Os estudos revelam “uma relação estatisticamente significativa entre os efeitos da crise económica no dia-a-dia e a perceção de felicidade”, adiantou a investigadora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), que falava à Lusa a propósito do Dia Internacional da Felicidade (20 de março).
Segundo Ana Roque Dantas, as implicações da crise sobre a felicidade devem-se aos seus efeitos diretos sobre as condições de vida, como quebra de rendimentos, desemprego, perda de casa, mas também aos seus efeitos sobre as perceções e expectativas face ao futuro.
“Sabemos que as pessoas são avessas à perda e não gostam de incerteza”, sublinhou a autora da tese de doutoramento “A felicidade enquanto recurso emocional socialmente desigual: para uma abordagem sociológica do sentir”.
Os valores médios de felicidade verificados em 2012 – e que são os mais baixos da década – reforçam a ideia de que “a crise económico-financeira influencia negativamente a perceção de felicidade”.
Estudos apontam que as características do meio social, como a riqueza do país, a qualidade e estabilidade da economia, e as características políticas, como a democracia, a liberdade, a paz ou a participação política, estão associadas à perceção de felicidade, assim como as desigualdades sociais que influenciam negativamente esta perceção.
Ao nível das condições de vida, destaca-se a importância da posição social, das condições profissionais e da qualidade das relações íntimas.
Já a nível individual, realça-se a importância da personalidade, dos estilos de vida, mas também as convicções e motivações.
Assim, “a felicidade depende da perceção”, mas também “da forma como nos sentimos”, que é influenciada pelas condições, circunstâncias e conduta de vida”.
Nos últimos anos, aumentou a produção de indicadores estatísticos sobre felicidade, que em Portugal é realizada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
“Sabemos por isso que Portugal reporta dos níveis mais baixos do conjunto dos países da OCDE quanto a satisfação com a vida”, disse Ana Roque Dantas.
Apesar dos resultados remeteram para a importância socialmente transversal da felicidade, a investigadora disse que “a expressão de felicidade” fica marcada por um conjunto de atributos socialmente diferenciados: “os mais velhos que detêm menores recursos sociais e educativos são os que percecionam maior infelicidade”.
“A felicidade em Portugal decresce com o aumento da idade e os mais velhos reportam menor felicidade média do que em qualquer outro ciclo de vida”, sublinhou.
A perceção de felicidade está também relacionada com “a desigual repartição de recursos que penaliza os socialmente mais frágeis”.
Ana Roque Dantas salientou os “vários os esforços” que têm sido feitos para “reconhecer a importância da felicidade”, um dos quais foi a decisão das Nações Unidas de criar o Dia Internacional de Felicidade.
Para a investigadora, a avaliação da felicidade deve constituir um indicador do funcionamento geral da sociedade, apoiando “a tomada de decisão, e permitindo tanto o planeamento como a avaliação do impacto de medidas públicas sobre a forma como as pessoas percecionam a sua vida”.
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