“A longo prazo, as perspetivas de que a China ultrapasse a dimensão da economia dos Estados Unidos devem ser descartadas”, lê-se no relatório do Peterson Institute for International Economics (PIIE), com sede em Washington, segundo o qual “a China nunca ultrapassará a dimensão da economia dos EUA”.
O número de nascimentos no país asiático caiu de 17,86 milhões, em 2016, para 9,02 milhões, em 2023, uma queda superior a 50%.
“É praticamente inédito em tempos de paz”, afirmou o grupo de reflexão sobre o decréscimo no número de nascimentos na China, que foi ultrapassada, no ano passado, pela Índia, como país mais populoso do mundo.
Segundo dados oficiais, em 2023, a população chinesa diminuiu em dois milhões de pessoas, na segunda queda anual consecutiva, face à descida dos nascimentos e aumento das mortes, após o fim da estratégia ‘zero casos’ de covid-19.
O número marca o segundo ano consecutivo de contração, depois de a população ter caído 850.000 em 2022, quando se deu o primeiro declínio desde 1961.
A taxa de fertilidade total (TFT) da China é agora de cerca de 1,0.
“A China está a caminhar na direção da Coreia do Sul (com uma TFT estimada em 0,72, em 2023) e enfrenta uma queda populacional muito pior do que o Japão, que iniciou a sua transição demográfica muito mais cedo do que outros países do leste da Ásia, em meados da década de 1990”, descreveu o PIIE.
O relatório indiciou que nada sugere que a TFT da China venha a inverter-se a longo prazo e apontou para a tendência nas grandes metrópoles chinesas, incluindo Hong Kong, Pequim ou Xangai, onde aquele indicador é atualmente igual ou muito inferior a 1,0.
A queda e o envelhecimento da população estão a preocupar Pequim, à medida que privam o país de pessoas em idade ativa necessárias para manter o ímpeto económico. A crise demográfica, que chegou mais cedo do que o esperado, está já a afetar o sistema de saúde e de pensões, segundo observadores.
Mas a China acelerou o problema com a política do filho único, que reprimiu a taxa de natalidade, entre 1980 e 2015.
Este novo paradigma demográfico acarreta consequências para a posição global do país asiático: ultrapassar os Estados Unidos como a maior economia do mundo teria especial importância para Pequim, num período de crescente competição ideológica, geopolítica e tecnológica com Washington.
Até recentemente, muitos economistas davam como certo que o PIB (produto interno bruto) da China ultrapassaria o dos EUA até ao final desta década.
Seria o culminar daquela que é considerada a mais extraordinária ascensão económica de todos os tempos: de um país pobre e isolado, a China converteu-se no principal mercado do mundo para várias matérias-primas e produtos com valor acrescentado. A procura chinesa tornou-se fundamental para determinar o preço da soja, petróleo ou minério de ferro e para os resultados trimestrais das principais marcas mundiais.
O ‘think tank’ destacou as consequências da queda de nascimentos para o consumo e o setor imobiliário do país, que atravessa uma grave e prolongada crise.
“Até que ponto é credível aumentar o consumo das famílias chinesas quando o número real de consumidores está a diminuir em milhões todos os anos e o grupo de consumo mais intensivo, os recém-nascidos, está a diminuir tão rapidamente”, questionou.
“As tentativas de estabilização do mercado da habitação enfrentam igualmente graves obstáculos”, notou.
O PIIE colocou mais uma questão: “Face a esta tendência, porque é que a classe política norte-americana tem tanto medo de uma ‘China em ascensão’?”.
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