O navio português Santa Cristina, um dos dois navios onde surgiu um surto de covid-19 no início do mês, voltou à pesca, apesar de ainda ter tripulantes infetados. A embarcação esteve até ao passado dia 20 de julho fundeada no Canadá em quarentena. Nessa altura, a autoridade de saúde canadiana deu autorização ao navio para abandonar o porto.
Em vez de regressar a Portugal, o armador colocou o Santa Cristina novamente a pescar, mesmo com os tripulantes infetados a bordo.
Questionado pela emissora pública canadiana, CBC, o embaixador de Portugal naquele país, João da Câmara, explica que "ainda que haja alguns casos a bordo, estão isolados, monitorizados e não precisam de cuidados específicos."
O Santa Cristina reportou os primeiros casos a 12 de julho, “mas continuou a atividade pesqueira no alto mar”, explica o gabinete do ministro do Mar em esclarecimentos enviados ao SAPO24. Dois dias depois, a Direção-Geral da Saúde “determinou e deu ordem” para o navio seguir para o porto mais próximo “e seguir as instruções das autoridades de saúde para assistência aos tripulantes.”
Foram contados cinco casos positivos, um dos quais — o capitão — foi logo retirado da embarcação e internado numa Unidade de Cuidados Intensivos canadiana. No passado dia 20, as autoridades de saúde do Canadá deram autorização para o Santa Cristina sair do Porto.
O Santa Cristina e o Princesa Santa Joana são dois dos maiores pesqueiros portugueses e pertencem ao armador José Taveira da Mota, da Empresa de Pesca de Aveiro. Ambos estavam fundeados, em quarentena, em Bay Bulls, perto de Saint John's, na Terra Nova.
O governo português foi notificado dos primeiros sintomas de covid-19 a bordo do Princesa Santa Joana a 6 de julho. O armador desvalorizou a situação, dizendo tratar-se de “sintomas gripais”, revela o gabinete de Ricardo Serrão Santos ao SAPO24. Só a 11 de julho, por indicação das autoridades de saúde portuguesas, os tripulantes tiveram assistência médica, no Canadá, após as autoridades portuguesas ordenarem que o navio se encaminhasse para junto de Saint John's devido ao agravamento da situação.
Mas pelo menos desde 25 de junho havia alarme no Princesa Santa Joana por causa de possíveis contágios de covid-19. Antes da partida de Aveiro, um dos tripulantes, indonésio, foi retirado do navio após testar positivo para a doença, nas inspeções sanitárias feitas antes de a embarcação zarpar.
Na terça-feira, a província de Newfoundland e Labrador tinha 49 casos ativos — todos em navios estrangeiros, entre os quais as duas embarcações portuguesas. Num novo boletim, divulgado esta quinta-feira, as autoridades canadianas dão conta de que um dos navios já abandonou Conception Bay, reduzindo o número de casos para 32, todos atribuídos ao Princesa Santa Joana e ao Santa Cristina.
Entretanto, a imprensa canadiana questiona Portugal sobre os dois navios, do mesmo armador, José Taveira, e o facto de não terem as tripulações completamente vacinadas.
Numa conversa com a CBC, o embaixador de Portugal naquele país diz que, tal como ali, em Portugal não há uma estratégia para vacinar especificamente quem viaja.
“Acho que não há nenhum país no mundo com uma política dessas”, defende João da Câmara.
Uma fonte oficial do grupo de trabalho que coordena a vacinação em Portugal explicou ao SAPO24 que não há de facto uma prioridade para os tripulantes — mas salienta que já estão a ser vacinadas as faixas a partir dos 23, pelo que a maioria destes tripulantes já deveria ter acesso à vacinação.
O SAPO24 já tentou falar com o armador, mas a Empresa de Pesca de Aveiro diz que não fará declarações sobre o assunto. Mesmo presencialmente, ninguém estava disponível na empresa para falar com os jornalistas.
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