eventos e reuniões, a promoção do teletrabalho, o uso de máscaras faciais em espaços partilhados e o distanciamento físico, uma vez que as pessoas vacinadas ainda podem ser infetadas e transmitir mais ainda o SARS-CoV-2”.
Dados do ECDC revelam que, até ao momento, 76,5% da população adulta na UE está totalmente vacinada, enquanto mais de 81% tomou apenas a primeira dose.
Isto equivale a 279 milhões de pessoas com o esquema de vacinação completo e 297 milhões com pelo menos uma dose administrada, segundo a página na internet do ECDC referente à vacinação na UE e que tem por base dados dos Estados-membros.
Por países, existem grandes discrepâncias nas taxas, entre os 28,6% de vacinação total de adultos na Bulgária e 92,6% na Irlanda.
Além da Bulgária, também a Roménia regista uma taxa de 42,8%, a segunda pior da UE, com os restantes países a superarem os 50%, ainda assim.
Relativamente aos países com níveis mais altos de população adulta totalmente vacinada, são, além da Irlanda, Portugal (91,9%) e Malta (91,8%), ainda segundo os dados do ECDC.
Ole Heuer diz à Lusa que os países com menor vacinação “continuam a ser os mais severamente afetados” pelo ressurgimento do vírus.
Questionado sobre as razões que justificam estes níveis tão baixos, principalmente na Europa central e de leste, o especialista aponta que “muitos países identificaram desafios em torno da desconfiança, desinformação e baixa perceção do risco, especialmente nos jovens, como alguns dos principais motores da baixa vacinação em diferentes grupos populacionais”.
Ole Heuer adianta, por isso, que os “esforços incansáveis para aumentar as taxas de cobertura vacinal em toda a UE/EEE [União Europeia e Espaço Económico Europeu] são da maior importância”.
“Em paralelo, deve ser considerada a administração de uma dose adicional de vacina a pessoas que possam ter uma resposta limitada ao ciclo primário de vacinação anticovid-19, tais como indivíduos imunodeprimidos”, e ainda “doses de reforço para grupos populacionais que apresentem sinais de diminuição da imunidade, como indivíduos mais velhos e frágeis, em particular os que vivem em ambientes fechados”, sugere o especialista.
Criado em 2005, o ECDC é uma agência europeia de aconselhamento aos países para reforço da capacidade de defesa da Europa contra as doenças infecciosas.
***Ana Matos Neves, da agência Lusa
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