À margem da manifestação convocada pela CGTP, que hoje junta em Lisboa milhares de pessoas, Jerónimo de Sousa foi questionado pelos jornalistas sobre aquilo que irá defender junto do primeiro-ministro, António Costa, que recebe para a semana os partidos com representação parlamentar sobre a situação epidemiológica em Portugal.

“A melhor experiência que tivemos foi a aplicação das vacinas. É este o caminho, continuar a aprofundar essa garantia que resultou bem e, naturalmente, resistimos, temos profundas reservas em relação a confinamentos, voltar para trás”, respondeu.

Para o líder comunista, “o caminho é vacinação mais rápida não só para os mais velhos, também para os mais jovens” e “tomar medidas de reforço do SNS que deem resposta aos problemas” nos serviços públicos de saúde.

“E cada um de nós, com sentido de responsabilidade, tomarmos medidas de proteção que entendermos necessárias”, acrescentou.

O objetivo, para Jerónimo de Sousa, deve passar por estas apostas e não por “medidas desgarradas, muitas vezes incompreensíveis de confinamento”.

Portugal regista hoje 2.333 novos casos confirmados de infeção com o coronavírus SARS-CoV-2, com dez mortes associadas à covid-19 e um aumento de internamentos em enfermaria e em cuidados intensivos, segundo dados oficiais.

De acordo com o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) divulgado hoje, estão agora internadas 544 pessoas, mais 16 do que na sexta-feira, das quais 88 em unidades de cuidados intensivos, mais nove do que nas últimas 24 horas.

O primeiro-ministro, António Costa, recebe na terça e quarta-feira os partidos com representação parlamentar sobre a situação epidemiológica em Portugal, antes de o Governo aprovar medidas contra a covid-19, o que poderá acontecer no Conselho de Ministros de quinta-feira.

Este calendário, que ainda não foi oficialmente comunicado pelo executivo, ficou praticamente fechado após a reunião de sexta-feira à tarde entre especialistas e responsáveis políticos, no Infarmed, em Lisboa, num momento em que o país regista um crescimento das taxas de incidência e de transmissão (Rt) da covid-19.

No final da reunião do Infarmed, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa - ladeado pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e pelo primeiro-ministro, António Costa - afirmou que continua a haver "conjugação total dos órgãos de poder político" na resposta à covid-19, mas escusou-se a falar de medidas, remetendo essa decisão para o Governo, após consulta aos partidos.

Quanto às medidas a adotar, o chefe de Estado disse que "os especialistas apresentaram o que consideravam indispensável para esta fase" e que "a decisão sobre essa matéria pertencerá naturalmente ao Governo", que "vai ouvir os partidos políticos e vai decidir".

Governo estava a pensar na maioria absoluta e por isso não cedeu

O secretário-geral do PCP acusou hoje o Governo de teimosia e de não ter cedido nas negociações orçamentais por já estar a pensar na maioria absoluta, considerando que o executivo devia olhar para a manifestação da CGTP.

O líder comunista Jerónimo de Sousa esteve hoje presente na manifestação da CGTP que juntou milhares de pessoas em Lisboa, tendo sido questionado pelos jornalistas se esta concentração devia ser vista como um “cartão amarelo” ao primeiro-ministro, António Costa.

“Não fazemos isto a pensar no primeiro-ministro. Fazemos por uma necessidade objetiva para a vida das pessoas, para a vida dos trabalhadores. Ninguém consegue explicar porque é que não é possível valorizar devidamente os salários, tanto o salário mínimo nacional, como mesmo o salário médio”, vincou.

Para Jerónimo de Sousa, o Governo “deveria olhar para esta Avenida [da Liberdade], para estas pessoas, para estes trabalhadores que lutam tanto por um direito de uma vida mais digna”.

Sobre a questão do salário mínimo nacional, que esteve à mesa nas negociações do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) - que acabou chumbado, dando assim origem a uma crise política – o líder comunista concordou que este foi um dos “elementos de rutura” em relação aos quais o Governo não cedeu porque “já estava a pensar com certeza na maioria absoluta”.

“Nós procurámos apresentar uma proposta, como é sabido, de mais de 800 euros, mas admitimos até, num processo de diálogo, aplicar os 755 euros num quadro evolutivo para 2022. Infelizmente o Governo não saiu e fez finca pé dos 705 euros, que fica muito aquém daquilo que objetivamente é necessário fazer de valorização particularmente do salário mínimo nacional”, referiu.

Outros temas que levaram à rutura entre PCP e PS foi, de acordo com Jerónimo de Sousa, a necessidade de “salvar o SNS” e a caducidade da contratação coletiva.

“O Governo teimou e não explicou porque é que não pode alterar esta malfeitoria”, condenou.

(Artigo atualizado às 17:55)