Em declarações à Lusa após a reunião da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda (BE), Bruno Candeias, membro da Mesa Nacional eleito pela moção E, afirmou que o partido continua a “evitar um balanço sério em relação àquilo que é o resultado das eleições e em relação à linha política” da direção, que acusou de “excessiva proximidade ao PS”.
O dirigente bloquista relembrou que os resultados obtidos no passado domingo foram “a pior derrota dos últimos 20 anos do Bloco de Esquerda”, em que, além da perda de mandatos, o seu partido também não conseguiu alcançar nenhum dos três objetivos que tinha identificado: manter-se como terceira força política a nível nacional, impedir uma maioria absoluta do PS e fazer um novo acordo com os socialistas.
Candeias defendeu que, depois do chumbo dos Orçamentos do Estado para 2021 e para 2022, o Bloco deveria ter feito uma campanha com uma afirmação do seu programa enquanto “força autónoma à esquerda e uma alternativa verdadeira à esquerda”, e não uma “campanha monocórdica” a mostrar disponibilidade para um acordo pós-eleitoral com o PS.
“Isto é uma contradição porque, se votamos contra o Orçamento do Estado, damos um primeiro passo que é um passo necessário para alterar o rumo, a linha política, e depois vamos para as eleições a dizer ‘bom, o que nós precisamos é de fazer um acordo com o PS’. Ora isto é uma contradição que o eleitorado não compreende”, indicou.
Considerando que essa análise não foi feita na reunião de hoje, Candeias reiterou que é “necessário mudar de rumo, é necessário mudar de linha política”, sob pena de manter “contradições” que considerou não favorecerem o Bloco de Esquerda.
De acordo com os críticos, “as próximas semanas vão ser de debate interno, vão-se realizar vários plenários distritais, as bases vão-se pronunciar”, sendo que, após essa auscultação, será feita uma reflexão onde não devem ser excluídos “todos os instrumentos que forem necessários utilizar, nomeadamente uma Convenção extraordinária” para reforçar a democracia interna do partido.
“Na esquerda, e no Bloco de Esquerda, nunca foi, não é e nunca será a nossa tradição pedir cabeças perante aquilo que são resultados eleitorais. O que nós exigimos é que, de facto, se alterem as políticas, a linha política que nos tem conduzido a estes maus resultados”, disse.
Abordando a reunião da Mesa Nacional de hoje, e designadamente a organização de uma Conferência Nacional, Bruno Candeias afirmou que absteve-se dessa decisão, porque a conferência em questão veio substituir uma nova reunião da Mesa Nacional que estava planeada para março e que iria culminar com o processo dos plenários distritais.
“O que nós dizemos é que deveríamos ter mantido essa Mesa Nacional para, aí sim, refletirmos sobre o balanço que foi feito pelas bases do partido, que era nesse espaço e nesse momento que deveriam ser decididos os novos passos a dar que poderiam passar por vários instrumentos estatutários de reforço da democracia interna do partido”, referiu.
A coordenadora bloquista, Catarina Martins, reconheceu hoje que o BE “não foi capaz de comunicar as razões profundas do chumbo do Orçamento do Estado (OE)”, assumindo a “derrota pesada” nas legislativas de domingo.
A Mesa Nacional do Bloco de Esquerda reuniu-se hoje para analisar os resultados eleitorais das legislativas de domingo, tendo no final deste encontro Catarina Martins afirmado aos jornalistas que o partido que lidera “teve uma derrota eleitoral pesada” e que o órgão máximo bloquista entre convenções esteve “a analisar as causas desse caminho” e o que deve fazer agora.
“O Bloco de Esquerda reconhece que não foi capaz de comunicar as razões profundas do chumbo do Orçamento do Estado”, assumiu.
A estratégia do BE nas legislativas de “estender a mão ao PS para fazer acordos” em vez de se apresentar como alternativa foi criticada, em declarações à Lusa, pelo histórico da UDP Mário Tomé, que pediu um “balanço sério” sobre esta pesada derrota.
Na mesma linha, os antigos deputados bloquistas Pedro Soares e Carlos Matias assinalaram que o seu partido teve uma “derrota eleitoral muito vincada” nas legislativas de domingo, que atribuem à aproximação ao PS nos últimos anos e não à bipolarização que tem sido apontada pela direção do BE.
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