“Acho que Trump está a provar que alguém da sua idade e relativamente saudável pode recuperar definitivamente”, afirmou à Lusa Francisco Semião, que trabalha em regulamentação e assuntos governamentais no sistema da saúde em Washington.
“É uma coisa que infelizmente – e é muito infeliz – que os ‘media’ não relatam. [Os ‘media’] relatam quando há novos casos, mas não especificam se os casos são de pessoas assintomáticas ou de doentes graves, a morrer nos hospitais. Sempre que há um aumento de casos, fazem crer que as pessoas estão internadas nos hospitais e muito doentes”, acrescentou o luso-americano.
Francisco Semião explicou que “o visual e a ótica são muito importantes” e há várias formas diferentes de como estão a ser percebidas nos EUA as mensagens de vídeo e as declarações de Donald Trump, depois de ter sido infetado com o novo coronavírus e ter estado num hospital militar, tendo regressado à Casa Branca na segunda-feira.
Para as pessoas que não gostam de Donald Trump, o Presidente está a mostrar desprezo e arrogância pela gravidade do problema e “as suas atitudes podem influenciar pessoas a não levar a doença a sério”, considerou Semião.
Por outro lado, aqueles que concordam com Trump dizem que “é uma pessoa de alto risco que está a mostrar que as pessoas infetadas com este vírus têm uma grande taxa de sobrevivência se forem diagnosticadas e tratadas rapidamente”.
O especialista em gestão de saúde pública não defende “de maneira nenhuma” a forma como Donald Trump se relaciona com os equipamentos de proteção defendidos pelos profissionais, especialmente a máscara, objeto que Trump desvaloriza e às vezes não usa.
Francisco Semião salientou que o Presidente norte-americano “tem uma personalidade adequada para aquilo que fazia antes de ser Presidente” (empresário), o que significa que “é excessivamente otimista e tende a exagerar às vezes, e é com isso que é atacado”.
Na visão do luso-americano, “a mensagem de Trump é que as pessoas não têm de estar com medo do vírus, porque pode ser vencido”.
“Eu, como estou na área da saúde, não diria isso, eu diria que as pessoas têm de levar o vírus muito, muito a sério, mas ao mesmo tempo, que saibam que se realmente tiverem alguma coisa, temos um sistema de cuidados de saúde com condições excelentes e que os hospitais agora sabem exatamente como tratar”, declarou Semião.
O luso-americano acrescentou que a opinião pública nos EUA depende das cadeias de televisão e dos órgãos de comunicação que seguem: “Depende das notícias que as pessoas veem, como se deixam influenciar ou se fazem as suas próprias pesquisas”.
As duas grandes perspetivas opostas são de que, por um lado, um homem com excesso de peso, com mais de 70 anos, está a sair são e salvo dos tratamentos, por outro lado é que tudo o que Trump passou nos últimos dias foi fruto da irresponsabilidade e da pouca seriedade do Presidente.
“Em relação à campanha para a eleição, pode contar-se que, não importa o quê, o Presidente tem a sua base de apoio. Onde tem mesmo de focar-se, para ganhar a eleição, é nas pessoas indecisas e nos independentes”, afirmou Semião.
O especialista, com um mestrado em saúde pública pela Universidade George Washington, lembrou que as pessoas que inspiram mais cuidados e têm de ter mais atenção são as mais velhas, com outras comorbidades e com um sistema imunitário mais fraco.
“As pessoas em redor têm de ser muito respeitosas e tomar todas as precauções” e ao mesmo tempo, têm de reconhecer que podem ser assintomáticas e estar a transportar o vírus, pondo em perigo os amigos e familiares, mesmo sem saberem, sublinhou.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de um milhão e quarenta e cinco mil mortos e mais de 35,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Os Estados Unidos são o país com mais mortos (210.196) e também com mais casos de infeção confirmados (mais de 7,4 milhões).
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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