Após uma visita de três dias à Nicarágua, que terminou no sábado, com o objetivo de avaliar a crise política e social que afeta aquele país, a delegação europeia rejeitou a tese do Presidente nicaraguense, Daniel Ortega, de que a crise no país foi desencadeada por uma tentativa de golpe.
“O governo e os seus parceiros oficiais insistem na tese que a crise foi desencadeada por um golpe violento e atos terroristas (…) Não acreditamos nessa hipótese”, disse o eurodeputado espanhol Ramón Jáuregui (Partido Socialista Operário Espanhol), que chefiou a delegação europeia formada por 11 deputados.
De acordo com os eurodeputados, a tese do golpe é “especulativa, partidária, (e) não é suportada por qualquer prova”.
A crise na Nicarágua é uma consequência da “repressão” feita por Ortega, apontou Ramón Jáuregui.
Por essa razão, a missão do Parlamento Europeu solicitou ao Governo da Nicarágua “para facilitar esse diálogo (através) de três gestos indispensáveis”: liberdade provisória para os manifestantes detidos, “cessar as limitações às liberdades e assédio dos líderes sociais” e a permissão do regresso ao país das organizações de direitos humanos.
Os eurodeputados recomendaram ainda um processo “genuíno” de diálogo e que a negociação deve incluir “a adoção de reformas eleitorais para garantir eleições confiáveis, respondendo aos padrões internacionais”.
“É a única maneira de resolver a crise e satisfazer as aspirações do povo da Nicarágua (…) para garantir que a decisão do povo é respeitada”, observou Jauregui, recordando que “a democracia tem uma regra, que é aceitar a possibilidade de derrota”.
A Nicarágua vive atualmente uma grave crise sociopolítica que começou com protestos pacíficos, em abril de 2018, contra a reforma do sistema de segurança social. As ações de protesto foram na altura duramente reprimidas pelas autoridades nicaraguenses, seguindo-se uma vaga de medidas de pressão contra as forças de oposição e a comunicação social local.
Segundo organizações humanitárias, a crise sociopolítica na Nicarágua já causou entre 325 e 561 mortos, centenas de desaparecidos, milhares de feridos e obrigou dezenas de milhares ao exílio.
Ortega, há 12 anos no poder, reconhece 199 mortos, embora o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos tenham responsabilizado o governo por “mais de 300 mortos”, assim como por execuções extrajudiciais, tortura e outros abusos contra os manifestantes e os opositores.
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