“De Cuba, só posso dizer que não muda nada, embora seja um bom sinal a escolha de um novo presidente”, afirmou à agência Lusa o economista Liber Mendes Corzo, de 42 anos, neto de Adelino Mendes.
Para o antigo docente da Universidade de Havana, que vive há alguns anos em Barcelona, Espanha, a substituição de Raul Castro, irmão de Fidel, pelo civil Miguel Diaz-Canel “não vai fazer com que mudem muitas coisas em Cuba”, o único país da América Latina onde vigora um regime comunista há quase 60 anos.
O pai de Liber, Ismael Mendes Boulet, engenheiro mecânico de aeronaves e major reformado das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, é filho do marinheiro Adelino Mendes, que morreu em Havana em 1975.
A mulher de Ismael, Susana Corzo, também serviu a instituição militar, na capital da antiga colónia de Espanha, antes de se aposentar.
Natural da Lousã, distrito de Coimbra, o revolucionário Adelino Mendes foi um dos sublevados da Revolta dos Marinheiros, que afrontou o regime de Salazar em 1936, em Lisboa, tendo sido condecorado em 1979 a título póstumo por Fidel Castro Ruz, pela sua participação na Revolução Cubana, nos 20 anos da chegada ao poder dos guerrilheiros da Sierra Maestra.
Ismael Mendes entende que o novo presidente de Cuba “está preparado para ocupar esse lugar”.
Além disso, sublinhou, Miguel Diaz-Canel “não está sozinho, tem o apoio e a ajuda dos velhos combatentes, com Raul à frente, o povo e muito especialmente a juventude com novas ideias”.
“Mas não apartadas da linha da revolução socialista de Cuba”, ressalvou o filho de Adelino Mendes, português que trabalhou no Ministério do Interior após o derrube do ditador Fulgêncio Baptista, em 1959, pelos rebeldes comandados por Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos.
Ismael realçou que Fidel, falecido em 25 de novembro de 2016, com 90 anos, “sempre preparou os quadros dirigentes para darem continuidade às vitórias alcançadas”.
O ex-militar, que já visitou os familiares da Lousã por duas vezes, abordou também o estado atual das relações entre Cuba e os Estados Unidos da América.
“As relações com os Estados Unidos estavam a avançar bem, pouco a pouco, mas o novo Presidente”, Donald Trump, “não as aceita e reforçou o bloqueio ao nosso país, o que prejudica tanto os cubanos como os norte-americanos”, lamentou.
Para Ismael Mendes, “ficou claro para o povo de Cuba e o mundo que as mudanças” entre os dois países “são para melhorar e importa trabalhar muito para continuar” o processo de reaproximação entre Havana e Washington.
Adelino Mendes nasceu numa família de humildes camponeses da Serra da Lousã, integrou a Revolta dos Marinheiros e ingressou depois na Marinha Mercante.
Em 1941, em plena II Guerra Mundial, refugiou-se em Cuba e juntou-se aos comunistas do então Partido Socialista Popular, no qual já militava a costureira havanesa Maria del Cármen Boulet Rovira, com quem veio a casar e teve três filhos.
À mais velha, Arminda, deu o nome de uma vizinha da Lousã, ainda viva, por quem nutriu especial simpatia.
Ao segundo filho chamou Ismael, em homenagem ao companheiro Ismael Fernandes “Leiteiro”, morto naquele levantamento de praças e sargentos da Armada contra o regime de Salazar.
Lusitânia, a mais nova, exaltava a pátria onde sonhou regressar em 1975, ano em que morreu de ataque cardíaco, em Havana, quando planeava visitar Portugal, pela primeira vez, em pleno Processo Revolucionário em Curso (PREC).
Dos três filhos de Adelino e Maria del Cármen, Ismael é o único sobrevivente.
Os descendentes do casal repartem-se atualmente por Havana, Miami (EUA), Barcelona e ilha espanhola de Lanzarote.
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