“Biden está um bocado velho. Preocupa-me um pouco”, disse à Lusa Kiara Gonzalez, que está na Convenção do Partido Democrata da Califórnia a promover a formação de um fundo para a igualdade na saúde e justiça racial, o Health Equity and Racial Justice Fund.

Gonzalez preferiria que o candidato republicano fosse o governador da Florida, Ron DeSantis, que anunciou há dias a sua corrida à nomeação no partido. Mas acredita que 2024 será similar a 2020.

“Penso que vai ser novamente Biden contra Trump e espero que Biden prevaleça porque Trump, para mim como latina e mulher ‘queer’, definitivamente não representa os meus valores”.

Para Maggie Sisco, que esteve na convenção a representar o sindicato nacional de profissionais de saúde (NUHW, na sigla inglesa) e a organização Healthy California Now, é indiferente qual será o candidato republicano.

Também não está totalmente certa de que Biden tenha a nomeação fechada, mas não por causa da idade, que “já foi uma questão” no último ciclo eleitoral.

“Não sei se vai necessariamente ter impacto na sua capacidade de governar, porque ele rodeou-se de pessoas inteligentes e parece ter mente sã neste momento”, disse a democrata. “Espero que se mantenha assim”.

O mote da convenção é “Não agonizem, organizem-se” e os delegados presentes refletem a amplitude do partido e da Califórnia, dos muito jovens aos muito seniores e com enorme diversidade étnica e religiosa.

Saúde, direitos reprodutivos, justiça racial e habitação são alguns dos temas mais fortes em discussão, num evento por onde passarão vários líderes e oficiais eleitos do partido, incluindo o governador da Califórnia, Gavin Newsom.

“É uma bela oportunidade para que pessoas com visões similares se conectem e tenham conversas produtivas sobre como manter o nosso estado na linha da frente do progresso”, disse Maggie Sisco.

Mas a democrata mostrou-se preocupada com a aprovação de leis conservadoras em estados como a Florida, Indiana ou Missouri, que “estão a limitar a educação, o acesso a cuidados de saúde e a mudar as regras laborais para pôr crianças a trabalhar”.

Sisco referiu também a proibição de livros e de espetáculos de travestis e a negação de cuidados de afirmação de género.

“É basicamente uma guerra às crianças que a ala direita está travar, porque veem os ideais progressistas da Geração Z e Millennials e não querem que isso continue”, considerou.

“Estas gerações são muito mais à esquerda e penso que os conservadores estão a ver que vão tornar-se irrelevantes se isso continuar”, disse. “É por isso que tentam limitar o acesso ao conhecimento, reduzir a capacidade de se organizarem e o acesso a cuidados de saúde”.

Estas também foram preocupações veiculadas por Kiara Gonzalez, que faz parte dessas gerações mais jovens.

“Estamos a ver o que está a acontecer com os direitos transexuais e cuidados reprodutivos, tudo isto são cuidados de saúde e estão na linha da frente”, afirmou. “Fazendo parte da comunidade ‘queer’ e vendo os meus amigos ‘trans’ a não poderem sequer usar roupas que representam quem eles são é assustador”, continuou. “Estão a tirar-lhes direitos. Do que é que as pessoas têm medo?”

É na conexão com os eleitores mais novos que Angel Ruíz, um organizador comunitário do condado de Tulare — cujo representante no congresso é o lusodescendente republicano David Valadão — enquadra as suas dúvidas relativas à recandidatura do presidente democrata.

“Biden pode estar desfasado dos mais jovens”, considerou, sublinhando que o partido tem de eleger candidatos mais novos e fazer uso de redes como TikTok e Instagram, que é onde “as pessoas vão buscar informação”.

Ruíz, ele próprio um Millennial, argumentou que o problema não é tanto a idade do atual presidente, mas a potencial falta de conexão a gerações com problemas muito modernos. Isso seria resolvido com um candidato mais novo, algo que considera possível.

“Acho que o governador Newsom pode tentar candidatar-se. Que outra razão teria para meter anúncios no Texas e na Florida?”, apontou. “Ele vai apelar aos eleitores na Califórnia e a muita gente nos Estados Unidos”.

Jevon Price, outro delegado de Tulare, disse que Biden “foi a escolha certa para o que precisámos que fizesse”, mas preferia que o país não tivesse de repetir um confronto que já viveu — e desembocou no ataque ao Capitólio de 06 de janeiro de 2021.

Price disse que o grande apelo de DeSantis era “não ser Trump”, mas o governador hipotecou as suas chances por causa da guerra contra a Disney.

Também Angel Ruíz duvida que o governador da Florida consiga ganhar as primárias republicanas e mostrou-se confiante de que se Biden for confirmado ganhará contra qualquer um dos candidatos republicanos.

Lynn Summers, delegada vinda do 50.º distrito, na zona de San Diego, deu uma visão ainda mais determinada.

“Estou muito confiante de que os democratas vão manter a Casa Branca”, afirmou, referindo que não vê mais ninguém a entrar na corrida pela nomeação democrata e as alternativas do outro lado são impossíveis.

“O problema com o GOP [partido republicano] é que é demasiado extremista, e o nosso país não é de extremistas”, afirmou.

Summers disse esperar que a idade de Biden não seja um problema e apontou para a sua própria vitalidade, aos 60 anos. “Vejo Biden como muito produtivo, muito conciso, estou confortável com a idade dele”, salientou. “A idade é apenas um número”.

Uma democrata que defende o porte de armas, tem um filho no exército e é ativa na igreja, Summers elogiou a vice-presidente Kamala Harris e vaticinou vitória em toda a linha no próximo ano: “Penso que os democratas vão recuperar a Câmara dos Representantes e conseguir uma varredura completa”.

A convenção do Partido Democrata da Califórnia decorre em Los Angeles até 28 de maio e irá homenagear a antiga líder dos democratas na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, que será uma das principais oradoras do evento.