“A doença tornou-se incontrolável (…). Já não é só a capacidade do Hospital de Penafiel que está em causa. É dos hospitais à volta. Na primeira vaga [da pandemia da covid-19] fizeram uma cerca sanitária a Ovar numa situação muito semelhante à que se está a passar no Tâmega e Sousa. Agora decidiram de outra forma por razões que nos parecem meramente políticas. É necessária uma intervenção mais musculada”, referiu João Paulo Carvalho, em declarações à Lusa.
Questionado pela Lusa, o CHTS disse continuar “sob pressão”, dando conta de 197 doentes internados, dos quais 10 em cuidados intensivos.
O presidente da secção regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros mostrou-se preocupado com os números e relatos que lhe têm feito chegar do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa (CHTS), unidade que junta os hospitais de Penafiel e o de Amarante, e que chegou a registar na semana passada 10% dos internamentos covid-19 a nível nacional.
“Quando enviam doentes [do CHTS] para o Santa Maria [em Lisboa] está tudo dito”, acrescentou.
O responsável disse ter recebido informações de que, “no serviço de urgência, estavam às 09:00 de hoje quatro doentes infetados com o novo coronavírus a aguardar vaga de internamento ou transferência, um número que tinha subido para 14 às 15:00”.
João Paulo Carvalho considera que as medidas impostas pelo estado de emergência “não estão a surtir efeito no Tâmega e Sousa” porque “são apenas recomendações” e “boas práticas sanitárias”.
“Não é com medidas de um estado de emergência preventivo que se controla um surto generalizado na comunidade. Um estado de emergência, pelo menos para aqueles concelhos, tem de ser reativo”, referiu.
O presidente da secção Norte da OE apontou o dedo à capacidade de comunicação da Direção-Geral da Saúde (DGS), considerando que “não está a ser eficaz”.
“As pessoas já não acreditam na sua diretora-geral. Não acreditando, não aderem, não acreditam, não se preocupam”, referiu.
O centro hospitalar que dá apoio à região do Tâmega e Sousa tem sido alvo de preocupações devido ao aumento de casos de infeção pelo novo coronavírus.
Na terça-feira, este hospital registava 235 internados, dos quais 11 em cuidados intensivos.
Hoje, dados remetidos à Lusa por fonte do CHTS apontam para 197 doentes internados, dos quais 10 em cuidados intensivos.
“Continuamos sob pressão”, disse a fonte daquele centro hospitalar.
Na sexta-feira, em conferência de imprensa no Porto, a ministra da saúde, Marta Temido, admitiu que o “hospital de Penafiel está numa área que geograficamente está no centro do furacão neste momento”.
“Nenhuma unidade do Serviço Nacional de Saúde [SNS] está livre de sofrer uma pressão (…). Foram assumidos compromissos e não faltarão meios para resolver as necessidades assistenciais imediatamente”, disse.
Na sexta-feira, o CHTS acolhia 163 doentes covid-19 internados, oito dos quais em intensivos.
“O que nos parece é que os números melhores poderão ter sido conseguidos de forma algo artificial se assim ao fosse não estávamos com números iguais outra vez. O hospital continua pressionado”, analisou João Paulo Carvalho.
Vários hospitais confirmaram ter acolhido doentes do CHTS, nomeadamente o Hospital das Forças Armadas (HFA) no Porto que na semana passada revelou que recebeu 10 doentes “na sequência de um pedido do Hospital de Penafiel”, bem como 20 de Amarante.
Já o Hospital Fernando Pessoa, uma unidade privada de Gondomar, acolhia também na mesma data (sexta-feira, 06 de novembro), 20 doentes provenientes do CHTS, de acordo com fonte da Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-N).
O Hospital CUF Porto confirmou ter acolhido quatro doentes provenientes de Penafiel, enquanto o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho revelou, na semana passada, estar a preparar 20 camas para acolher doentes covid-19 provenientes do CHTS.
Na segunda-feira, o Hospital de São João, no Porto, precisou à Lusa que tinha internados 29 doentes covid-19 positivos do CHTS.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,26 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 3.021 em Portugal.
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