Mais de um milhão de alunos dos 1.º aos 12.º anos regressam esta semana às escolas e a OPP alerta que poderá haver um agravamento de situações como o insucesso ou abandono escolar.
“As escolas devem reforçar as estruturas e recursos que dão resposta aos problemas educativos, de saúde psicológica e de inclusão mais frequentes”, defende a OPP, num documento sobre o regresso às aulas que realizou em conjunto com a UNICEF.
Entre os problemas, a OPP aponta os casos de absentismo, abandono escolar, problemas de aprendizagem, mas também dificuldades emocionais, relacionais, motivacionais e de ajustamento.
Esta semana mais de um milhão de alunos retoma o ensino presencial, que foi suspenso em março do ano passado devido à evolução da pandemia de covid-19.
Depois de meio ano em casa, a OPP alerta ainda para eventuais dificuldades de atenção e concentração, assim como para problemas de comportamento e indisciplina, discriminação, exclusão social e estigma.
Muitos destes problemas que já existiam “serão potencialmente agravados ou acentuados pela situação de pandemia e crise económica e social” adverte a OPP, referindo que as escolas devem proporcionar “vias rápidas” para a procura de ajuda.
Por exemplo, os serviços de psicologia devem ter um local onde todos os alunos possam, espontaneamente, aparecer, sozinhos ou acompanhados, para falar com um adulto, refere o documento.
As escolas também devem estar atentas para os casos de alunos cujas famílias foram afetadas financeiramente pela pandemia sendo obrigados a uma rutura com o seu estilo de vida anterior, assim como a casos em que os alunos estiveram expostos a abuso e negligência.
A OPP sugere a criação de grupos de trabalho para planear e avaliar as políticas e práticas de saúde escolar, nomeadamente a saúde psicológica, e o reforço de programas ou projetos que apostem na proteção e inclusão de todos os alunos.
“As escolas devem integrar, intencionalmente, nos currículos, a promoção de competências sociais, emocionais e de saúde psicológica”, recomendam também os psicólogos no documento intitulado "Regressar à escola em tempo de pandemia: Recomendações para pais, cuidadores, diretores e professores”.
No geral, as escolas devem recolher informação de forma regular e sistemática, que permita monitorizar a saúde psicológica de toda a população escolar.
A Ordem dos Psicólogos lembra ainda que também os professores e funcionários “podem estar a experienciar stresse ou situações de perda” financeira, pessoal, social, física e por isso não podem ser esquecidos.
“As expectativas de cumprimento das novas regras e rotinas devem ser ensinadas e reensinadas, evitando abordagens punitivas, sobretudo quando se trata de gerir a necessidade de distanciamento físico”.
Sobre os objetivos académicos e curriculares, os psicólogos defendem que “continua a ser uma meta importante” mas lembra que os alunos poderão não estar preparados para se envolverem em atividades de aprendizagem formal “até se sentirem fisicamente e psicologicamente seguros”.
A OPP sublinha que conseguir esse sentimento de segurança e bem-estar “pode levar semanas ou até meses, dependendo da evolução do contexto comunitário da escola e dos contextos individuais”.
Os psicólogos lembram ainda aos docentes que é possível que encontrem alguma regressão académica, emocional e social das crianças e jovens e que não se podem esquecer do impacto negativo do novo ambiente escolar, que tem agora menos interações sociais.
“Os professores devem evitar assumir que determinados comportamentos inadequados representam necessariamente desobediência ou comportamento insubordinado”, alerta a OPP, explicando que é natural que os alunos cheguem às escolas “sedentos de comunicar e interagir com os pares e os professores”.
Nesse sentido, será necessário ajudar a reconhecer que todos precisam de tempo para processar o período de regresso à escola.
Outra das recomendações é para que os alunos sejam chamados a ajudar a definir as regras e boas práticas de convivência assim como a planear o novo ano letivo.
“Ajudar a pensar sobre formas criativas de conviver e expressar afetos, mantendo os comportamentos de proteção” é uma das sugestões dos psicólogos, que reforça a ideia de que é preciso estar atento aos sinais de alerta relativos à saúde psicológica.
O uso de máscara dentro da sala de aula torna dificulta no momento de perceber as emoções e de conseguir acompanhar o discurso. “Este impacto poderá ser substancialmente mais significativo em alunos com dificuldades de aprendizagem, dificuldades auditivas ou outras perturbações do desenvolvimento”.
Nas escolas onde, por falta de alternativa, aumentaram o tempo de aulas e diminuíram os tempos de intervalo há mais probabilidades de os alunos ficarem desmotivados ou desconcentrados.
“Reconheçam que a produtividade e o envolvimento dos alunos possam não ser, inicialmente, os mesmos que tinham anteriormente. É possível que sintam que têm de conhecer novamente os seus alunos, para poder adaptar a forma como ensinam ao seu ritmo de aprendizagem, capacidade de concentração e motivação atual para a aprendizagem”, recomenda ainda a OPP.
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